Os trabalhadores do campo estão entre is mais atingidas pelo câncer de pele no país. A exposição diária à irradiação solar, sem os cuidados necessários, é uma das principais preocupações dos órgãos ligados ao meio rural.
Em junho de 2010, a ex-governadora do estado, Yeda Crusius, sancionou a Lei 13.469, que dispõe sobre a prevenção e o combate às doenças associadas à exposição solar do trabalhador rural. Apesar de lideranças exigirem a implantação da norma, ela permanece inoperante.
Após um ano e quatro meses, a norma depende de regulamentação da Secretaria Estadual da Saúde. De acordo com o autor da proposta, o deputado estadual Heitor Schuch (PSB), a situação afeta o homem do campo que não consegue acesso ao protetor solar que deveria ser distribuído por lei para mais de 400 mil famílias de pequenas propriedades no estado.
Conforme Schuch, o alto custo para o fornecimento do produto é uma das alegações do governo gaúcho para não aplicar a lei. “A saída seria o próprio estado custear a fabricação.”
A preocupação em prevenir os agricultores contra o câncer de pele surgiu a partir de contatos com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, que alertou o estado, pois o câncer era o segundo colocado em incidência no país, perdendo apenas para câncer cardíaco e pulmonar.
Schuch ressaltou que o Laboratório Farmacêutico do Estado do Rio Grande do Sul (Lafergs) – responsável pela produção – poderia fabricar os medicamentos. No entanto, está inoperante há mais de oito anos.
O deputado diz que o governo do estado é pressionado a reabrir o laboratório. Caso não atenda às reivindicações, sugere que compre os filtros solares e distribua aos agricultores.
Ele ressalta que o laboratório deve levar mais dois anos para voltar a operar. “Poderemos até promover uma audiência pública ainda este ano, além de acionar o Ministério Público ou o do Trabalho, para averiguar o cumprimento da lei.” Com três linhas de produção, o laboratório poderia beneficiar por ano 300 milhões de unidades de medicamentos.
Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Elton Weber, é necessário fazer com que os agricultores tenham acesso ao produto por preços mais acessíveis dos quais são oferecidos hoje.
Conforme a coordenadora de Mulheres da Fetag-RS, Inque Schneider, é feito um levantamento pela Comissão Estadual da Federação sobre a decorrência do câncer no estado, a fim de formalizar dados mais concretos e encaminhar ao Palácio Piratini.
Ela diz que no estado, sobretudo na região dos vales, os agricultores têm pele branca, aumentando a incidência. Ressalta que em todos os municípios do estado existe casos de câncer de pele e estão sendo feitos tratamentos com dermatologistas.
De acordo com Inque, é necessário oferecer o produto de forma gratuita, seguido de um trabalho de conscientização para que os agricultores se protejam.
Diagnóstico ajuda na cura
Em 2007 a agricultora Arlete Sommer Nied, 50, de Picada Felipe Essig, em Marques de Souza, percebeu os sintomas do câncer de pele em seu estado inicial. O tumor estava na face e, após tratamento, foi retirado.
Ela diz que o diagnóstico precoce do câncer ajudou no tratamento. A dermatologista com quem se tratou a orientou para que usasse filtro solar pelo menos duas vezes ao dia, para evitar que o câncer reaparecesse.
Apesar de ter se curado, a agricultora não se preocupa em se proteger contra os raios solares. Arlete comenta que é errado e deveria usar, no entanto é um costume de muitos produtores do interior. Segundo ela, na pressa esquece de passar.
Cuidados necessários
Inque frisa a importância de realizar um trabalho preventivo e que muitos agricultores têm câncer, mas desconhecem. Ela enfatiza a necessidade de se proteger deixando os agricultores mais tranquilos com a saúde. Nos últimos anos, a incidência foi maior devido ao aumento das temperaturas de novembro a março.
Conforme o dermatologista Sandro Gularte Duarte, é preciso aplicar o protetor solar 30 minutos antes de sair ao sol, reaplicando a cada duas horas se permanecer exposto. O filtro permanece na pele no máximo por quatro horas. Outra precaução é utilizar roupas longas que protejam dos raios solares.
Sem os cuidados necessários, as pessoas correm o risco de desenvolver câncer de pele, além de manchas, envelhecimento, alergias, queimaduras, insolação e baixa da imunidade. Na maioria das vezes o câncer ocorre com o passar do tempo com mais frequência em idosos.
Duarte explica que os sintomas do câncer de pele geralmente são percebidos por lesões-feridas, que não cicatrizam e aumentam de tamanho com o tempo. Em casos mais graves, as pintas pretas (conhecidas como sinal de beleza) sofrem alterações, como bordas irregulares, cores variadas e diâmetro maior que 6 milímetros.