Para acertar dívida, a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) estuda devolver a unidade do município à empresa Docas do Maranhão (Codomar), administradora do porto.
A informação alterou a rotina dos trabalhadores da companhia. O técnico rural Paulo Dutra, que trabalha há dois anos no local, se mostrou perplexo. “Atendemos agricultores de todo o Vale e temos um grande fluxo de produtos. Isso traria prejuízos.”
Hoje, 12 pessoas trabalham na unidade. Alguns com mais de 30 anos de Cesa, como é o caso do operador de máquinas Valmor Scheibler. Mas ele mostra indiferença quanto ao risco de fechar. “Ouço essa história há anos.”
Na opinião do proprietário de uma granja, em Marques de Souza, Ivo Tech, se a Cesa fechar, os negócios seriam prejudicados. “É ruim, trabalhamos com a Cesa há tempo.” Segundo ele, o serviço é útil tanto para os pequenos agricultores que beneficiam os produtos, quanto àqueles que precisam dos grãos.
Para o trato de suínos, Tech conta que utiliza 500 sacos de milho por mês. O grão é comprado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e de produtores da região que utilizam a unidade de Estrela.
Companhia tem receita mensal de R$ 150 mil
Segundo o superintendente da Cesa de Estrela, Sérgio Luis Castro, as dificuldades encontradas em outras unidades não se refletem na região. “Aqui temos uma companhia que gera lucro”. De acordo com ele, a receita mensal é de R$ 150 mil e o aluguel representa 33% desse valor.
A dificuldade estaria ligada ao trâmite dos recursos. O faturamento de Estrela é enviado a Porto Alegre. De acordo com o Sindicato dos Auxiliares de Administração de Armazéns Gerais do Estado (Sagers), a Cesa é mal administrada. Faltam contadores para realizar o balanço da companhia.
Sobre o aluguel da estrutura em Estrela, a falta de pagamento começou a cerca de 15 anos. Companhia e Codomar negociam os aluguéis atrasados desde 2001. “Mas, até hoje nada”, afirma Castro.
O superintendente se diz surpreso com a informação. Ele conta que não recebeu nenhum comunicado por parte da diretoria da Cesa.
Entenda o caso
Em reportagem do jornal Zero Hora de domingo, 30 de novembro, foi noticiado que a Cesa possui uma dívida de R$ 178,2 milhões. O governo estadual esboçou uma solução para recuperar a companhia. Uma delas é vender seis das 22 unidades.
O resultado seria dividido entre reformulação das 16 unidades restantes (15 milhões) e a quitação com desconto de uma dívida de R$ 80 milhões. As candidatas à negociação ficam nas seguintes cidades: Nova Prata, Santa Bárbara, Palmeira das Missões, Passo Fundo, Estação e Caxias do Sul.
Em Estrela, o governo estuda devolver a unidade para quitar aluguéis não pagos. Para diminuir as perdas, seria aprofundada a parceria com a Conab em outras unidades.
Cesa de Estrela funciona desde 1978
• A companhia trabalha no beneficiamento de milho, trigo e arroz. O processo envolve limpeza, secagem, controle de insetos e armazenamento.
• A unidade tem capacidade para armazenar 38,5 mil toneladas de grãos.
• Hoje, 52% dos silos estão ocupados. São mais de 20 mil toneladas.
• Na safra, cerca de 200 produtores do Vale beneficiam e estocam as produções na unidade. São em média 14 mil toneladas de milho e 2,5 mil toneladas de trigo.
• Nesse ano, a companhia movimentou oito mil toneladas de milho em transbordo, que significa o recebimento, beneficiamento e venda para empresas da região.
• Em 2010, foram 15 mil toneladas de grãos em transbordo.
• Até o fim do ano, mais nove mil toneladas de milho estarão nos silos para venda aos agricultores.
• Estão estocadas 15,5 mil toneladas de arroz Conab. Produto é utilizado nos programas assistenciais do governo federal.