O relatório da Emater Regional de Lajeado, divulgado ontem, calcula que as perdas nos 64 municípios atendidos pela entidade chegam a R$ 90 milhões. As lavouras de milho são as mais afetadas. O prejuízo chega a 45% nas áreas plantadas entre fim de julho e início de agosto.
De acordo com o gerente Derli Paulo Bonine, a estimativa era de semear 85 mil hectares de milho. Destes, dez mil não foram plantados por falta de umidade no solo.
A Emater previa uma média de 4,8 mil quilos por hectare. Com a quebra, serão colhidas apenas 162 mil toneladas. “Se calculado o valor da saca, que está em R$ 31, os produtores deixam de receber R$ 84,2 milhões nesta safra.”
A produção de silagem também é afetada. Com a falta de chuva, o desenvolvimento das plantas e a formação de espigas foram prejudicados e a produção caiu pela metade. O normal é colher 45 toneladas. “Será um alimento de menor qualidade e pouco nutritivo.”
A quebra na produção de leite chega a 30%. Uma redução de 300 mil litros/dia. O prejuízo é de R$ 5,8 milhões ao mês, se considerado o preço de R$ 0,65 por litro.
Bonine diz que a situação tende a se agravar nos próximos meses, quando terminar a reserva de silagem, de pasto verde e de pastagens. “Faltará alimento para o gado no inverno porque o milho destinado para silagem está sendo tratado agora.”
No caso do feijão, a quebra atinge 40% da produção, seis sacos a menos por hectare. Calculado pelo preço de mercado, que é de R$ 65 por saca, a perda será de R$ 550 mil. Foram semeados 1.415 hectares.
Devido à falta de umidade, 70% da área de soja foi semeada. A projeção é de plantar 16.813 mil hectares. O que foi plantado apresenta problemas de germinação. “Precisa chover para finalizar o plantio. É cedo para apontarmos perdas.”
Nos hortigranjeiros, a queda é de 30% em função das altas temperaturas. Situação que obriga muitos produtores a comprarem o produto de outras regiões para atender seus clientes.
Este é o exemplo do agricultor Lauri Stoll, de Alto Conventos, em Lajeado. Apesar de ter a maior parte da lavoura irrigada, o sol forte afetou o desenvolvimento de algumas variedades. “O preço tende a aumentar em 40% nas próximas semanas.”
Levantamento da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro) aponta que no estado cerca de R$ 2,5 bilhões deixarão de circular na economia em 2012. Isso tende a prejudicar, também, a indústria, o comércio e a arrecadação de municípios que dependem do setor primário.
Municípios decretam situação de emergência
Nos vales do Taquari e Rio Pardo, três cidades (Progresso, Cruzeiro do Sul e Putinga) encaminharam o pedido de decreto de situação de emergência para a Defesa Civil. No estado são nove.
Conforme o prefeito de Progresso, Edegar Cerbaro, estima-se que mais de seis mil pessoas foram prejudicadas com estiagem em todas as localidades do interior.
A cultura mais atingida é a do milho, com perdas que chegam a 100% na maioria das propriedades. O fumo teve um prejuízo de 40% e a produção de leite, cerca de 30%. “A prioridade é a abertura de poços e açudes, pois começa a faltar água para o consumo humano e o trato de animais”, diz Cerbaro.
Problema semelhante ao de outros 14 municípios dos vales do Taquari e Rio Pardo. Caminhões-pipa transportam água para as propriedades a fim de garantir o abastecimento para pessoas e animais.
Produtores estão desesperados
Com um plantel de 170 bovinos, sendo 70 vacas em lactação, o produtor Evandoir Heinen, de Arroio Bonito, em Mato Leitão, teme ficar sem alimento para os animais nos próximos meses.
A produção diária é de 1,7 mil litros. Para manter a produtividade estável, ele trata em média três toneladas de silagem por dia. Com os estoques de alimento baixos e as pastagens secas, projeta prejuízos. “Consegui comprar 13 hectares de milho com boa qualidade, mas é insuficiente diante da demanda que temos.”
Nos 60 hectares de milho que seriam destinados para confecção de silagem, as perdas passam de 70%.
O secretário de Agricultura, Osmar Renê Bick calcula que os prejuízos ultrapassam R$ 4 milhões e envolvem as culturas de milho, soja, fumo, mandioca, pastagens e produção de leite.
Os técnicos da Emater receberam 46 solicitações de avaliações em propriedades rurais para acionar o seguro agrícola.
Só na cultura do milho, usado principalmente na produção de silagem, o prejuízo financeiro é estimado em R$ 2,8 milhões. No tabaco, esse valor chega a R$ 931 mil e em pastagens são R$ 171 mil.
Proagro mais
O alastramento da estiagem elevou o número de pedidos de perícia para acionar o Proagro, seguro que o agricultor contrata sempre que faz um financiamento de custeio e cuja indenização cobre até 100% do financiamento e 65% da renda estimada, limitada a R$ 3,5 mil.
Até sexta-feira, 2,5 mil comunicados de perda foram encaminhados para a Emater de Porto Alegre. O coordenador de Crédito Rural, Cezar Ferreira informa que esse número deve dobrar até o fim de semana. “No dia 10, eram só 22 solicitações. No milho, situação assim não se via desde 2005.”
A Emater Regional de Lajeado tinha recebido 200 pedidos até sexta-feira. Conforme o engenheiro Paulo Conrad, esse índice dobrará nos próximos dias, se persistir a falta de chuva. As solicitações se concentram em Estrela, Cruzeiro do Sul, Mato Leitão, Anta Gorda, Vespasiano Corrêa e Dois Lajeados.
Previsão do tempo
Na quinta e sexta-feira, o ar seco deve manter o tempo firme com predomínio do sol. As temperaturas variam de 16°C a 32°C. Podem ocorrer chuvas esparsas no sábado e domingo.