Na Delegacia da Mulher de Lajeado são registrados, por mês, mais de 160 casos de violência doméstica. De agosto de 2010 a julho de 2011 foram 1.761 casos. Destes processos, só 27 resultaram na prisão dos agressores.
O assunto foi discutido na II Conferência Regional de Políticas para as Mulheres. O evento ocorreu no auditório do prédio 7 da Univates e foi organizado pelo Conselho Municipal de Direitos da Mulher de Lajeado (Comdim).
No início do mês, a Lei Maria da Penha completou cinco anos. E desde então uma das principais falhas ainda não foi corrigida – hoje cerca de 80% das mulheres que registram queixa contra o marido por agressão, desistem do processo quando são chamadas pelo juiz. Isso provoca a impunidade e a recorrência na agressão.
Conforme a coordenadora estadual das Delegacias da Mulher, delegada Nadine Anflor, as mulheres que procuram ajuda não querem se separar dos companheiros. Elas querem que eles mudem de atitude, parando de agredi-las.
Conforme dados, as vítimas registram mais de uma vez as agressões depois das desistências. Segundo a delegada, os agressores são doentes, que consideram a mulher como uma posse. Na maioria dos casos eles repetem o ato quando trocam de companheiras. No estado ainda não há tratamentos para homens.
A delegada afirma que os municípios deveriam criar programas de assistência para dizer ao homem agressor que ele está cometendo um crime. Segundo ela, 85% das agressões foram motivadas por narcóticos e álcool.
No ano passado, foram mortas no estado 280 mulheres vítimas de violência doméstica. Entre elas, uma estava com medida de proteção. Neste ano, houve aumento de casos no estado. De janeiro a julho de 2011, sete mil mulheres registraram queixa.
Desde a sanção da lei foram abertos no Brasil mais de 300 mil processos e promulgadas mais de 100 mil sentenças. Contudo, destas houve apenas 1,5 mil prisões em flagrante em todo o país. Um dos principais motivos é a dificuldade de fazer o flagrante do crime.
Essa lei acabou com as sentenças alternativas, mudou o Código Penal e permitiu prisões preventivas. Antes, um agressor era “condenado” a distribuir cestas básicas e ficava solto esperando a condenação que nunca vinha, podendo, continuar ameaçando e agredindo a mulher.
A delegada Nadine diz que a mulher pedia ajuda para a polícia e o órgão não podia fazer nada, a não ser separar a briga. “A mulher ficava mais tempo na delegacia do que o homem que apenas assinava o Termo Circunstanciado.”
Ela lembra que o agressor podia voltar para casa logo em seguida e a vítima é que tinha que sair de casa e se abrigar na casa de amigos.
A delegada diz que hoje os municípios precisam batalhar para fechar as Delegacias da Mulher nos município, porque isso será consequência da diminuição de atendimentos.
Lei é branda
A delegada da Mulher de Lajeado, Márcia Scherer está incomodada com a decisão da Justiça em um caso de violência doméstica na cidade. Há poucas semanas, o pedreiro de 60 anos, que foi condenado a 46 anos e dez meses de prisão por ter estuprado e engravidado três filhas, teve a decisão revogada pelo tribunal.
A defesa alegou que o crime prescreveu e conforme a delegada, o tribunal concordou afirmando que as vítimas deveriam ter informado o crime no máximo seis meses depois de completarem 18 anos.
Os crimes foram relatados ao Ministério Público em 1999. O inquérito foi instaurado apenas em 2003. Uma da filhas revelou que os abusos ocorriam desde a infância.
O pai das três, viúvo e acusado de ter matado a própria mulher em uma briga, teve com elas três filhos. Uma delas admitiu que os estupros iniciaram quando ela tinha 6 anos.
Mulheres sugeriram melhorias nos serviços
Ontem, mais de 500 mulheres da região participaram da II Conferência Regional de Políticas para as Mulheres.
Durante a manhã foram debatidos quatro temas: desenvolvimento sustentável; violência e os vínculos familiares; igualdade de gênero, raça, etnia e liberdade sexual; e participação da mulher na política, conselhos de direitos, empoderamento e cidadania.
A secretária de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul (SPM/RS), Márcia Santana recebeu a assinatura da prefeita de Lajeado, Carmen Regina Pereira Cardoso, no Pacto Nacional de Enfrentamento contra a violência a mulher. A partir disso o município poderá solicitar recursos federais para melhorias no setor.
A presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar do Rio Grande do Sul, Regina Miranda falou sobre a agricultura e representatividade da mulher. Segundo ela, 84% do setor hoje é familiar e este produz 70% da comida dos brasileiros. Para a produção as famílias ocupam apenas 25% das terras.
Regina relatou a importância da mulher no desenvolvimento da agricultura. “A mulher produz a diversidade, mas é o homem que leva o título de chefe da casa. A mulher é apenas uma ajudante na agricultura.”
A presidente do movimento de mulheres negras, Maria Omero e a cientista política, Mariela Portz também falaram sobre a importância das mulheres nas etnias e política.
Entre as sugestões de melhorias estão: mais representatividade feminina no meio rural; uma justiça especial contra violência doméstica; e assistentes sociais e psicólogas dentro das delegacias.
O que muda com a lei
Antes
– Não existia lei específica sobre a violência doméstica;
– Nos casos de violência, se aplicava um Termo Circunstanciado no agressor;
– Permite a aplicação de penas pecuniárias, como cestas básicas e multas;
– A mulher podia desistir da denúncia na delegacia;
– Era a mulher quem, muitas vezes, entregava a intimação para o agressor comparecer às audiências;
– A pena para esse tipo de violência doméstica e familiar era de 6 meses a 1 ano;
– O agressor podia continuar indo nos mesmos lugares que a vítima frequentava. Tampouco era proibido de manter qualquer forma de contato com a agredida.
Depois
– Define a violência doméstica e familiar contra a mulher e estabelece as suas formas: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral;
– São criados Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, com competência cível e criminal;
– A mulher só pode renunciar perante o juiz;
– Possibilita a prisão em flagrante e a prisão preventiva do agressor, a depender dos riscos que a mulher corre;
– A pena mínima é reduzida para três meses e a máxima aumentada para três anos, acrescentando-se mais 1/3 no caso de portadoras de deficiência;
– Esse tipo de violência passa a ser prevista, no Código Penal, como agravante de pena;
– O juiz pode fixar o limite mínimo de distância entre o agressor e a vítima, seus familiares e testemunhas. Pode também proibir qualquer tipo de contato com a agredida, seus familiares e testemunhas.
Mulheres sugeriram melhorias nos serviços
Ontem, mais de 500 mulheres da região participaram da II Conferência Regional de Políticas para as Mulheres.
Durante a manhã foram debatidos quatro temas: desenvolvimento sustentável; violência e os vínculos familiares; igualdade de gênero, raça, etnia e liberdade sexual; e participação da mulher na política, conselhos de direitos, empoderamento e cidadania.
A secretária de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul (SPM/RS), Márcia Santana recebeu a assinatura da prefeita de Lajeado, Carmen Regina Pereira Cardoso, no Pacto Nacional de Enfrentamento contra a violência a mulher. A partir disso o município poderá solicitar recursos federais para melhorias no setor.
A presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar do Rio Grande do Sul, Regina Miranda falou sobre a agricultura e representatividade da mulher. Segundo ela, 84% do setor hoje é familiar e este produz 70% da comida dos brasileiros. Para a produção as famílias ocupam apenas 25% das terras.
Regina relatou a importância da mulher no desenvolvimento da agricultura. “A mulher produz a diversidade, mas é o homem que leva o título de chefe da casa. A mulher é apenas uma ajudante na agricultura.”
A presidente do movimento de mulheres negras, Maria Omero e a cientista política, Mariela Portz também falaram sobre a importância das mulheres nas etnias e política.
Entre as sugestões de melhorias estão: mais representatividade feminina no meio rural; uma justiça especial contra violência doméstica; e assistentes sociais e psicólogas dentro das delegacias.
Por que muitas mulheres sofrem caladas?
Uma pesquisa feita pelo governo federal revela que a maioria das mulheres agredidas e não pede ajuda. Entrevistadas dizem que é difícil dar um basta na situação.
Muitas sentem vergonha ou dependem de forma emocional e financeira do agressor; outras acham que “foi só daquela vez” ou que, no fundo, são elas as culpadas pela violência; outras não falam nada por causa dos filhos, porque têm medo de apanhar. E há as que pensam, “ruim com ele, pior sem ele”.
Conforme a pesquisa, as mulheres se sentem sozinhas, com medo e vergonha. Quando pedem ajuda, em geral, é para outra mulher da família, como a mãe ou irmã, ou alguma amiga próxima, vizinha ou colega de trabalho. As que procuram em primeira instância a polícia foi porque foram ameaçadas por arma de fogo, ou espancadas com fraturas ou cortes.