De todas as lavouras, a do milho é a mais atingida. Por ser o celeiro da bacia leiteira estadual, os produtores do Vale precisam do milho para a silagem e garantir alimento para as vacas durante o ano.
Dos 12 hectares de milho plantados por Leci Niet, de Arroio do Meio, 80% secaram. O que sobrou para fazer silagem é de média qualidade. A previsão de encher 40 carretões de pasto se reduziu a 16. Com 50 cabeças de gado, Leci precisa comprar ração. “Já estamos nos endividando.” O pequeno poço artesiano perfurado nos fundos da sua propriedade garante algumas frutas e verduras. “Não fosse o poço, estava tudo seco também.”
O caso de Leci é semelhante para os milhares de produtores de milho da região. Em todo o Vale do Taquari, conforme estimativas da Emater/RS, o prejuízo do milho na safra de 2011/12 é superior a R$ 66 milhões. O valor é calculado de acordo com o preço do saco, em torno de R$ 27,50. Mais de 2,1 mil quilos por hectare foram descartados. Como a previsão era de uma produtividade inicial de quatro mil quilos, as perdas atingem 45% do total plantado.
O engenheiro agrônomo da Emater Regional, Nilo Cortez classifica a situação como muito grave e faz um alerta. “A tendência é que o quadro se agrave. Deveremos perder mais da metade de nossa produção.” Muitos produtores deixaram de plantar por receio da estiagem.
Dos 85 mil hectares previstos no início da safra, 68 mil foram utilizados para produção de milho. Conforme a Emater, foram feitos 600 pedidos para o seguro Proagro. Anta Gorda foi o município mais atingido porque tem a maior plantação – 6,3 hectares.
Dívidas e gastos aumentam
Proprietário de terras em Lajeado e Arroio do Meio, Roberto Scheren tenta salvar o pouco milho que resistiu às altas temperaturas das últimas semanas. Ele tem 15 hectares plantados. “Meu prejuízo passou de 70%. E a silagem está em péssima qualidade.”
Ele aguarda por chuva para iniciar o plantio da safrinha. Mas com pouco alento. “A safrinha tem produção baixa mesmo com chuva. Perdi as esperanças para este ano.”
Scheren precisou de empréstimos para a compra das sementes. Agora dobra seus horários de serviço para tentar sanar as dívidas. “Preciso gastar mais para alimentar meu rebanho, pois dependo dele para produção de leite.” O pouco que sobra da safrinha do último inverno lhe garante alguma esperança.
Ministro anunciará medidas contra a seca
Os ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra e da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, desembarcam amanhã no estado para anunciar o pacote federal de combate à seca.
Eles avaliarão os prejuízos causados no estado. O governo gaúcho foi autorizado a usar R$ 18 milhões, enviados pela pasta em 2011 para bancar ações de emergência contra a seca.
Deste valor, R$ 5 milhões devem ser empregados para distribuir cestas básicas e água com caminhões-pipa. Os outros R$ 13 milhões financiarão a construção de poços artesianos nas regiões castigadas pela estiagem.
O governo federal elabora um pacote antisseca. Nele estão a prorrogação das dívidas dos agricultores que perderam parte da lavoura, contratação de novos financiamentos, apoio às cooperativas e a aprovação de uma linha de crédito para construção de cisternas e outras espécies de reservatórios.
De 223 mil agricultores familiares que contrataram o Pronaf e têm direito a requerer o seguro agrícola, 15 mil comunicaram as perdas às instituições financeiras. No total foram afetados 978.979 gaúchos. Na região 26 cidades decretaram Situação de Emergência.
Municípios em situação de emergência
– Cruzeiro do Sul
– Ilópolis
– Arroio do Meio
– Pouso Novo
– Doutor Ricardo
– Travesseiro
– Bom Retiro do Sul
– Fazenda Vilanova
– Progresso
– Anta Gorda
– Relvado
– Dois Lajeados
– Capitão
– Marques de Souza
– Encantado
– Putinga
– Forquetinha
– Vespasiano Corrêa
– Nova Bréscia
– Mato Leitão
– Roca Sales
– Canudos do Vale
– Colinas
– Coqueiro Baixo
– Santa Clara do Sul
– Westfália