As duas empresas que têm concessão para o transporte coletivo na cidade terão de oferecer mais um serviço a partir do dia 18 de julho – o transporte seletivo. A mudança foi imposta pela administração municipal para abrandar o fluxo de veículos no centro da cidade.
O seletivo é um micro-ônibus com rota definida como o urbano, sem ponto específico, parando só onde o passageiro solicitar. Isso o torna mais ágil.
Esse transporte será R$ 0,60 mais caro, atendendo em horários com problemas de superlotação ou que antes não tinham transporte coletivo.
A necessidade foi apontada em um estudo feito pelo governo municipal. A partir dele foi identificado que por dia, passam no perímetro urbano de Lajeado, 90 mil carros. No mês o número ultrapassa 1,2 milhão.
Os dados são alarmantes e conforme o coordenador do Departamento de Trânsito do município, Luis Felipe Finkler, serviram como apoio para as alterações.
No início do ano passado foram feitas mudanças no trânsito central da cidade com o mesmo objetivo, de diminuir os problemas com o fluxo, devido ao aumento da frota. Por ano ela cresce cerca de 6%.
A empresa Scherer ainda estuda como atuará com o seletivo. A empresa Ereno Dörr tem uma nova rota definida. Ela atenderá o bairro Americano com as mudanças. Conforme o gerente Fabrício Eduardo Schneider outros pontos da cidade estão em análise.
Cerca de 15 mil pessoas usam por dia o transporte coletivo em Lajeado. O número é considerado irrelevante pelo gerente quando comparado com Bogotá, na Colômbia, onde em um corredor de ônibus mais de 1,7 milhão de pessoas usam por dia o serviço.
Ele salienta a importância de oferecer infraestrutura para motivar as pessoas a utilizarem o transporte e elenca uma lista, a maioria se relaciona aos pontos. Entre os itens consta: iluminação, acesso com calçadas e sinalização.
Conforme o Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK) em Lajeado há 1,6 passageiro por quilômetro rodado que usa transporte urbano e 0,9 passageiro quando se trata de transporte seletivo.
As alterações de serviço estão em análise na assessoria jurídica do município. O setor avalia a legalidade das alterações no contrato licitatório e nos próximos dias deverá se reunir com as empresas para definir o trabalho.
Painéis informativos
O gerente da empresa Ereno Dörr afirma que protocolou na semana passada um pedido na administração municipal de Lajeado solicitando painéis luminosos que informem a rota e os horários em que passam ônibus. Ele indica a necessidade de mais informação, pelo menos nos principais pontos de embarque da cidade: Unicshopping, rodoviária, INSS, Parque dos Dick e Benoit.
Caso o município não queira investir no utilitário, ele sugeriu que as empresas o custeiem. Segundo o gerente, sua empresa está disposta a pagar um painel maior, semelhante a um outdoor, com informações sobre rotas de sua empresa.
Andar de ônibus é mais barato
O economista Adriano Strassburguer calcula as vantagens e desvantagens de usar o transporte coletivo e alega que os pontos positivos são 90% maiores.
Ele analisa que no exemplo de Lajeado, para ir até o centro da cidade com um carro se gasta gasolina, o desgaste do veículo, estacionamento rotativo ou particular, e se corre o risco de furto. Com o ônibus se paga só a tarifa.
Segundo o economista, as principais desvantagens do ônibus são os horários e descer nas paradas, diferente do que se faz com o carro quando é possível estacionar em frente ao local que deseja ir.
Strassburguer diz que as pessoas precisam mudar a cultura e se adaptarem ao sistema. “Lajeado não é mais uma cidade pequena.” Ele conta que em Canoas as pessoas ficam felizes quando conseguem estacionar o carro a pelo menos quatro quadras do local pretendido e em Lajeado as pessoas não querem caminhar.
Entrevista com o engenheiro de trânsito, Mauri Panitz, integrante da equipe que reestruturou o trânsito de Lajeado
Jornal A Hora do Vale – O transporte seletivo pode diminuir o fluxo de veículos que circulam na cidade, hoje em 90 mil por dia?
Mauri Panitz – Sim, uma pequena parte, entre 15% e 20%, penso eu. Porém, tudo vai depender da oferta, da qualificação do transporte, da tarifa e de uma campanha prévia de conscientização do público alvo.
A Hora – De que forma se pode incentivar a população a usar este transporte?
Panitz – O incentivo não vem sozinho, precisa de um impulso. Ele sempre é acompanhado do estímulo (vantagem econômica, por exemplo), e da motivação (exposição das causas). Essa exposição das causas seria, por exemplo, uma discussão com a comunidade, debates na mídia, em todas elas.
A Hora – Quanto a cultura brasileira (todos querem carro) atrapalha e lota as ruas das cidades maiores?
Panitz – A cultura brasileira talvez seja o maior problema, ainda somos subdesenvolvidos nessa área. No Brasil prevalece a cultura do jeitinho, da lei de Gerson, do individualismo, da afirmação e do poder a qualquer custo.
Temos uma cultura dos “colonos, migrantes ou imigrantes” que passaram fome e dificuldades. E assim, por falsas razões, permitem que seus filhos desrespeitem seus semelhantes e façam tudo o que tiverem vontade, sem limites.
Esquecem-se dos princípios morais e éticos, da educação, da caridade, da solidariedade e do amor ao próximo. Sem essas bases não há sociedade ou comunidade sadia.
A Hora – E as questões ambientais. As pessoas se dão conta do quanto os veículos poluem?
Panitz – As questões ambientais são fundamentais, pois os veículos são os maiores poluidores por emissão de gases, mais do que a própria indústria. As pessoas não têm ideia do quanto os seus veículos poluem. E as motos que poluem muito mais do que os automóveis?
A Hora – Fale um pouco mais sobre o endividamento das pessoas para comprar carros e a falta de seguro, nem para terceiros, da maioria dos motoristas
Panitz – As pessoas são fissuradas pelos automóveis. Estes agem como as drogas que dão um falso prazer aos viciados e depois criam problemas insolúveis e a morte. O automóvel funciona como uma arma, que as pessoas não sabem usar adequadamente.
Usam-nas para obter prazer, emoção, adrenalina e outras “inas”, a partir da velocidade. Os homens pensam que ficam irresistíveis, as mulheres já estão no mesmo caminho, pensam até que um utilitário esportivo lhes deixa mais sexy, mais poderosas.
Comportam-se ambos, como verdadeiros imbecis, imaturos, desnorteados na vida. Os automóveis depois do prazer causam a dor, destroem vidas e famílias. Basta ver que todos os acidentes param na Justiça para responsabilizar os responsáveis, que jamais pensaram que ter automóvel era uma fonte interminável de dores, tristezas e prejuízos.
O que difere o urbano do seletivo
Seletivo |
– Veículo moderno; |
– Poltronas semelhantes a ônibus de viagem; |
– Ar condicionado; |
– Vaga para menos passageiros; |
– Custará R$ 3 |
Urbano |
– Para nas paradas de ônibus; |
– Tem capacidade para mais de 30 pessoas; |
– Menos confortável; |
– Custa R$ 2,40 |