O drama da seca

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O drama da seca

A fumicultura é uma das mais afetadas pela estiagem. O levantamento preliminar feito pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) aponta, em média, uma perda de 30% nas lavouras do Vale.

Na região, 5.236 famílias dependem do fumo para se sustentar. Em Mato Leitão, são 115. Segundo a Secretaria de Agricultura, a falta de chuva prejudicou cerca de 30% do cultivo, mas em algumas propriedades pode ser de até 50%.a

É o caso da família Schneider, de Arroio Bonito. Ildo e Lovani Maria plantaram 70 mil pés em 5,8 hectares. Projetavam um lucro de R$ 50 mil, mas as plantas cresceram pouco. Em 2011, elas chegaram a 70 centímetros de altura. Hoje, não passam de 40 centímetros.

Ildo desistiu de lucrar com a safra de 2012. Espera que o dinheiro seja suficiente para quitar as despesas no cultivo, estimadas em R$ 40 mil. Ele não sabe como recuperará o prejuízo.

A fumicultura é o terceiro maior retorno financeiro para Mato Leitão, representando cerca de R$ 3 milhões do Produto Interno Bruto (PIB). O município tem 250 hectares destinados a esta cultura.

Dívida

Outra preocupação de Ildo é honrar as dívidas. Há cinco anos, fez um financiamento de R$ 70 mil, com oito anos para pagar. Com o dinheiro, construiu um galpão para estocar o fumo e guardar o maquinário.

Ele vendeu o único trator por R$ 15,4 mil, que será usado para quitar algumas parcelas. Porém, fez mais uma dívida: comprou outro veículo, que será usado para o plantio da safra de 2013. “Tem que continuar plantando e torcer para que, no próximo ano, a chuva venha.”

Alarme em Progresso

A Secretaria de Agricultura de Progresso informa que as perdas nas lavouras de fumo chegaram a 50% – 10% a mais do registrado há 15 dias. Nelson Brandão, um dos maiores fumicultores do município, acredita em uma redução de quase 400% em menos de um ano.

Em 2010, ele plantou 55 mil pés, colhendo 570 arrobas. Estima que a colheita deste ano ficará em 150 arrobas, com a mesma quantidade de pés plantados.

Troca de Culturas

Brandão e Ildo vivem situações diferentes. O primeiro estuda investir em outra atividade. Nos últimos dois anos, a fumicultura só lhe trouxe prejuízos. Em 2011, duas chuvas de granizo reduziram o lucro. Neste ano, é a estiagem que o afeta.

Ildo afirma que a idade o impede de trocar de ramo. Reconhece que outras culturas, como a produção de leite ou a criação de aves são mais rentáveis, mas afirma que o investimento é muito alto. Acredita que aumentaria as dívidas e não conseguiria honrá-las.

A troca só ocorreria caso um dos filhos se dispusesse a retornar para a lavoura. O mais velho, de 35 anos, confidenciou a Ildo que a volta para a zona rural só ocorrerá com uma nova atividade.

“Fica difícil ter uma saída”

A Afubra informa que é difícil calcular o prejuízo da fumicultura causado pela estiagem. O secretário executivo da Afubra, Romeu Schneider conta que os casos são variados. Algumas propriedades tiveram perdas de até 60%. Em outras, a falta de chuva só afetou o abastecimento de água – mas a colheita se manteve intacta.

Mas, para os que tiveram perdas o problema tende a ser maior. O seguro da Afubra cobre apenas quando a propriedade é afetada pelo granizo – considerado o maior algoz da fumicultura. “Fica difícil ter uma saída”, admite Schneider.

Para ele, a única maneira é contar com os R$ 18 milhões que o governo federal deve repassar ao governo do estado. Ontem, o governador em exercício, Beto Grill assinou um Decreto de Emergência coletivo. Noventa e três municípios foram incluídos no documento.

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