As pessoas que visitam os túmulos de parentes e amigos no Cemitério da Comunidade Evangélica de Lajeado reclamam da presença quase diária de vândalos que consomem bebidas alcoólicas, danificam túmulos e, supostamente, usam drogas.
A ausência de policiamento transformou o lugar, no centro do município, em um ponto de encontro para um grupo de jovens na faixa dos 20 aos 25 anos. Muitos evitam ir ao local sem a companhia de familiares. Não houve registro de agressões ou ameaças.
Segundo o vice-presidente da comunidade evangélica Roberto Schlabitz, o medo de furtos e depredações são as maiores queixas dos associados. Uma delas relata que durante um enterro, na sexta-feira, o grupo fumava “um cigarro com cheiro esquisito”.
Um buraco na placa de metal do portão serve de entrada para os arruaceiros. Dentro, cruzes quebradas, garrafas, bitucas de cigarro sobre os túmulos e nas calçadas. Na parte dos fundos, favorita dos invasores, duas lápides estão quebradas.
Perto dali está enterrada uma personalidade célebre da região. O imigrante alemão Júlio May, intendente de Lajeado no início do século XX e homenageado pelo município com seu nome dado a uma rua.
Os registros históricos contam que o ponto comercial que possuía em Marques de Souza foi invadido e queimado diversas vezes pelos maragatos. Até agora, seu jazigo permanece intacto. A ação dos vândalos poderá repetir a sina do patriarca. “Temo que descubram se tratar de alguém famoso”, diz o vice-presidente.
O soldado Treichel, do 22º Batalhão da Polícia Militar, comenta que o local é considerado tranquilo. É comum que a ronda seja realizada nas proximidades. Como se trata de um cemitério particular, a área não faz parte do procedimento. “Caso haja denúncias pelo fone 190, a atuação será rápida.”
Segundo o jornalista e historiador José Alfredo Schierholt, entre os enterrados no local estão famílias conhecidas da comunidade: Jaeger, Berner, Born, Schlabitz, Hexsel, Stahlschmidt, Einloft, Zick, Dexheimer.
Outros mortos célebres são os professores Theobaldo Dick e Reinoldo Schneider, Álvaro da Costa Mello, os intendentes Frederico Jaeger, Carlos Fett Filho, Francisco Oscar Karnal e Orlando Affonso.
A possibilidade de transladar os restos mortais para o novo cemitério evangélico, no bairro Floresta, e transformar o espaço numa praça foi discutida. “É difícil, pois mexe com as raízes e sentimentos das pessoas.” Segundo ele, a única certeza é de que os “trogloditas modernos” perambulam pelas ruas altas da noite e da madrugada certos da impunidade.
Cemitério recebeu câmeras
No cemitério São José, no bairro Conventos, a situação é semelhante. A solução encontrada pela comunidade católica foi instalar câmeras de vigilância. Inúteis quando desligam as luzes do local. O tesoureiro Hércio Hepp conta que a presença de usuários de drogas e “macumbeiros” é frequente.
Túmulos quebrados e confrontos de moradores com invasores eram comuns quando não havia iluminação e vigilância. Hepp conta que pouco antes do início da madrugada de sábado, um grupo de jovens esteve no local. Eles usaram óleo diesel para acender fogueiras. Em sua opinião uma forma de sinalização.
Os moradores ficaram assustados e havia risco de incêndio. Tiago Kappes, um dos organizadores do II Rali Lajeado, realizado no fim de semana, diz que o grupo esteve no pátio da casa da família Kasper Richter, com a autorização dos proprietários, das 20h até as 21h para a realização de tarefas.
Segundo ele, não houve fogueira ou invasão no cemitério. Hepp diz que não foram causados danos. O espaço é privado e toda a movimentação no local deve ser autorizada pela comunidade católica.