A cada três dias, em média, uma ocorrência de lesões corporais em escolas é registrada, conforme dados da Polícia Civil. Em Forquetinha, no dia 20, um aluno foi agredido pelo zelador da escola, que lhe bateu na boca e arranhou seu pescoço. Em outra, de Lajeado, um estudante teve a perna quebrada ao ser empurrado pelo colega.
Segundo a diretora de uma escola estadual de Lajeado, Sandra Mallmann, no dia 2, um jogo de futsal terminou com alunos envolvidos numa pancadaria. Afirma que os pais foram chamados e orientados sobre a punição que seus filhos sofreriam: deixar de participar da próxima interssérie.
Um dos problemas mais frequentes é a presença de grupos na frente do colégio. Em setembro de 2010, um rapaz invadiu o pátio e agrediu um aluno. Conforme a diretora, depois disso, foi criado o esquadrão antibullying, formado pelos próprios alunos. O grupo identifica os primeiros sinais de abusos ou exclusão de colegas. Palestras sobre o tema são realizadas aos pais.
Há nove registros de ocorrências na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Lajeado (DPPA) envolvendo estudantes. Conforme o tenente coronel do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) Antônio Scussel, a Brigada Militar segue normas do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) ao intervir nas brigas. Crianças, por exemplo, não podem ir à delegacia, nem serem conduzidas num camburão.
Para ele, a responsabilidade dos pais não pode ser transferida. “Não coloquem filhos no mundo para entregá-los tão somente à escola ou à polícia.”
Quem ensinará os pais?
Segundo a psicóloga Cláudia Sbaraini, a violência está ligada ao ambiente familiar, pois os jovens reproduzem a vivência de casa. A falta de limite – principal filtro às ações – transforma a raiva em agressão.
Salienta que a falta de habilidade dos pais ao lidarem com as frustrações são exemplos mais fortes do que os vídeos e desenhos televisivos, considerados estimulantes à violência.
A exposição das crianças aos problemas mal-resolvidos dos adultos encurta a infância, prolongando a adolescência. “Prova disso é a atitude de pessoas com mais de 25 anos sem maturidade para resolver conflitos simples.”
Segundo a psicopedagoga Raquel Lenhartd, os pais ficam muitas vezes espantados com o desrespeito e a ingratidão dos filhos, mas não percebem que eles buscam atenção. “O problema é a omissão. Nem sempre os pais são agressivos.”
Diz que o contexto social deste século é de casais que trabalham e terceirizam a educação dos filhos. Há creches que cuidam de crianças a partir dos quatro meses.
Há pais que, pela falta de tempo, compensam as crianças com presentes e não lhes deixam faltar nada. Com o despreparo dos pais e das instituições, os primeiros sinais do descontrole aparecem na sala de aula e terminam, muitas vezes, na polícia.
Alguns casos registrados no mês de maio
20/5 – Colégio Madre Bárbara
O pai de um estudante da escola conta que seu filho de 12 anos quebrou a perna direita dentro da sala de aula depois de ser empurrado por um colega. Conforme o relato do pai, a escola não acompanhou seu filho até o hospital. Em nota, o colégio diz que não foi uma briga, mas um “tropeçar de um deles”.
13/05 – Colégio Estadual Presidente Castelo Branco
Menina de 16 anos saiu da aula ao meio-dia e quando passava pela praça foi agredida por uma colega. Ela foi derrubada depois de ser puxada pelos cabelos e teve o pescoço arranhado, sendo que o namorado da agressora impedia que outros a socorressem.
12/05 – Colégio São Bento
Pais ameaçam vizinhos depois de briga entre os filhos. A mãe conta que seu filho havia brigado na escola e depois de agredir uma menina com um soco na boca foi ameaçado pelos familiares da vítima.
4/5 – Escola Lauro Mathias Muller
Professora registrou que há alguns dias, o aluno de 14 anos ameaça fazer alguma coisa contra a escola e que na última disse que “traria uma arma e atiraria em todo mundo”.