O maior Carnaval de salão do sul do país foi cancelado. A diretoria do Clube Centro de Reservistas informou, por meio de comunicado oficial postado no Facebook, que apesar de o processo judicial estar em andamento, não haverá mais tempo hábil para a organização do evento. O baile ocorria há 35 anos, sendo o evento anual de maior tradição na cidade.
A Tentação da Folia – como era conhecida a festa – estava prevista para ocorrer dia 20. Todos os anos, reunia cerca de sete mil foliões nas dependências do clube. O principal motivo para o fim da festa foi a negação do Ministério Público (MP) à proposta de acordo apresentada pela assessoria jurídica do clube, a qual se comprometia a executar as adaptações acústicas após a realização da festa.
De acordo com a juíza Carmen Barghouti, se o Centro de Reservistas realizasse o baile na atual situação, arcaria com uma multa de R$ 5 mil, além de responder por Crime de Desobediência, podendo resultar em prisão e intervenção policial na noite da festa.
A comunidade lamenta a interdição do clube e o cancelamento do baile de Carnaval, sendo que o Centro de Reservistas é considerado patrimônio histórico pelos moradores mais antigos.
Heitor Thomas, 63, integrou a diretoria do clube de 1990 até 1997. Hoje como sócio honorário, se entristece ao ver o “grande” clube sem poder realizar uma festa. “Se o nome da nossa cidade é conhecido, grande parte se deve ao baile de Carnaval.
Assim como Thomas, muitos moradores esperam pela retomada das atividades do Centro de Reservistas. Ele acredita que o clube se reestruturará e cumprirá com as exigências do MP. “Acho que o presidente desconhecia as limitações. Não o culpo, mas brincaram com coisa séria.”
Ele não assume um lado na discussão entre os moradores – que efetuaram o abaixo-assinado pedindo adaptações acústicas no prédio – e a diretoria do clube. Para Thomas, a discussão chegou a um patamar desnecessário. Para ele, quando o problema surgiu as partes e o poder público deveriam ter se reunido e buscado uma solução conjunta, sendo a Justiça a última alternativa.
O presidente Fábio Goergen e o promotor de eventos, Luiz Heissler, o Django, não atenderam a reportagem.
Reclamações começaram em 2008
No dia 26 de maio de 2008, moradores próximos do clube reclamaram da poluição sonora provocada por eventos no local. Após, foi firmado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o clube e Ministério Público de Lajeado (MP), visando o respeito ao horário de sossego, com anuência da administração municipal. O processo foi arquivado em outubro de 2008.
Em abril de 2011, os moradores voltaram a reclamar. A investigação revelou que o clube realizou uma ampliação do prédio, construindo uma área coberta sem isolamento acústico, gerando a propagação de som superior ao permitido. No dia 24 de setembro, durante uma festa, um laudo apontou que o nível de decibéis chegava a 70, sendo que o permitido eram 45 decibéis.
No início de janeiro deste ano, a Justiça decretou que o clube não realizasse ou permitisse qualquer evento em sua sede social, antes de executar as adaptações acústicas no salão de festas e anexos. O advogado do clube, Rubiney Lenz alegou que a diretoria desconhecia a existência do TAC. Ele observou que se caso a decisão judicial for mantida, o clube encerará suas atividades, vendendo o imóvel e demais bens.
Na sexta-feira, dia 3, a assessoria jurídica do Centro de Reservistas buscou acordo com a Justiça para a realização do baile de Carnaval, a fim de angariar fundos para realizar as melhorias no prédio. O MP descartou a possibilidade de conciliação.
Desvalorização dos sócios
Conforme Thomas, o clube passa por uma dificuldade que muitos outros clubes e associações da região enfrentam – há menos pessoas interessadas em participar das atividades.
Ele observou que para suprir a falta de pessoas interessadas, é necessário oferecer mais opções de lazer. “Na nossa época já passávamos por isso. Tivemos que ganhar menos lucros para conseguir mais sócios. Vejo que hoje isso não ocorre.”
Thomas recorda que durante sua gestão foi realizado um baile de Carnaval e mais de 600 fardos de bebida foram vendidos. “As festas promovidas pelo clube sempre arrecadaram muito dinheiro. A parte financeira não seria empecilho para cumprir com as determinações judiciais. Falta um pouco de organização.”
História do Centro de Reservistas
Poucos sabem que a antiga Sociedade Centro de Reservistas foi destruída pela ação do tempo e reconstruída e reformada ao longo dos anos. O local foi sede de um dos mais organizados clubes militares de tiro do estado, o Tiro de Guerra 239, cujo funcionamento ocorreu entre os anos de 1918 a 1945, exercendo grande influência na vida militar e social da cidade.
Esquecido pela maioria, este período da história do município permanece apenas nas lembranças dos antigos moradores que vivenciaram a época ou participaram do Tiro. Após um temporal ocorrido em 1967, grande parte dos documentos do arquivo do Tiro de Guerra se perdeu com a destruição da antiga sociedade.