“Usei minhas forças para gritar por socorro”

Notícia

“Usei minhas forças para gritar por socorro”

O acidente de sexta-feira à noite, na BR-386, matou quatro pessoas e deixou 39 feridos. Um caminhão em alta velocidade colidiu contra uma carreta, por volta de 21h30min, depois em um ônibus e em seguida em um Celta. Luiz Gustavo Leuek Tallastra, 15, de Ivoti, ficou preso nas ferragens por seis horas e foi o único sobrevivente do automóveis.

Outros três rapazes, o motorista Moisés Cardoso, 23; Rafael Santana, 28; e Thales Vinicius, 19, morreram com o impacto. Eles faziam parte do grupo nativista Alma de Campo Y Rio e seguiam em direção a São Mi­guel do Oeste, em Santa Catarina.

Eles fariam um show no aniver­sário da avó de Luiz Gustavo, no sábado e divulgariam seu trabalho em emissoras de rádio da cidade. Josiano Silva, 27, era o quinto com­ponente do grupo e, por indicações médicas, não viajou.

O motorista do caminhão desgo­vernado, Sílvio Luís Muller, 39, tam­bém morreu no local. Ele transpor­tava uma carga de milho, que caiu às margens da pista. A Polícia Civil de Pouso Novo investiga as causas do acidente, mas adianta que os equipamentos mostram que ele es­tava em alta velocidade.

Tensão para salvar o rapaz

Os órgãos de salvamen­to não mediram esforços para salvar a vida dos pas­sageiros do ônibus e de Luiz Gustavo. Foram mais de sete horas de tensão.a

Os passageiros foram os primeiros a serem socorri­dos. Eles tiveram que sair pelas janelas. O socorro os encaminhou para hos­pitais do Vale do Taquari. No Celta, a 20 metros de distância do ônibus, o ra­paz de 15 anos ficou preso nas ferragens sob os cor­pos dos amigos.

Conforme policiais que conversavam com ele, Gustavo se salvou porque ficou entre o carro e uma vala. A preocupação do resgate era com o óleo que corria do veículo e a temperatura do corpo de Gustavo, visto que fazia frio e parte do corpo esta­va sobre a pista.

Às 3h15min, palmas e gritos anunciaram o suces­so do salvamento. Depois de cortes de ferro, retirada do corpo de um dos ami­gos e de arrastar parte da carroceria, o rapaz foi des­locado às pressas.

Um congestionamento de dois quilômetros se for­mou. A pista ficou fechada nos dois sentidos até as 6h para resgate das vítimas e limpeza da rodovia. Os motoristas que aguarda­vam foram até o acidente e se formou uma barreira humana em torno dos veí­culos de resgate.

Auxiliaram nas ativida­des mais de 50 pessoas – Polícia Rodoviária Federal, Brigada Militar, Polícia Ci­vil, Resgate Univias e Ser­viço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Entrevista

O pai, Celso Tallastra, conta emocionado a história do filho que sobreviveu ao acidente na sexta-feira à noite. Seu relato é baseado no que o filho lhe contou. Luiz Gustavo está internado no hospital de Ivoti.

Jornal A Hora do Vale – Gustavo lem­bra do acidente?

Pai – Meu filho está em estado de choque. Ele conta que andavam pelo trecho quando ele viu luzes fortes e uma carreta resvalan­do pela rodovia. Foi tudo muito rápido. Ele diz que acordou um tempo depois e escutou várias pessoas falando.

A Hora – O que ele ouviu?

Pai – As pessoas falavam que não tinha mais ninguém vivo. Que o Celta estava em­baixo do caminhão esmagado e que todos tinham morrido (chora). Meu filho conta que usou as poucas forças que tinha para gritar por socorro. Ele ficou com medo que ninguém o visse vivo.

A Hora – Em qual acento do carro ele estava?

Pai – Gustavo estava sentado no banco de trás do motorista, com cinto de segurança, o que salvou ele. Meu filho diz que seu corpo estava parte sobre o banco e parte sobre a pista, e ele via o óleo correndo ao seu lado. O carro podia ter incendiado. Recebemos no domingo um poncho uruguaio que ele esta­va usando. Não aguentamos o cheiro de óleo que tinha.

A Hora – E os amigos. Ele os viu mortos dentro do carro?

Pai – Sim. Foi a primeira coisa que ele dis­se: – Meu amigo ajudou a salvar a minha vida. O corpo estava sobre ele no acidente. Os guris viviam juntos. O Gustavo está mui­to abalado, mas afirma que continuará com o grupo em homenagem a eles. O sonho de todos era gravar o segundo CD. O primeiro esgotou a venda.

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