O segundo filho do casal Cleonice e Jacson Stürmer nasceu às 8h30min do dia 27 de julho de 1985, no Hospital Bruno Born, em Lajeado. Dois dias depois, Marcel Ruschel Stürmer já estava no conforto de sua casa, na época localizada no fim da rua Bento Gonçalves.
O primeiro presente não foi um patins, e sim um triciclo. Antes de completar um ano de idade, os primeiros passos. Nada de piruetas, apenas passos. O equilíbrio ainda era uma dificuldade, e constantes eram os tombos. Aos cinco anos caiu de skate e teve de ser levado ao pronto socorro. Alguns pontos no joelho foram a consequência. A mãe conta que a queda foi a única lesão grave do jovem atleta em seu vitorioso currículo. “Vamos bater na madeira”, brinca.
O tempo passou. Foi então que, na antevéspera do Natal de 1991, Marcel insistiu para que sua mãe o levasse a uma apresentação de patinação artística no Colégio Madre Bárbara. Um verdadeiro divisor de águas. “Ao final ele me olhou e disse: Vou fazer isso quando crescer.”
Jaqueline Nonnemacher coordenou aquela apresentação. Seis meses depois, após muitas aulas com patins emprestados, Marcel era o garoto prodígio da safra de talentos da professora de patinação. Passados 20 anos de luta e dificuldades financeiras, a promessa hoje ostenta três titulos sul-americanos, uma copa do mundo, 15 títulos estaduais e nacionais, e três medalhas em campeonatos mundiais. Um fenômeno.
O melhor do Brasil
– 15 títulos de campeão Gaúcho e Brasileiro
– 3 títulos Sul-americanos (o primeiro conquistado com 12 anos de idade)
– 3 medalhas de ouro em Jogos Pan Americanos (Santo Domingo em 2003, Rio de Janeiro em 2007, e Guadalajara em 2011)
– Ouro na Copa do Mundo da Alemanha
– Bronze nos Jogos Mundiais da China
– Ouro no Troféu de Noain (torneio que reúne os 10 melhores patinadores do mundo)
– 3 medalhas em campeonatos mundiais.
“Agora só penso no Mundial”
Nessa sexta-feira o tri campeão desembarcou em sua cidade natal após a conquista nos Jogos Pan Americanos de Guadalajara, no México. Medalha de ouro no peito, desfilou em carro aberto pelas principais rua, sendo aplaudido de pé. Nas calçadas, nas obras, no comércio ou até em janelas de prédios, os lajeadenses prestaram sua justa homenagem ao tri campeão panamericano.
Em uma breve conversa, contou um pouco de sua história no cenário esportivo mundial, e falou de seus planos. No dia 27 de novembro estréia no Mundial de Patinação, que será realizado em Brasília. “Na próxima semana reinicio os treinos. Preciso recuperar o peso perdido durante o Pan Americano.”
Ele se emociona ao lembrar das dificuldades enfrentadas na competição realizada no México. Antes de embarcar, teve seus equipamentos de prova roubados. “Confesso que me abalou muito e teve momentos de desespero. Mas não era justo eu perder depois de todo esforço.”
Após o Mundial, Marcel iniciará sua turnê “Bastidores”. Junto com outros 15 artistas, realizará shows por todo o Estado. A estreia será em Lajeado, no dia 16 de dezembro. “Este show será o melhor de todos já realizados em outras turnês.” Além das apresentações, será exibido um documentário registrando todos os momentos da conquista do Tri campeonato. E agora, que venha o Mundial!
Apoio fundamental da família
O apoio da família – pai, mãe e o irmão mais velho Ismael, foi fundamental e decisivo na trajetória do multi-campeão. Mas a mãe admite que jamais imaginou que o filho se tornaria o melhor patinador brasileiro da história. Lembra que, desde o início, Marcel era diferente. “Todos percebemos logo que ele levava jeito. Mas se eu disser que imaginava todos os títulos estarei mentindo.”
Ela diz que o filho treinou durante os seis primeiros meses com patins emprestados, e que muitas vezes pensou em desistir. A falta de patrocínio sempre foi uma dificuldade na vida do atleta.
Cléo lamenta não poder acompanhar o filho nas competições. Das maiores conquistas, esteve presente apenas no Pan Americano de 2007, no Rio de Janeiro. Ela costuma torcer em casa, mas sem olhar para a televisão. “Fico muito nervosa. Quando ele inicia alguma apresentação, me escondo ou fico olhando com o canto do olho.” Para ajudá-lo, costuma acender uma vela em homenagem a Nossa Senhora. “Peço apenas tranquilidade, o resto ele sabe como fazer.”