Irisonia Weruck Lenhardt foi a única sobrevivente do acidente que aconteceu na segunda-feira, em Baixo Canudos. Depois de três dias, em casa, emocionada, conta o drama que passou naquela manhã.
Com queimaduras, hematomas e escoriações por todo o corpo, Irisonia está sob cuidados de amigos. Entre as palavras que mais repete estão: “Nasci três vezes: tombo, fogo e água.”
Por volta de 10h30min, Odir Corbelini, Doraci Müller, Laurindo Lenhardt e Irisonia em um Fusca seguiam para a Festa do Colono do município. Quando na RS-421, o motorista perdeu o controle da direção e o veículo caiu no barranco de aproximadamente cem metros de altura.
Os corpos de Corbelini, Doraci e Lenhardt foram encontrados fora do carro – os homens estavam na água e a mulher na descida do barranco. A sobrevivente ficou presa sob o banco do Fusca.
Irisonia foi salva pelo agricultor Jacir Fusiger, que ouviu o barulho do carro despencando o barranco, e pelo secretário de Saúde do município que a levou até o hospital.
Como aconteceu
– Os dois casais se deslocavam de Canudos do Vale para Forquetinha, em comemoração ao dia do colono.
– O motorista perdeu o controle do veículo em uma curva da RS-421.
– O Fusca desceu o barranco e parou sobre as pedras do Arroio Forquetinha.
Entrevista
Jornal A Hora: Como foi o acidente?
Irisonia: Lembro só dos tombos. Não sei quantas vezes rolou. Estava sentada com o meu marido no banco de trás. Na minha frente estava Doraci. Não estávamos conversando. Meu marido ainda deu um suspiro. O carro rolou o barranco e não vi nada. Sei que tinham pedras no caminho que provocavam muito barulho na lataria do carro.
A Hora: Você se lembra do lugar do acidente?
Irisonia: Não sei onde é o lugar porque passamos muito pouco por lá. Nós estávamos indo para a Festa do Colono.
A Hora: Como lhe encontraram no carro?
Irisonia: Eu tinha as pernas para cima e o corpo dentro da água. Eu estava toda preso e a água batia na boca. A única mão livre tirava a água que estava me sufocando. Tentava me mexer, mas não conseguia. Estava muito presa. Eu tinha força, mas não sei se ia resistir muito ainda.
A Hora: Qual foi sua reação?
Irisonia: Eu gritava socorro, socorro. Chamava pelo meu marido: “Laurindo tu ainda tá no carro? Eu tô presa aqui.” E ele não respondia. Gritava: “Onde vocês tão? Vivem ainda?” Em seguida, comecei a escutar pessoas conversando e um barulho de trator. As pessoas me diziam para ficar calma que iam me tirar de lá. Depois vieram mais pessoas e elas falavam dos corpos. Diziam: “Vamos deixar os corpos e tirar a viva do carro.” Daí sabia que os outros tinham morrido. Não perdi a memória. Lembro de tudo.
A Hora: Sabe o que o motorista estava fazendo na hora do acidente?
Irisonia: Eu não sei o que o Odir estava fazendo. Eu só cuidei que logo na frente tinham dois caminhões de concreto e ficava pensando o que estavam fazendo lá. Daí não cuidei do motorista. A gente quase não conversava dentro do carro, porque a gente não se entendia direito. Deixávamos para conversar, quando saíamos do carro.
A Hora: Há quanto tempo se conheciam?
Irisonia: Ficamos mais amigos depois que Odir foi morar com Doraci, desde o início do ano. Sempre estávamos juntos. Como não tínhamos carro, eles sempre vinham aqui e saíamos para os lugares. Eu e o Laurindo éramos casados há 42 anos e ele sempre cuidava de mim. Eu tinha muitas dores nas costas e ele sempre pedia para que eu parasse de trabalhar tanto na roça.
A Hora: Quem estava com o cinto de segurança?
Irisonia: Eu era a única que não estava usando o cinto. Quando o Odir e a Dora chegaram lá em casa vi que estavam. Daí Laurindo colocou, quando entrou no carro. O meu estava ruim de colocar, daí o Odir disse: “Não precisa colocar. É logo ali.” Agora isso foi minha salvação, porque os outros morreram.