Oúltimo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o município de Imigrante ocupa o quinto lugar no Brasil em alfabetização. Na cidade de 3.025 habitantes, só 34 pessoas não sabem ler e escrever. Arroio do Meio é a segunda melhor colocada da região, ficando na 18ª posição no país.
Há duas décadas no estado é líder no país nos índices de alfabetização. No ranking nacional seis cidades gaúchas estão entre as dez com os menores índices entre a população adulta. Mesmo assim, no Vale do Taquari, 10.938 pessoas são iletradas.
É a segunda vez que Imigrante se destaca em educação no país. Em 2007, conquistou o primeiro lugar no Brasil no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O Ministério da Educação concedeu à administração municipal um selo de município sem analfabetos entre crianças.
No mesmo ano, a Escola Municipal Santo Antônio, do bairro Daltro Filho, foi classificada como a melhor escola municipal do país nas séries finais do Ensino Fundamental. Essa escola, em 2010, recebeu melhorias no prédio que custaram cerca de R$ 320 mil.
Conforme o prefeito Paulo Gilberto Altmann o segredo para alcançar o índice de destaque em educação é investir em infraestrutura do setor. Nos primeiros quatro meses deste ano, o município investiu 26,11% da receita – R$ 881.700,77 – em manutenção e desenvolvimento do ensino.
Os valores são distribuídos na biblioteca, capacitação de professores, valorização salarial, construções e reformas, alimentação, recursos didáticos e tecnológicos e no transporte escolar. “A população tem vontade de estudar porque recebe incentivo para isso”, conta o prefeito.
Imigrante tem seis escolas – cinco da rede municipal e uma da estadual – e mais duas escolas de Educação Infantil. O último curso de Educação para Jovens e Adultos (EJA) foi oferecido no município em 2009. Conforme informações da Secretaria da Educação, depois disso não houve mais interessados.
Economistas ligados à educação alertam que os números positivos podem levar a uma sensação de que está tudo bem no ensino gaúcho. E avaliam que os números menores de analfabetos no estado não significam qualidade no estudo e nem que são baixos.
Elas são exemplos deleitura em Imigrante
Elka Hassmann, 83 anos, é exemplo de cultura no município. Ela é uma das leitoras mais assíduas da Biblioteca Municipal. Todas as semanas, ela retira literatura alemã e diz que viaja no contexto dos livros.
Mulher viajada, Elka conhece toda a Europa e quando não pode ir até lá, lê. “A leitura é um alimento para o espírito. Eu viajo nas histórias. Retiro romance, histórias e contos de países.”
Com intenções semelhantes a de Elka, mas com apenas 7 anos está Maria Eduarda Delawi. Semanalmente ela retira na biblioteca, gibis e livros infantis para viajar nas fantasias que os contos lhe oportunizam.
Com uma bolsinha transpassada pelo peito Maria Eduarda chegou à biblioteca, na manhã de ontem. Sozinha, ela trouxe os seis livros que retirou há cinco dias. Com entusiasmo, mas tímida, disse que leu todos.
As cidades que estão no topo
Arroio do Meio é a segunda cidade na região com os menores índices, proporcional ao número de habitantes. Conforme o censo do IBGE, há 290 analfabetos entre os 15.191 habitantes adultos. Isso representa 1,87% e coloca o município no 18º lugar do ranking nacional. Encantado, cidade com número populacional semelhante, tem 551 iletrados.
A secretária de Educação de Arroio do Meio, Eloise Hammes, diz que pretendem influenciar os outros analfabetos a estudarem. Segundo ela, a administração municipal tem parceria com o Conselho do Idoso para incentivar a leitura.
Westfália e Teutônia não aparecem em 20 cidades brasileiras, mas têm índices semelhantes a 20ª colocada – Santa Maria do Herval, com 1,91%. Elas ocupam a terceira e quarta posição do ranking regional.
Os últimos da lista
Progresso, Putinga, Pouso Novo, Canudos do Vale e Sério são as cinco cidades no fim da lista com os maiores percentuais de analfabetos da região. Em Sério, 11,9% dos 1,9 mil habitantes com mais de 15 anos não sabe ler e escrever. São 227 analfabetos.
A secretária Municipal da Educação, Milena Rodrigues, diz que não há interessados no curso do EJA, por isso o município não abriu vagas neste ano. Ela afirma que estruturará uma forma de mudar o quadro no município, mas adianta que por questões culturais o interesse das pessoas em aprender a escrever será baixo.
Segundo ela, a maioria dos analfabetos do município mora em localidades mais distantes do centro e tem mais idade. “Eles justificam que estão velhos para aprender e que conseguiram se virar até agora sem ler.”
Educação voltada para alfabetizar
Em 14º lugar no ranking do Vale do Taquari está Santa Clara do Sul. Dos 5.692 habitantes, 184 são iletrados. Para mudar esta realidade desde 2010 a Secretaria de Educação criou a Alfabetização de Jovens e Adultos (AJA). Nos próximos dias, 11 pessoas de 33 a 73 anos estarão formados, sabendo ler e escrever. Eles estarão aptos para seguir no curso do EJA de 5ª a 8ª série.
Em 1997, a cidade recebeu o título de Município livre do Analfabetismo. O selo é o mesmo que Imigrante recebeu em 2007. O secretário da Educação, Gilmar Antônio Hermes conta que o município trabalha todos os anos para abrandar os números, mas cita que é impossível zerar.
Segundo o secretário, todos os analfabetos são procurados para participarem dos cursos, mas alguns ignoram por vergonha.
Santa Clara do Sul iniciou as aulas para jovens e adultos, há cinco anos, para melhorar a educação e a forma que os agricultores administram suas propriedades. As atividades passaram por Alto Arroio Alegre, Sampainho e Nova Santa Cruz, totalizando a formação de mais de cem alunos.
Hermes, que também foi professor do EJA, explica que quem leciona para adultos precisa diferenciar o conteúdo porque o próprio aluno exige mais do profissional.
Dados do segmento revelam que um adulto, pela bagagem de conhecimento que tem, se interessa muito mais por educação do que um jovem. A indicação para os EJAs é transformar o conteúdo usando assuntos do cotidiano dos estudantes.