A chuva que atinge a região desde a quarta-feira ameniza os prejuízos ocasionados pela estiagem. Contudo, as precipitações são insuficientes para reabastecer as reservas e fontes de água, mantendo comunidades em racionamento e abastecidas por caminhão-pipa.
Conforme o engenheiro agrônomo da Emater/Ascar, Nilo Cortez, a safrinha e as plantações de milho que ainda não estão no pendão são beneficiadas se a chuva for constante. Os produtores de milho perderam R$ 66 milhões até o momento.
A soja teve perda na qualidade, mas a chuva pode reestimular o desenvolvimento das lavouras. Cortez estima que 75% da produção possa ser recuperada. O restante será compensado com o aumento do preço que será estabelecido pelo mercado devido à falta do produto. O prejuízo chega a R$ 15,5 milhões.
O problema no setor leiteiro deve amenizar, mas a redução diária de 350 litros – prejuízos de R$ 227,5 mil – permanece até a recuperação do pasto.
As chuvas diminuíram a temperatura e a umidade relativa do ar, auxiliando no bem-estar do animal. Isso, aliado às pastagens que revigorarão coma as chuvas deverá mudar o quadro no setor.
Os hortigranjeiros e os arrozeiros seguem com problemas. Não choveu o suficiente para aumentar a reserva de água, afetando os poços artesianos e o abastecimento nas comunidades.
O produtor rural no Vale do Sampaio, Leonardo Luíz Schingel pretende replantar o milho após a previsão de chuva. Segundo ele, até abril o milho poderá ser colhido. Com a estiagem, perdeu mais de 50% da produção. “De tão seco que o milho estava, até o gado recusava.” Em 2011 ele colheu 48 mil quilos, neste ano não deve passar dos 18 mil.
A área destinada para o plantio do milho é de 5 hectares e fica em Venâncio Aires, em Vila Teresinha, na divisa com Mato Leitão. O açude de Schingel ficou com a metade do volume de água e os dois arroios de Vila Teresinha voltaram a ter parte da vazão nesta sexta-feira, depois da chuva.
Em Mato Leitão foi decretada Situação de Emergência no incio do mês. Segundo relatório da Emater/Ascar, a estiagem atingiu 687 propriedades em 11 localidades. O tabaco registra problemas em 230 hectares num índice de R$ 30%, envolvendo 153 fumicultores.
As perdas no plantio de soja foram superiores a 15%. As pastagens foram seriamente atingidas e ficaram reduzidas a 50% do volume total. Apenas em Vila Teresinha, em Venâncio Aires, a administração municipal recebeu mais de 30 pedidos para escavar reservatórios de água.
O agricultor Zeno Veruck, 72, de Lajeado, está confiante com as chuvas. Desde quarta-feira, o pluviômetro na sua residência marcou 72 milímetros. Na próxima semana ele plantará a safrinha para tentar amenizar as perdas na silagem. Veruck tem uma propriedade de 11,5 hectares, onde produz hortaliças e milho e cria gado leiteiro. Estima R$ 6 mil de prejuízo.
Para o produtor Roberto Scheeren, 53, que mora nas proximidades, a realidade é diferente. Ele tem 20 hectares de terra, onde produz leite e milho para silagem. Segundo ele, a estiagem reduziu a produção e duvida que a chuva salve a produção. “No máximo ajudará um pouco no plantio da safrinha.”
Em Cruzeiro do Sul, Lúcia Klein, que plantou 3 hectares de milho para ajudar na alimentação das nove vacas leiteiras da propriedade, terá melhorias nos próximos dias. A produção caiu 70 litros diários por falta de pastagem. Essa deve se recuperar se a chuva permanecer.
Com a falta de pastagem a produção diária do agricultor Sander Paulo Niendiedt, de Roca Sales, caiu de 600 para 380 litros de leite. Na cidade a quantidade de chuva não muda o quadro.
Niendiedt estimava uma safra de milho de três mil sacas, porém, com os transtornos, a colheita será de 500 sacas. A produção de soja, que era estimada em duas mil sacas, será de apenas 900.
Pacotão ajuda nos prejuízos
Na tarde de quinta-feira, o governo federal anunciou o Pacote Seca, que repassa aos agricultores R$ 1,2 bilhão dividido em financiamento, seguro agrícola e ações de socorro. O governo do estado calcula um prejuízo de R$ 2,2 bilhões. Na região, as perdas nas lavouras ultrapassam R$ 81,7 milhões.
De forma imediata serão destinados R$ 28 milhões às comunidades afetadas do estado. Os ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, estiveram no estado nesta sexta-feira para verificar os danos.
O governo gaúcho foi autorizado a usar R$ 18 milhões, enviados pela pasta em 2011 para bancar ações de emergência contra a seca. Deste valor, R$ 10 milhões devem ser empregados para distribuir cestas básicas e água com caminhões-pipa.
O Banco do Brasil estimou que os agricultores da Região Sul solicitaram empréstimos que somam cerca de R$ 3 bilhões, mas que 80% destes recursos estão segurados.
A preocupação do governo é com os agricultores que não têm o seguro e que vivem uma dificuldade de poder concluir e manter a estabilidade da safra e contratar um novo custeio.
Principais auxílios do pacote
– R$ 18 milhões serão aplicados em medidas emergenciais, como distribuição de água, remédios e cestas básicas;
– R$ 10 milhões serão destinados para investimentos de prevenção contra a seca, como perfuração de poços artesianos e recuperação de barragens;
– indenização pelo seguro agrícola deve alcançar R$ 1 bilhão;
– para acelerar a liberação dos benefícios a União deflagrou um mutirão de técnicos para verificar os laudos;
– as dívidas das lavouras de milho, soja e feijão dos agricultores sem seguro atingidos pela seca serão prorrogadas até 31 de julho para que possam ser elaborados laudos técnicos;
– quem teve perdas na safra 2011/2012 poderá renegociar as operações de crédito por até cinco anos;
– deve ser criada uma linha de financiamento de R$ 200 milhões junto ao BNDES para as cooperativas refinanciarem as dívidas dos produtores;
– desenvolvimento de um programa voltado para a construção de açudes, miniaçudes e reservatórios de água para abastecer o consumo animal e irrigar as lavouras;
– criação do Centro de Monitoramento Móvel de Prevenção a Desastres para a Região Sul;
– será criado um programa de venda de milho para alimentação dos animais de agricultores familiares e pequenos pecuaristas dos municípios.
Previsão para a região
Sábado
Muitas nuvens ainda permanecem sobre a região, o que mantém a chance de chuva em pontos isolados. O sol também pode aparecer em alguns momentos do dia. As temperaturas seguem agradáveis no decorrer do período.
Mínima: 19ºC Máxima: 25ºC
Domingo
A tendência é de tempo mais aberto. As condições começam a melhorar e o sol aparece por períodos mais longos, mas não se descartam momentos com maior nebulosidade e até mesmo uma chuva rápida e isolada.
Mínima: 18ºC Máxima: 27ºC
Comunidades em alerta de racionamento
Em Encantado, a chuva desta quinta e sexta-feira foi insuficiente para recuperar as plantações. O município decretou Situação de Emergência nessa terça-feira. A estiagem se estende por mais de 60 dias. Cerca de dez famílias recebem água para o consumo dos animais.
Conforme o secretário da Agricultura, Sander Bertozzi, as plantações afetadas pela seca não têm mais solução, devido ao longo período de estiagem. “Os agricultores devem se animar com essa chuva para plantar de novo.”
Mesmo com a chuva, o município permanece com o transporte diário de água para abastecer as propriedades rurais, nas linhas Azevedo, Cedro, Guabiroba, São Luís, São Marcos, Barra do Coqueiro e Bairro Porto XV.
Progresso decretou Situação de Emergência em dezembro. A Secretaria de Obras atendeu de forma emergencial mais de cem propriedades rurais, realizando abertura de poços, fontes, vertentes e pequenos açudes para o consumo animal.
O coordenador de Obras, Valdir Agostini destaca que as áreas mais críticas são as localidades de Morro Azul e Morro da Maçã, onde alguns moradores não dispõem de água nem para o consumo humano. Na segunda-feira foram 32 pedidos de ajuda.
A Empresa Mineradora Campo Branco forneceu ao município cem bombonas de 20 litros, por um valor significativamente inferior ao de mercado, para amenizar os problemas de abastecimento de água potável.
A Secretaria da Agricultura atende com um caminhão-tanque que capta água de poços artesianos e leva até as propriedades rurais. Na área de produção de frangos os proprietários de aviários estão apreensivos porque não poderão alojar novos lotes caso a situação não melhore.
Nessa cidade os prejuízos ultrapassam os R$ 12 milhões. Na área agrícola grãos/cereais e similares as perdas são de 5.062,50 toneladas: fumo (1.512 mil quilos) e leite (63.310 litros/mês).