Pacientes que dependem de cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) esperam mais de quatro meses pelo atendimento. O descaso com a saúde pública, aliada à falta de investimento e a morosidade preocupam os que estão na lista de espera.
Ana Ortência Silveira, 45, moradora do bairro Boa União, em Estrela, foi diagnosticada com miomas no útero. Segundo os médicos, precisa de cirurgia para retirar o órgão. O procedimento custa R$ 3,8 mil. A família arrecadou R$ 2,1 mil. Sem todo o dinheiro para a operação, recorreu ao SUS. Em novembro ela encaminhou o pedido à Secretaria Municipal de Saúde.
As idas ao pronto-socorro se tornaram rotina. Ana sente dores na região do tórax e frequentes sangramentos. Trabalha como serviços gerais e diz que os diretores da empresa entendem o problema. “Tenho apoio dos chefes. Eles sabem da minha situação.”
Segundo laudo médico, os miomas aumentaram nos últimos três meses, de 670 centímetros cúbicos para 770. Na semana passada, procurou o Posto de Saúde Central. O médico responsável pediu brevidade à operação. Nas consultas particulares, foi informada de que há risco de as hemorragias aumentarem, atingindo outros órgãos. “Fiz todos os exames, mas quando chegam à secretaria, dizem que não há recurso para o procedimento.”
Conforme a secretária de Saúde do município, Adriane Mallmann, a demora no agendamento é resultado da troca do sistema. Segundo ela, seis mulheres estão na fila para atendimento cirúrgico.
Adriane conta que a paciente está cadastrada e aguarda agendamento, que depende da Central de Marcações.
Ministério da saúde promete verba para cirurgias
O coordenador da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Jolci Léo Bolsi diz que os hospitais foram informados do envio de verba para cirurgias do governo federal. Uma reunião será marcada com os diretores dos hospitais do Vale para determinar as cotas para cada um dos municípios que compõem a CRS.
Bolsi relata que o recurso será destinado de acordo com a população e a necessidade das secretarias municipais de Saúde. Para Lajeado serão em média 70 cirurgias a mais custeadas pelo governo.
Paciente recorre à Justiça
A lajeadense Maria Glaci Azevedo, 58, corre o risco de ter o braço esquerdo amputado devido ao rompimento dos ligamentos. A demora em conseguir uma internação de urgência para uma cirurgia pelo SUS no hospital da Ulbra, em Canoas, acarretou pedido de intervenção da Defensoria Pública do estado.
O órgão pode obrigar o estado a custear o procedimento por vídeo-cirurgia, indisponível no sistema público. Maria conta que a dor iniciou durante uma faxina no banheiro. Ao torcer o pano de chão sentiu um desconforto que se intensificou. Procurou a emergência do Hospital Bruno Born (HBB). No local, recebeu medicação e o encaminhamento para exames no posto de saúde de seu bairro.
No dia seguinte, soube que teria que aguardar pela liberação de um exame de raio X. A paciente decidiu pagar o procedimento que foi interpretado por um médico traumatologista particular. Verificada a ruptura em músculos dorsais foi aconselhada a se submeter a uma cirurgia urgente. Em 15 dias, Maria gastou mais de R$ 500 em remédios.
Sesa afirma que paciente será encaminhada
Segundo o secretário de Saúde de Lajeado (Sesa), Renato Specht, encaminhamentos de urgência à área de traumatologia devem ser realizados via HBB ou postos de saúde. A prática é proibida quando o pedido é feito por médicos particulares, como ocorreu neste caso.
Specht afirma que a secretaria cuida dos trâmites legais para que ela seja examinada em Canoas na próxima semana e, caso comprovada a urgência, realize a cirurgia no mesmo dia.
Afirma que a documentação da paciente está encaminhada e caso haja a necessidade de medicamentos ela deve levar a receita até o órgão público para recebê-los de graça.