A segunda edição da AgroInd Familiar retratou o potencial do agronegócio da região e reforçou a crescente demanda do mercado de alimentos. Notícias que agradam os expositores e desafiam a iniciativa pública e privada a criarem políticas de assistência técnica com foco na qualificação. Esta é a única fórmula para garantir a sustentabilidade.
No debate promovido pelo jornal A Hora com o tema “A produção de alimentos e as políticas públicas como suporte da agricultura” foi destacada a importância de estancar o êxodo rural, profissionalizar os produtores e dar subsídios que encorajam novos empreendedores.
Participaram do evento o presidente executivo da União Brasileira de Avicultura (Ubabef) e ex- ministro da Agricultura, Francisco Turra; o deputado federal Elvino Bohn Gass (PT); e o secretário da Agricultura e agricultor Jorge Mariani, de Garibaldi. Durante duas horas, apresentaram um panorama mundial, nacional e regional sobre o agronegócio. São otimistas em relação aos lucros, mercados e qualidade dos produtos, desde que os governos e agricultores saibam aproveitar o potencial.
A seguir, a opinião e projeções de cada palestrante.
“Seremos a segurança alimentar do mundo”
Francisco Turra enfatizou que a tendência do Brasil está na produção de alimentos e na bioenergia. As projeções indicam, segundo Turra, que em 50 anos a população mundial demandará 100% mais alimentos, sendo que o Brasil produzirá 40% do total consumido no mundo.
Ele diz que o governo deve criar políticas e oferecer programas que valorizem a produção de alimentos. “Aqui tudo o que se planta dá. Precisamos produzir e transformar o produto para que o lucro e o emprego fiquem aqui.”
O ex-ministro destacou a necessidade de priorizar a competitividade, qualidade, sanidade e abertura de novos mercados. Diante do cenário otimista, porém, fez um alerta.
Para ele, o governo demora demais para incentivar a produção de alimentos. Criticou a burocracia exagerada e a falta de assistência técnica, que deixam, muitas vezes, os produtores sem foco.
Turra observa que o governo e a sociedade brasileira precisam conhecer e apoiar o agronegócio que representa 25% (R$ 642 bilhões) do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (R$ 2,5 trilhões), sustentando 37% dos empregos e 36% das exportações. “O Brasil é a reserva do mundo. Nos diversos países por onde passei como presidente da ABEF, inclusive na Organização Mundial do Comércio, ouvi que o Brasil é a reserva de alimentos do mundo. Somos um porto seguro para investimentos.
A respeito dos grandes desafios do Brasil, ele relata que a tendência é de aumento na área para agricultura e o desafio é ter equilíbrio ecológico. “Se o Brasil tiver queimadas, desmatamentos e outros problemas sofrerá barreiras não tarifárias. Devemos desenvolver políticas agrícolas e buscar certificações para abrir as portas do mundo, passando por treinamento, conscientização e mudança de paradigmas.”
Segundo Turra, o produtor sabe a importância de preservar o ambiente, mas esta consciência deve abranger todos os processos da cadeia produtiva. Para ele, o conceito de sustentabilidade será cada vez mais amplo.
Políticas e programas de incentivos
O deputado federal Elvino Bohn Gass (PT) cita que a vocação do agricultor brasileiro é de produzir alimentos. Comenta que o governo faz sua parte, criando programas de incentivo e novas linhas de créditos com juros mais baixos e mais prazos de pagamento.
A agricultura familiar terá à disposição no Plano Safra 2011/12 R$ 16 bilhões para as linhas de custeio, investimento e negociação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Do total oferecido, R$ 7,7 bilhões serão destinados a operações de investimento e R$ 8,3 bilhões para operações de custeio.
O Plano Safra traz a Política de Garantia de Preços Mínimos da Agricultura Familiar. “Isso garante lucro na hora da venda da safra.”
Gass destacou a criação do Plano Safra regional pelo governo do estado e a contratação de 200 novos profissionais técnicos para a Emater/RS-Ascar. Segundo ele, assim será possível qualificar o agricultor e fazer com que seu filho fique na propriedade produzindo alimentos.
“O agricultor se tornou o peão das grandes empresas”
O secretário da Agricultura e agricultor, Jorge Mariani, de Garibaldi, diz que o agricultor precisa se profissionalizar e ter orgulho de sua profissão. Cobrou mais assistência técnica e alternativas que garantam lucro para quem vive da produção de alimentos.
Ele citou que a sucessão na propriedade deve ser trabalhada a partir das escolas com a grade educacional adaptada para a realidade local. “Precisamos mostrar que a Coca-Cola e o salgadinho não alimentam as pessoas.”
Com base no município de Garibaldi, Mariani diz que a formação de cooperativas e a instalação de agroindústrias são alternativas para evitar o êxodo rural. “A união de forças faz a diferença.”
Ele comentou que o governo deveria criar políticas para valorizar a agricultura familiar. “No discurso dos políticos temos tudo, mas na prática ainda falta muita coisa. Ficou fácil pegar dinheiro, mas temos que pagar”, cobra. O banco não quer saber os motivos de uma quebra na safra. Querem o pagamento em dia e nada mais.”
Para ele, uma das saídas é garantir qualidade de vida no meio rural com investimentos em profissionalização e valorização da produção. Contudo, salientou que o sucesso da propriedade não pode estar atrelado a incentivos dos governos.
Saber aproveitar melhor as riquezas e conscientizar para novas práticas de produção é determinante para garantir espaço. Ele diz que, em Garibaldi, transformamos casas abandonadas em vinícolas e hoje levamos milhares de turistas para lá todos os anos. É mais uma forma de ganhar dinheiro”, exemplifica.