As exigências dos médicos clínicos gerais expõem as dificuldades das administrações municipais em manter os atendimentos nos postos de saúde. Os profissionais rejeitam as propostas de 40 horas semanais, pois preferem ganhar menos ao trabalharem 20 horas, desde que possam atuar em outros municípios ou hospitais.
Este fato interrompeu os serviços em pelo menos duas unidades de saúde da região. O caso mais delicado é em Marques de Souza, onde o atendimento no Estratégia Saúde da Família (ESF), da localidade de Tamanduá, está suspenso desde maio. A única médica aprovada no concurso público em junho não trabalhará no município.
Ela fez o processo seletivo em Roca Sales e decidiu atuar naquele município, onde ganhará R$ 9.278 mensais. O secretário de Saúde de Marques de Souza, Alécio Weizmann, até o fim do ano tentará contratar um profissional em caráter emergencial.
Em Teutônia, o Executivo busca, há um mês, por um médico que atue por 40 horas semanais nos postos de Languiru, Alesgut e Teutônia, implicando diminuição de consultas.
Segundo a secretária de Saúde do município, Mareli Verner Vogel, a maior dificuldade está em encontrar profissionais que aceitem exercer a profissão em turno integral – mesmo que o emprego seja temporário. “Muitos preferem a residência, pois conseguem se especializar em sua área de interesse.” A remuneração oferecida para o médico, sem especialização, é de R$ 8 mil e, mesmo assim, não houve interessados.
Um levantamento feito pelo jornal A Hora aponta que, em 17 municípios do Vale, há oito vagas disponíveis. Os vencimentos variam de R$ 7 mil a R$ 10,5 mil.
Segundo a secretária de Saúde de Estrela, Adriane Mallmann, existem outros pontos que dificultam a contratação de médicos por 40 horas semanais: muitos não querem se deslocar para o interior, consideram os salários baixos e buscam a especialização.
O município tem duas vagas em aberto para trabalhar em dois ESF. Um deles é o do bairro Moinhos, onde falta médico em tempo integral há dois meses. Para viabilizar o atendimento à comunidade, remanejou um médico de outra unidade de saúde.
Ele trabalhava seis horas semanais, mas desistiu de atuar na comunidade no dia 4. Adriane desconhece os motivos da desistência.
Ganham mais que os prefeitos
Em algumas cidades, os prefeitos recebem menos que os médicos. Em Pouso Novo, onde há a carência de um médico, o pagamento oferecido é de R$ 10,5 mil – mais que o subsídio do prefeito, que recebe R$ 6,6 mil.
O mesmo se repete em Imigrante e em Sério. No primeiro, o profissional ganha R$ 12 mil, ante R$ 8,6 mil e, no segundo, o médico tem salário de R$ 10,4 mil, enquanto que a prefeita ganha R$ 7,9 mil.
Extinção do ESF
Forquetinha sanou os problemas depois que extinguiu o Estratégia Saúde da Família do município. Conforme a administração municipal, a iniciativa estimulou a contratação de novos profissionais.
São cinco médicos que trabalham 20 horas por semana. Dois atuam nos postos de saúde e três fazem atendimento domiciliar. Entretanto, a extinção do programa inviabiliza o repasse de recursos para a área da saúde. Por mês, os governos federal e estadual repassam R$ 13 mil mensais a cada ESF implantado.
Onde faltam médicos
município |
vagas |
salário |
Bom Retiro do Sul |
2 |
não divulgado |
Estrela |
2 |
r$ 7 MIL |
Marques de Souza |
1 |
r$ 9 MIL |
Pouso Novo |
1 |
r$ 10,5 MIL |
Teutônia |
1 |
r$ 8 MIL |
Sério |
1 |
r$ 10,4 MIL |
Concorrência entre municípios
Não bastassem as exigências dos médicos, a concorrência entre as administrações municipais atrapalha a manutenção dos serviços. Conforme a secretária de Saúde de Fazenda Vilanova, Luíza Helena Cézar, é comum os Executivos “retirarem” os médicos dos municípios vizinhos, oferecendo salários mais vantajosos.
Depois de ficar, em média, dois meses sem médico, o município aumentou a proposta de R$ 8,9 mil para R$ 11 mil. Hoje, as duas vagas estão preenchidas e o município espera, até o fim do ano, contratar mais dois pelo mesmo valor.
É o caso de Cruzeiro do Sul. Ao abrir um concurso público com salário de R$ 9 mil, uma médica que atuava em Estrela – e percebia R$ 7 mil mensais – decidiu mudar de município.
Hoje, ela atua em um dos ESF cruzeirense, enquanto que a unidade estrelense permanece sem atendimento em tempo integral.