Entre os 41 projetos aprovados pelo Legislativo na semana passada está a alteração da faixa etária com direito a gratuidade em ônibus municipais. Se sancionada pela prefeita Carmen Regina Cardoso, a mudança proposta pelo vereador Sérgio Kniphoff (PT) reduzirá de 65 para 60 anos a idade mínima para viajar de graça a partir de 2012.
Segundo Kniphoff, a aprovação por unanimidade mostra que essa faixa da população tem representatividade para fazer valer direitos garantidos pelo Estatuto do Idoso. Empresários adiantam que para custear a alteração as passagens tendem a ficar até R$ 0,60 mais caras, prejudicando contratações de quem precisa do vale-transporte.
O vereador ressalta que Lajeado tem uma das passagens municipais mais caras do país, o que seria suficiente para absorver a ampliação das gratuidades. “Isso não representa superlotação dos veículos.” Outra ideia é propor que todos os ônibus municipais tenham cobradores que, entre outros afazeres, orienteam os idosos na ocupação de assentos para que não viajem de pé.
O gerente de uma empresa de transportes, Fabrício Eduardo Schneider diz que o aumento de tarifas em 2012 está previsto em 10%. Caso a lei for sancionada, acredita que o valor será R$ 0,50 mais alto. Os 26 veículos da empresa transportam de 17 mil a 20 mil idosos por mês. Com a ampliação de gratuidade, o número passaria do dobro.
O aumento da tarifa se deve ao rejuste nos custos fixos, como combustível e reparos, e a diminuição anual de passageiros – entre 5% e 7%. O aumento do custo das passagens afastaria muitos que pagam o valor integral, o que poderia inviabilizar os serviços. Schneider contrapõe o vereador a respeito dos custos de tarifas citando: Porto Alegre – R$ 2,70, Curitiba – R$ 2,50, São Paulo – R$ 3, Rio de Janeiro – R$ 2,50 e Cuiabá – R$ 2,70.
Reclama que Kniphoff desconhece a realidade do transporte público e fala politicamente sem conhecer a parte técnica do negócio. Sugere criação de leis para desonerar as empresas de transporte. Desta forma, todos seriam beneficiados com passagens mais baratas.
Bom para uns, ruim para outros
Para a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Lajeado, Célia Paz, a mudança na lei significa um sobrepeso nas contas das empresas locais que oferecem vale-transporte aos funcionários. “Isso pode inviabilizar contratações de quem vive fora das áreas centrais.”
Célia afirma que a alteração deve ser melhor discutida e a comunidade alertada das consequências. Segundo ela, a regra, que à primeira vista parece positiva, pode representar um retrocesso. Entre 50% a 52% dos passageiros de ônibus municipais utilizam o vale-transporte. O desconto de 6% em folha para as passagens é pouco frente ao aumento do custo total.
Para o aposentado por invalidez Luís Rode, 59, morador do bairro Santo Antônio, a possibilidade de gratuidade é uma boa notícia. As três a cinco viagens que realiza a cada semana lhe custam em torno de R$ 80 ao mês. O gasto com transporte complica a vida de quem sobrevive com o benefício da Previdência Social.
Por esse motivo, torce para que a lei seja sancionada. Pede que os proprietários de empresas de transportes tenham mais atenção com os idosos. Muitas vezes precisam viajar de pé, sujeitos a quedas e ao empurra-empurra do espaço anterior à roleta.
Executivo analisa viabilidade
A administração municipal está com o projeto e espera avaliar suas consequências na sociedade antes de sancionar ou vetar sua aplicação. O que deve ocorrer até o fim de janeiro, quando a prefeita Carmen retorna das férias. Caso o Executivo rejeite, a proposta volta ao Legislativo, que poderá confirmar a gratuidade por conta própria.
Segundo o secretário de Governo, Isidoro Fornari, este é um assunto que deve ser analisado com atenção, pois afeta a vida de muitas pessoas. “Serão verificados a legalidade da proposta e seus efeitos, caso for sancionada.”