O problema das divisas na região é antigo. No mapa do governo do estado, diversos municípios da região têm pontos de interrogação em alguns limites, como é o caso de Forquetinha. O documento apresenta dúvidas nas divisas com Marques de Souza e Santa Clara do Sul.
Enquanto o estado afirma que as correções dependem da vontade dos prefeitos, falta iniciativa. Apenas Carlos Alberto Bohn, de Mato Leitão, pediu a revisão do limite da Linha Dresch, que faz divisa com Cruzeiro do Sul, no início de 2010.
O prefeito de Westfália e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), Sérgio Marasca diz que os casos são isolados e que a entidade não interferirá.
Ao mesmo tempo em que as autoridades locais aguardam pelo estado, a geógrafa Rafaela Zillmer, responsável pelo setor de Geografia e Cartografia da Secretaria Estadual de Agricultura, Pesca e Agrupecuária (Seapa), argumenta que a constituição impede qualquer gerência sem a autorização da Assembleia Legislativa (AL).
Segundo a assessora da Comissão de Assuntos Municipais da AL, Kátia Heemann, o trabalho é feito mediante solicitação, independentemente de qual órgão for. “Nós não bateremos em cada município para dizer que há equívocos nas divisas, e a solicitação também pode ser feita pelo governo do estado e pelo IBGE.”
Novas regras
Rafaela aponta a falta de regras rígidas na época das emancipações – em especial em 1995, quando diversos municípios do Vale solicitaram o desmembramento – provocou os equívocos na elaboração do mapa. Ela conta que muitas das legislações eram subjetivas e que incluíam pontos inexistentes para a delimitação das divisas.
Segundo Rafaela, a falta de GPS – sistema de localização por satélite – e a contratação de engenheiros e arquitetos, em vez de geógrafos, para a verificação das áreas contribuíram para o problema.
Em 2006, um documento foi criado para orientar as comissões de emancipação, mas alega que está defasado. Para resolver o problema, o presidente da Comissão de Assuntos Municipais, deputado Cassiá Carpes solicitou a elaboração de um projeto que regre as novas emancipações. Ela desconhece se o texto definirá quem será o responsável por pedir as correções.
Prefeitos aguardam iniciativas
O assunto foi debatido pela Amvat em 2009, quando o prefeito de Fazenda Vilanova, José Cenci era o presidente. Na ocasião, os demais apresentaram os problemas enfrentados, mas nenhuma iniciativa foi tomada.
Marasca cita como exemplo Westfália. Cerca de oito famílias moram em uma comunidade que, conforme o mapa estadual, pertence à Boa Vista do Sul, mas se consideram habitantes do primeiro.
Ele conta que os vereadores dos dois municípios buscam uma solução, mas desconhece como está a situação.
Para o prefeito de Progresso, Edegar Cerbaro, um trabalho regional é necessário para que os problemas sejam resolvidos. Cerca de 20 famílias da comunidade de São Luiz são atendidos pelo município, mas pertencem à Boqueirão do Leão. Os vereadores de Progresso encontram resistências no Legislativo vizinho para a resolução do caso.
Sem divisas
O casal Astor e Noemi Ruppenthal Bolgenhagen mora na divisa entre os municípios de Marques de Souza e Forquetinha. Ele pertence ao primeiro, e ela ao segundo. “Temos terras, talão de produtor e título de eleitor nos dois municípios, e mesmo assim, quando precisamos de uma máquina para arrumar a estrada ambos alegam que não podem ultrapassar os limites”, relata Astor.
Noemi observa que outro problema é o acesso a programas e benefícios destinados para o setor primário. “Alegam que se passarem do limite serão penalizados com multa. Os prejudicados com tudo isso somos nós. Na hora de prestar um serviço não somos de ninguém. Quando tem eleições somos dos dois.”
A mesma dificuldade apresentou a produtora de aipim, Clair Margarida Gattermann, 58. Ela não tinha certeza se morava em Cruzeiro do Sul ou em Lajeado. O primeiro se emancipou do segundo em 1969 e a propriedade dela foi dividida entre as duas cidades.
Clair sempre se considerou lajeadense, mas as duas administrações municipais reivindicavam a área, situada atrás da construção da Arena do Lajeadense.
Uma definição só ocorreu em 2010, quando o departamento de Lajeado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou o Censo na localidade.
O coordenador do instituto em Lajeado, Jones Bianchetti, usou os dados do departamento da divisão de Geografia e Cartografia da Seapa, responsável por oficializar as divisas de cada município do estado.
Problemas de divisas
Fazenda Vilanova– Uma comunidade de Taquari reivindica a anexação à Fazenda Vilanova. A distância de três quilômetros com o município vizinho – ante 20 quilômetros até o centro do município de origem – é o principal motivo para a solicitação.
Westfália – Moradores que, oficialmente, pertencem à Boa Vista do Sul são atendidos pela administração de Westfália. Os vereadores dos dois municípios buscam o entendimento para definir a situação.
Forquetinha – O município tem problemas de divisa com outros dois vizinhos. Em Linha Alto Tigrinho (Marques de Souza), um casal pertence a municípios distintos. Astor tem talão de produtor e título de eleitor em Marques de Souza, mas os documentos de Noemi Ruppenthal Bolgenhagen são de Forquetinha.
O outro caso ocorre na comunidade de Chapadão, onde os moradores desconhecem se pertencem à Forquetinha ou à Santa Clara do Sul.
Mato Leitão – O Executivo encaminhou, em 2010, o pedido de correção da divisa entre o município e Cruzeiro do Sul. Conforme o prefeito, Carlos Alberto Bohn, o mapa feito pelo governo do estado está equivocado, tornando a Linha Dresch como comunidade de Cruzeiro do Sul.
Progresso – O município tem problemas de divisa com os municípios de Canudos do Vale e Boqueirão do Leão. O caso mais difícil é com Boqueirão do Leão, em que cerca de 20 famílias daquele município são atendidas pela administração progressense. Quando houve a emancipação, em 1996, a comunidade de São Luiz foi dividida ao meio, mas os moradores de Boqueirão do Leão acreditam que pertencem à Progresso.
Lajeado – Em 2009, quando o Lajeadense anunciou a construção da Arena próximo do Motel Savana, os Executivos de Lajeado e de Cruzeiro do Sul começaram os debates sobre a quem pertencia a área. A definição só ocorreu em 2010, devido à interpretação do IBGE sobre o mapa apresentado pelo governo do estado.
Como resolver a situação
– Os municípios, o governo do estado, ou o IBGE podem solicitar a revisão das divisas por meio de ofício à Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa;
– Os deputados farão um projeto de lei, que será encaminhado à Divisão de Geografia e Cartografia da Secretaria Estadual de Agricultura, Pesca e Agropecuária;
– Os técnicos do estado visitarão os municípios com a lei de emancipação para verificar as incorreções. Os erros dos mapas devem ser corrigidos de maneira mais eficaz, pois, hoje, são usados o GPS;
– Com as correções confirmadas, os geógrafos devolvem o projeto aos deputados, que votarão as novas delimitações.
Fonte: Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa
O que ocasionou os problemas
– Falta de regras rígidas para a elaboração de projetos de emancipação;
– Em algumas leis de emancipação, as descrições eram subjetivas. Em 1954, um município da Serra determinou que a divisa ocorre conforme a sombra feita pelo mato de uma comunidade;
– A chamada Farra das Emancipações, quando nos anos de 1988, 1992 e 1995 diversas comunidades solicitaram o desmembramento. O estado, que no início da década de 1980 tinha cerca de 250 municípios, passou para 496;
– Quando as emancipações foram feitas, não existiam aparelhos sofisticados, como o GPS;
– Quadro de geógrafos do estado, responsáveis pela confirmação dos dados encaminhados, insuficiente. Cada solicitação demora cerca de 90 dias para ser atendida e as visitas a campo duram de dois a três dias;
– Contratação de profissionais incapacitados para elaborar os mapas dos municípios desmembrados.