Uma fábrica de café instalada há um ano no município pode ser fechada pela administração municipal, caso o mau cheiro da torrefação do café continue incomodando os moradores do bairro Imigrantes. A empresa, situada às margens da BR-386, no bairro Imigrantes, foi notificada por duas vezes: em dezembro de 2010 e no dia 2 de maio deste ano.
A secretária do Meio Ambiente, Ângela Schossler, informa que o empresário Melchior Spessato tem até o dia 2 de agosto para solucionar o problema. Ela salienta que ele solicitou 90 dias para instalar uma máquina automatizada de torrefação.
Ângela conta que, durante a última reunião com o empresário, o engenheiro mecânico da empresa, Carlos Osterkamp, disse que a aquisição da máquina era necessária para reduzir o impacto na vizinhança.
A secretária salienta que conversará com os moradores até o dia 5 de agosto para verificar se a máquina instalada solucionou o problema. “Demos um ano para a empresa resolver o problema, o que é mais do que o suficiente.”
Spessato ressalta que a resolução deverá demorar mais do que o tempo determinado pela administração municipal. Segundo ele, a nova máquina será instalada até o prazo final e que uma solução efetiva ocorrerá só em 90 dias.
“Isso é o que veremos”, avisa Ângela. A secretária informa que o empresário sabe dos riscos assumidos a partir da segunda notificação e que a empresa pode ser embargada pela administração municipal.
Divergência em Cruzeiro do Sul
Desde que um curtume voltou a funcionar no bairro Morro 25, em Lajeado, há dois anos, a comunidade ficou dividida: enquanto uns reclamam do mau cheiro ocasionado pela atividade, outros dizem que é só uma questão de costume.
O ambulante Juliano Machado, 26 anos, reclama do forte cheiro que sai da empresa. Ele diz que um abaixo-assinado foi assinado e encaminhado à prefeitura para que o problema fosse minimizado, mas salienta que a tentativa foi frustrada.
“Depois das 18h o cheiro é insuportável.” Machado questiona a informação de que o proprietário, Renato Koefender, utiliza aromatizantes para diminuir o problema.
A moradora Elenita Carvalho, 52 anos, discorda dos críticos. Segundo ela, o mau cheiro só incomoda quem não está acostumado com a atividade do curtume. Elenita ressalta que não assinou o abaixo-assinado, quando teve a oportunidade.
“A empresa investe na comunidade e muitos dos que estão aqui dependem dela para sobreviver.” A moradora teve o apoio do empresário para pagar o velório do marido, que trabalhava no local. Ela acredita que, caso o curtume seja fechado outra vez, os empregados não terão outro local para trabalhar.
Koefender informa que investe para evitar o mau cheiro. Ele diz que gasta R$ 100 mil por mês em aromatizantes e produtos que o amenizam. “Não temos como extinguir o mau cheiro, mas o amenizaremos”, promete.
O empresário diz que a questão será resolvida dentro de oito meses. A empresa pretende implantar uma nova metodologia na estação de tratamento, a mesma utilizada pela Petrobras nas plataformas de petróleo.
Moradora pensa em se mudar
Enquanto a administração municipal aguarda o término do prazo para decidir o futuro da empresa, os moradores se irritam com o mau cheiro da queima do café. Maria Gandini, 71 anos, diz que ela e a família pensam em se mudar de bairro.
A aposentada está entre os 123 moradores que assinaram o abaixo-assinado que solicitava a resolução do problema. O documento foi protocolado na administração municipal no dia 7 de dezembro de 2010.
“Pela manhã, eu e meu marido precisamos fechar as janelas porque não dá para aguentar o mau cheiro.” Ela desistiu de limpar a fachada da casa porque a fumaça volta a sujar as paredes.
A moradora Lenita Francisca da Silva, 63 anos, reclama que tem dores de cabeça com o mau cheiro. Os vizinhos concordam. A filha de uma moradora cancelou a visita com receio de que o problema afete a saúde do filho.
Spessato diz que a comunidade precisa se acostumar com o cheiro. Ele compara o problema com o odor existente em produções de suínos. Segundo Spessato, empresários mineiros de café, em visita à sua fábrica, disseram que isso é comum e que naquele estado não há reclamações. “Eu não estou matando ninguém. Não há necessidade de se criar essa polêmica.”