A produção orgânica e a criação de políticas públicas voltadas à agricultura familiar foram assuntos discutidos durante o primeiro dia de eventos técnicos e seminários da 2ª AgroInd.
Conforme o professor Glauco Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), um dos desafios para os próximos anos será produzir um alimento saudável para atender as exigências dos consumidores que estão cada vez mais preocupados com sua saúde.
A projeção é que até 2014 o consumo desses alimentos cresça 39% e chegue aos R$ 39,2 bilhões. Na região, a produção é insuficiente para satisfazer a procura crescente.
Conforme dados apresentados por Schultz, há um crescimento de 5% ao ano de faturamento nos orgânicos, com relação a 2008. No mundo são 37,2 milhões de hectares com sistema de orgânicos de produção agropecuária, sendo 12,2 milhões na Oceania, 9,3 na Europa e 8,6 na América Latina.
Austrália, Argentina e Estados Unidos são os países com maior área. Do total, 23 milhões de hectares são de pastagem, 5,5 milhões de cultivos anuais como o arroz, que corresponde a 2,5 milhões de hectares, e 2,4 milhões de hectares com cultivo permanente como café e azeitona.
No mundo, hoje, são 160 países produtores de orgânicos, destes 74 com regulamentação. O planeta tem 1,8 milhão de agricultores que produzem sem agrotóxicos. No Brasil são 90 mil, sendo 246 no Vale do Taquari, destes 31 certificados. Os dados são do Censo de 2006.
O país com maior número de produtores de orgânicos é a Índia, com 600 mil. A atividade envolve cerca de dois milhões de agricultores em todo mundo. Os maiores consumidores são os Estados Unidos e a Alemanha. “Oferecer ao consumidor um produto saudável deveria ser um compromisso de todos que produzem alimentos.”
Eduardo Amaral, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de Santa Catarina, disse que os governos precisam oferecer incentivos para o crescimento do setor. “Assim como no passado foram oferecidas linhas de crédito e pesquisa para a produção convencional, são necessárias alternativas na produção orgânica.”
De cada R$ 100 vendidos pelos supermercados brasileiros, apenas R$ 0,54 são lucrados com a venda destes produtos, de acordo com dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Hoje, os alimentos orgânicos estão presentes nas prateleiras de 27% dos supermercados do país.
Legalização
Durante a sexta-feira pela manhã, foi realizada uma audiência para debater o Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf).
O projeto prevê a unificação das agroindústrias familiares do Rio Grande do Sul, permitindo a liberação da venda dos produtos em todo o estado. Hoje, eles só podem ser vendidos no município onde a agroindústria é registrada.
Pouco mais de 560 agroindústrias estão legalizadas no estado. O governo acredita que mais de sete mil trabalham de maneira informal.
Ricardo Fritsch, diretor do Departamento de Agroindústrias Familiares da Secretaria do Desenvolvimento Rural, diz que a legalização será uma oportunidade de muitos agricultores aumentarem seu lucro, sua produção e o número de clientes.
Proprietário de uma agroindústria de embutidos localizada em Nova Prata, Cleio Koprouski investiu cerca de R$ 80 mil para adequar sua produção às exigências do Sistema de Inspeção Municipal.
Sua produção chega a 350 quilos por semana, mas poderia ser maior. Observa que o mercado interno está saturado. “Nós chegamos num patamar que não tem mais o que crescer. Só se o pessoal de outros municípios vier comprar aqui. A aprovação deste projeto seria uma nova oportunidade de crescimento.”
Koprouski diz que este projeto garante a sucessão na sua propriedade. Cita que os dois filhos deixaram o emprego na cidade e voltaram para assumir a gerência do negócio. “Eles dependem deste sistema de unificação das agroindústrias para garantir mais lucro e poderem fazer novos investimentos.”
Fique atento
A 2ª AgroInd se encerra no domingo. O ingresso é de R$ 5 por pessoa. No sábado, os portões no Parque do Imigrante abrem das 9h até as 21h. No domingo o horário de visitação é das 9h às 18h.