Novembro foi o mais seco da última década. Choveu apenas 18% dos 150 milímetros estimados. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), algumas regiões terão um déficit mensal de 75 milímetros durante os próximos três meses.
As baixas precipitações são resultado do fenômeno meteorológico La Niña, marcado pelo esfriamento das águas do Pacífico Equatorial. Com isso as frentes frias chegam com menos frequência ao estado, resultando em volumes menores de chuva, elevando a possibilidade de estiagem.
De acordo com a previsão do Inmet, no Vale do Taquari, região Serrana, Metropolitana e no Litoral Norte, hoje ainda podem haver chuvas esparsas. Nas demais regiões o tempo segue firme, com sol e temperaturas elevadas, com máximas que podem chegar aos 31ºC.
Para os próximos 15 dias não existe previsão de chuvas com volumes maiores para amenizar a falta de água nas lavouras, elevar o nível dos rios e barragens. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar de Lajeado, Nilo Cortez, a chuva registrada na terça-feira apenas “refrescou” as lavouras.
Cita que há alguns anos a entidade desenvolve projetos que incentivam o agricultor a investir na construção de açudes e cisternas para captar água da chuva. “Mais uma vez somos surpreendidos. Poucos estão preparados para enfrentar os meses de estiagem.”
“Se não fosse a prefeitura passaríamos sede”
Caso o caminhão-pipa da prefeitura deixasse de abastecer o poço da dona de casa Eva de Borba, ela passaria sede. Há seis anos enfrenta o problema da falta de água. “Vou me unir a uma associação hídrica. Embora o investimento seja alto, é a única alternativa para continuar morando aqui.” O investimento chega a R$ 3,2 mil.
O presidente da associação, Cláudio Back da Rosa diz que uma rede de 31 quilômetros atende 123 famílias das localidades de Estância Mariante, Vila Nova, Campo Grande e Taquari Mirim.
Ele alerta para evitar o desperdício de água. “Temos que evitar lavar o carro, as calçadas e molhar a grama. Cada gota precisa ser bem-aproveitada para não faltar depois.”
Sugere que o município faça investimentos para ampliar o abastecimento. Indica a construção de uma barragem no Arroio Castelhano, cujo projeto está pronto mas engavetado.
Hoje a água do arroio abastece a maior parte da cidade. “Se não chover pelos próximos dois meses, toda população enfrentará um grave racionamento.”
Servidores públicos e da Emater-RS/Ascar realizam levantamentos pelo interior de Cruzeiro do Sul para contabilizar perdas. Estimativas apontam prejuízo de 30% nos 4,5 mil hectares de milho cultivados nesta safra.
Conforme a engenheira agrônoma Carmem Fransozi, diversos agricultores encaminharam o pedido de seguro (Pro-Agro). “Este milho nem chegou a formar espiga e, portanto, é impróprio para produção de silagem.”
Segundo a secretária da Administração, Aline Flores, o município deve encaminhar hoje para a Defesa Civil o laudo técnico com as perdas.
De acordo com o coordenador adjunto da Regional da Defesa Civil, Dilamar Gamalho, não existe previsão de racionamento de água como em São Leopoldo, no Vale dos Sinos.
Cita que até o momento nenhum município da região decretou estado de emergência. Observa que a situação preocupa na cidade e no interior. “A falta de chuva deve ser prolongada e por isso devemos evitar o desperdício.”
Na propriedade de Breno Nied, 51, no bairro Conventos, em Lajeado, os prejuízos chegam a 70% na plantação de milho dos dez hectares semeados em setembro. As altas temperaturas secaram as plantas. “Nem para pasto conseguimos aproveitar.”
O investimento chega a R$ 7,5 mil, sendo boa parte financiada pelo banco. Cita que o seguro é uma das formas de amenizar as perdas. A produção diária de leite registrou queda de 30%, pois as pastagens secaram. Ele pretende replantar a área em janeiro, caso o solo tenha maior umidade.
Falta água para o consumo
Há duas semanas a Administração Municipal de Venâncio Aires abastece com caminhão-pipa 102 famílias em várias localidades do interior. Lá as vertentes e os poços, que serviam para o consumo humano e trato de animais, secaram.
De acordo com o secretário da Agricultura, Fernando Heissler, está sendo elaborado um projeto para abrir linhas de crédito para a construção de cisternas. “Precisamos nos prevenir para evitar prejuízos e transtornos.”
Há dez anos a família Thiesen, da comunidade de Estância Mariante, 9º distrito de Venâncio Aires, convive com o racionamento de água. Como não existe vertente na propriedade, armazenam a água da chuva em um poço nos fundos de casa. Ela é usada para o consumo humano e para o trato dos animais.
No verão quando o poço seca, dependem do abastecimento do caminhão-pipa. “Já teve dias em que não tínhamos um copo de água para tomar”, comenta Márcia.
Situação semelhante vive o fumicultor Tiago Hetz da Cunha. Uma vez por semana o caminhão abastece a propriedade. “Como não temos rede de água, quando se inicia o verão começa este pesadelo. Até o açude que servia de fonte hídrica para os animais secou.”
As perdas com a falta de chuva também atingem a lavoura. Caso não ocorram chuvas expressivas nos próximos dias, as perdas devem passar de 20%. “Todo adubo e nitrato ainda estão no solo e por falta de umidade não foram aproveitados pela planta.”