Cesáreas em alta

Notícia

Cesáreas em alta

O nascimento por cesariana deixou de ser uma opção e virou preferência entre as mulheres. Em 1992, 62% das mães pariam os filhos por parto normal, e 35% por meio de cirurgias. Hoje, os índices se invertem. Os nascimentos na região são a maioria por cesáreas, chegando a 71%.

A dor do parto, a falta de médicos plantonistas no interior e a agilidade do procedimento são alegações de médicos e mães que defendem as cirurgias. Por outro lado, o custo três vezes menor e a rapidez na recuperação fazem algumas ainda optar por partos vaginais.

cesA gestante Jaqueline Catto Müller, 28, está no quinto mês da gravidez e pretende se submeter ao parto normal. Ela aguarda uma menina: a Isabela. É sua primeira filha e está ansiosa com a hora do procedimento, consciente quanto às cólicas.

Jaqueline sabe que engordará, mas quer se manter saudável. Com orientação médica pratica exercícios físicos durante a semana, que auxiliarão na hora do parto normal.

Ela mudou sua rotina: frequenta endocrinologista (especialista que estuda as ordens do sistema endócrino e suas secreções específicas) e duas vezes por semana faz drenagem linfática nos membros inferiores.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os hospitais realizem no máximo 15% dos procedimentos por cesáreas. Em 2008, o Ministério da Saúde lançou a Campanha de Incentivo ao Parto Normal para tentar diminuir a diferença entre os procedimentos. O órgão avalia que a maioria das cesarianas é desnecessária.

No procedimento natural há envolvimento e participação da mãe. Ela pode amamentar o bebê logo depois do parto, como é o recomendado. Na cesárea, o pós-operatório retarda esse processo devido à dificuldade dela se locomover.

A cirurgia, apesar de evitada, é fundamental em alguns casos. Quando existir riscos para a mãe ou para o bebê, o parto de cesárea é decisivo. Certas doenças que, eventualmente, acontecem durante a gestação, como incompatibilidade sanguínea, diabetes ou pressão alta, podem exigir cesariana para antecipar o parto.

Em outros casos, como descolamento da placenta – quando se descola da parede uterina, impedindo que o bebê receba alimento e oxigênio, além de trazer elevado risco de hemorragia e morte da mãe – o parto cirúrgico é urgente.

Opinião dos obstetras

A favor

Para Tamir, a cesariana, com os métodos e tecnologias atuais, é mais confiável. Há nove anos recomenda o procedimento às mães. Como mora em Lajeado e trabalha em hospitais do interior, como Marques de Souza, é impossível estar de plantão aguardando os partos. Com a cesárea é possível marcar o dia e a hora do nascimento.

Confessa que mudou de opinião após presenciar situações de risco e mortes no parto. Devido a complicações nesse procedimento, pacientes podem desenvolver epilepsia, paralisia ou deficiência cerebral.

Em um dos casos teve que quebrar a clavícula do bebê para conseguir tirá-lo pela vagina. “Com a cesárea há menos riscos. Não basta tirar a criança viva, ela precisa estar bem.” O médico diz que a maioria das clínicas obstétricas é processada porque a mãe ou o bebê morreram no parto normal.

Contra

Bertóglio considera o parto normal mais seguro, tanto para a mãe quanto para o bebê. Diz que a cesariana, por mais que seja uma intervenção realizada com segurança, é uma cirurgia, por isso, pode causar complicações como: infecções, hemorragias, hematomas, lesão de órgãos, dores e aderências.

Conforme Bertóglio, na primeira consulta com o obstetra as mulheres já têm uma opinião quanto ao parto. Afirma que são raras as decisões pelos vaginais. O médico cita que as cesáreas são mais cômodas para as gestantes. O parto é realizado com hora marcada e as anestesias amenizam as dores.

Agricultora pariu três filhos sem ajuda

A agricultora Erena Alma Kohlrausch, 103, de Picada May, interior de Marques de Souza, teve três filhos: todos de parto normal e quase sem ajuda de terceiros.

Com 24 anos se casou e um ano depois teve a primeira criança. Ela fez o parto e cortou o cordão umbilical. O segundo filho nasceu com ajuda de uma vizinha. No terceiro parto, o médico não estava na hora marcada. Ela, de novo, fez o parto sozinha.

Segundo ela, há 80 anos as mulheres ficavam de cama por nove dias sem poder se mexer e 40 dias sem tomar banho depois do parto. A superstição dizia que se a mãe sentisse dores neste período, o sofrimento seria para o resto da vida. Para a recuperação era usado chá de arruda. A cesariana ocorria só em últimos casos.

A mulher do neto de Erena, Mirtes Venter, 46, teve quatro filhos. Três meninas por parto normal e um menino por cesariana. Diz que a única vantagem do método natural é sair do hospital na mesma manhã que pariu. Mirtes aconselha as filhas a fazerem a cirurgia porque é menos sofrida.

O peso da decisão

Cesárea

A favor:

Segurança: maior nos casos em que a gestante apresenta problemas de saúde, como hipertensão ou diabetes, ou quando a posição do feto não é adequada ao parto normal ou ele entra em processo de sofrimento.

Nascimento: possibilidade de programar a data e a hora do nascimento.

Rapidez: duração mais curta do que a do parto normal.

Contra:

Prematuro: existe a chance de o parto ser feito antes do período necessário para o pleno desenvolvimento do bebê, o que pode levar a problemas respiratórios que exijam sua internação em UTI neonatal.

Alta: a recuperação da gestante é mais demorada.

Infecção: por ser uma cirurgia, há riscos maiores de a mãe contrair uma infecção.

Custo: é três vezes mais cara que o parto normal.

Parto normal

A favor:

Segurança: menores riscos de complicações (hemorragias, embolias e infecções); maior envolvimento psicológico da mulher; e aceleração da descida do leite materno, o que favorece que a primeira mamada ocorre na primeira hora de vida, conforme preconiza a OMS.

Nascimento: a criança respira melhor e há menor risco de prematuridade.

Rapidez: recuperação mais rápida no pós-parto.

Contra:

Dor: as mulheres precisam aguardar a hora do parto e sentem de quatro a seis horas de contrações.

Complicações: se o bebê estiver de pé ou sentado ou a bacia da mãe não comportar a passagem do bebê o parto terá que ser por cesárea.

Partos por opção

Vanessa Andréia Eckardt, 25, é mãe de Yasmin Thaís Rempel. Ela chegou ao Hospital Bruno Born (HBB) de Lajeado às 9h de terça-feira com contrações. Às 13h teve o bebê por parto normal.

A opção pelo método natural foi de Vanessa, mãe pela primeira vez. Ela conta que sentiu dores intensas nesse processo e antecipa “na próxima quem sabe opto por cesariana. Fiquei 20 minutos com dores muito fortes.” A mãe e o bebê foram liberados quarta-feira à tarde.

No leito ao lado, desde as 8h40min de segunda-feira, Viviana Pereira da Rosa, 26, aguardava a liberação médica para levar Luís Henrique da Rosa Martins, 3 dias, para casa. O obstetra avisou para ela uma hora antes do parto que seria realizada a cesariana. “Foi minha primeira gestação. Fiquei com medo das complicações.”

Viviana afirma que o pós-operatório foi a parte mais difícil da cesárea. Além da recuperação mais demorada, ela não pode fazer movimentos bruscos.

Acompanhe
nossas
redes sociais