A falta de chuva regular desde novembro destruiu lavouras de milho e pastagens. Começa a atingir as plantações de soja. A Emater estadual calcula prejuízos de R$ 900, milhões e o governo estadual decretou Estado de Emergência coletivo.
Os serviços básicos estão em situação crítica. A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e a Cooperativa de Distribuição de Energia Teutônia (Certel) não descartam interromper o fornecimento de água e de energia elétrica durante o verão. As empresas pedem à população que evite o desperdício.
A Certel Energia opera com duas hidrelétricas, chamadas de pequenas centrais (PCH). Elas trabalham com a vazão dos rios Salto Forqueta (São José do Herval e Putinga) e Boa Vista (Estrela). O diretor de energia da Certel, Julio Cesar Salecker informa que a vazão dos rios é péssima. A geração de energia está em 10% da capacidade total.
As PCH têm o apoio das usinas hidrelétricas – como Itaipu (Paraná) e Tucuruí (Pará) -, que têm água represada nas estruturas. Elas ajudam as estruturas pequenas. Quando a vazão é pequena, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) as aciona para abastecer os rios em situação crítica.
Júlio acrescenta que a média mensal de precipitações precisa voltar à média normal, entre 120mm e 170mm/mês, para manter o fornecimento. Ressalta que, se chover uma média de 15mm/semana, o problema é amenizado.
A projeção do Centro de Informações Pluviométricas (CIH), da Univates, é alarmante. “A tendência é que a estiagem se agrave no decorrer do verão”, afirma a auxiliar técnica do CIH, Juliana Tomasini.
Em dezembro, a média de chuva mensal era de 140mm, mas atingiu menos que a metade. Foram 58mm de chuva no total. A previsão é de que o volume permaneça abaixo da média até o início do outono.
Racionamento de água deve ser adotado
O superintendente regional da Corsan, Alexsander Pacico, pede às pessoas que não desperdicem água. Estuda a interrupção do serviço se a seca intensificar nas próximas semanas e a população não colaborar.
Para haver o racionamento, é necessário que o Rio Taquari fique abaixo do nível crítico – 1,2 metro – na barragem eclusa de Bom Retiro do Sul. Hoje, ele está com 1,8 metro – 50 centímetros abaixo do nível normal, de 2,3 metros.
Caso ocorra, as bombas de abastecimento terão dificuldades para trabalhar, e a Corsan interrompe o serviço.
Esse problema ocorre em São Leopoldo, onde o Rio dos Sinos está 60 centímetros abaixo do nível crítico há um mês. Os leopoldenses ficam cinco horas diárias sem água.
As bombas de abastecimento da Corsan, no Vale do Taquari, estão instaladas abaixo desse nível na barragem eclusa de Bom Retiro do Sul. Hoje, o nível do Rio Taquari está em 1,8 metro, garantindo a distribuição de água para os municípios da região.
Navegação prejudicada
O nível baixo do Rio Taquari afeta o escoamento de produtos. As embarcações navegam com metade das cargas. Segundo o responsável interino pela barragem eclusa de Bom Retiro do Sul, Luis Evaldo da Silva, as transportadoras têm receio de encalhar.
Silva conta que a navegação com a carga total deve ser feito quando o rio está com 13 metros na parte oferecida para as embarcações. Hoje, está com 11 metros.
Para evitar problemas, os funcionários fazem a dragagem. Retiram os cascalhos acumulados no rio, trazidos pelas últimas enchentes. O serviço é feito quase diariamente.
Emergência no interior
Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Ilópolis, Mato Leitão Progresso, Putinga e Arroio do Meio solicitaram apoio do governo do estado. A falta de chuva prejudica tanto a zona rural como as comunidades distantes dos centros das cidades. É o caso da São Roque, em Arroio do Meio.
Segundo Erenilda da Silva, 40, as 25 famílias estão há um mês sem água. O caminhão-pipa do Executivo abastece o reservatório três vezes por semana, mas é insuficiente.
Os moradores precisam se deslocar por cerca de um quilômetro até o arroio mais próximo para buscar mais água e poder tratar os animais.
Nos próximos dias, a administração municipal começa a perfuração de poços artesianos em quatro comunidades: São Roque, Forqueta, Picada Café e Dona Rita. É um convênio firmado entre o município, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e o estado. O investimento é de R$ 100 mil.
Serão investidos R$ 56 mil na construção de micro-açudes, de cerca de mil metros quadrados de lâmina de água em 25 propriedades rurais. Eles servirão para a piscicultura e no trato dos animais.
Outros municípios investem em medidas emergenciais. Progresso constrói poças de água para o consumo animal. O Executivo estima que seis mil pessoas foram afetadas pela seca.
Marcações históricas aparecem
Em Colinas, o Rio Taquari baixou tanto que expôs marcações feitas durante duas fortes estiagens. Uma delas é de 1943 e foi feita por um antigo morador – hoje morto.
A mais recente é de 15 de fevereiro de 2005, feita pelo assessor do Executivo, Marcelo Schroer. Ele desconhece o nível normal do rio nesta região, pois inexiste uma medição oficial. Estima que, no município, tenha baixado cerca de 1,5 metro.
Campings sentemefeitos da seca
Em Marques de Souza, o Rio Forqueta baixou cerca de 50 centímetros desde terça-feira. O limo, que demarcava o nível normal, está seco.
A preocupação é geral. O lajeadense Luís de Oliveira, 59, aproveita as férias em um dos campings. Reclama que o nível baixo atrapalha a diversão dos mais velhos, que têm poucos pontos para se banhar. “Só é bom para as crianças.”
A aposentada Ilse Kremer, 55, concorda. Comenta que não via o Forqueta tão baixo desde 2005. Naquela época, o rio estava com menos de um metro de altura e a família fez uma demarcação nos rochedos. Acredita que, em dez dias, ela poderá ser vista.
Como economizar
Água
– O banho deve ser de cerca de cinco minutos;
– Não usar mangueira para lavar as calçadas;
– Quando lavar o carro, usar um balde. A mangueira só deve ser acionada para remover os produtos;
– Ao lavar a louça a recomendação é usar água apenas para retirar o sabão;
Energia
– Manter as janelas e portas fechadas quando o aparelho de ar estiver ligado.
– Evitar abrir portas de freezer e geladeira.
– Dê preferência às lâmpadas fluorescentes, que podem render até dez vezes mais que as incandescentes. Desligue as lâmpadas das dependências que estiverem desocupadas.