Não há fórmulas mágicas na hora de encarar a responsabilidade de prover sustento e equilibrar o cotidiano, dando carinho e limites aos filhos. Mas, em uma coisa nossas entrevistadas concordam: fé e coragem não podem faltar para seguir adiante frente às dificuldades da vida.
De acordo com dados do Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento do número de mães solteiras no Brasil impressiona. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2005 e 2009, 1,5 milhão de mulheres entre 16 e 24 anos declararam que criam os filhos sem a presença homem. De 1970 para cá, o número de mães solteiras aumentou em cerca de cinco milhões.
Recentemente, Julieta Isse, completou 80 anos na companhia dos cinco filhos e sete netos. Natural de Vila Fão e residindo em Lajeado, ela ficou viúva aos 29 anos. Seus valores e fé foram os principais companheiros na hora de encarar o desafio de criar cinco filhos homens.
Em sua opinião, dosar disciplina e carinho garantiu bases sólidas para a família que hoje retribui a dedicação com amor e presença constante em sua rotina.
Ela conta que trabalhava em uma farmácia, quando conheceu o marido Jorge José Pedro Isse, de origem síria e dez anos mais velho. “Até começarmos a namorar, foram mais de seis meses de passeios, cinema e conversas. Aquele tempo era bem diferente.”
O casamento ocorreu em 1959 e os cinco filhos vieram em um intervalo de menos de sete anos. Com a família crescendo e a rotina estabilizada, Julieta pensava que tudo estaria definido para o resto da vida. O destino, como sempre, foi imprevisível e em um dia qualquer o marido, que trabalhava em frente de casa, foi fulminado por um ataque cardíaco.
Disputas familiares e uma depressão cada vez mais aguda motivaram a viúva a se mudar para Lajeado, perto de parentes, e iniciar vida nova. Ela conta que não conseguia aceitar a morte do marido e os primeiros dez anos vividos em meio a uma depressão foram os mais difíceis de sua vida.
Ela recebia a pensão do marido, mas dependia da venda de seus trabalhos em crochê para completar o orçamento da família. Ao mesmo tempo, precisava administrar a casa e cuidar dos cinco rapazes que desenvolviam suas personalidades e testavam seus limites. “Mesmo sofrendo, precisava mostrar que tudo ia bem.”
Quando a situação ficou próxima do insustentável, Julieta encontrou na religião católica um apoio que até hoje considera fundamental. Ela participa das atividades da igreja que considera a sua segunda casa e diz que nada substitui a presença de Deus em sua vida. “Fiquei muito feliz no meu aniversário de 70 anos, quando foi celebrada uma missa em minha homenagem a pedido de minha família.”
Hoje, os filhos são empresários e, junto aos netos, presença garantida nas celebrações familiares. “Quase todos nós moramos em Lajeado, isso faz com que possamos estar sempre perto”, diz o mais velho, José Augusto Isse.
Para Julieta, a mulher que por algum motivo assume a responsabilidade de ser pai e mãe ao mesmo tempo deve lembrar que há os amigos, parentes e Deus ao seu lado.
Filhos especiais
O jovem Emerson é o filho caçula de Ieda Bergmann, de Canudos do Vale. Ele nasceu saudável e, aos 6 meses, quando tomou a terceira dose da vacina Tríplice Bacteriana, desenvolveu uma doença chamada encefalopatia pós-vacinal. A condição afeta o sistema neurológico e a coordenação motora do menino.
Os especialistas dizem que o quadro é uma reação ao medicamento e que a chance disso acontecer é de uma em um milhão de doses aplicadas.
Aos 16 anos, Emerson sofre convulsões constantes, usa fraldas e praticamente não anda. Mesmo com as dificuldades que enfrenta, Ieda apela para que as mães jamais deixem de vacinar seus filhos, “Foi uma rara fatalidade, meu filho foi escolhido para suportar estas limitações”, diz. “Deus sabia que suportaríamos isso”.
Depois de vender quase tudo para custear as necessidades do filho há aproximadamente um ano, a família recebeu a notícia de que a Justiça Federal concedera uma indenização e um valor mensal para que seja garantida estabilidade e uma melhor qualidade de vida ao menino.
Segundo Ieda, o amor pelo filho faz com que cada dia seja especial. “O Emerson me ensinou a ser uma mãezona e ter muita fé.”
A professora Ivaniza Ferla Corbellini, de Sério, é mãe de Melissa, hoje com 33 anos. Com 4 meses, a filha foi tratada de uma broncopneumonia e liberada. Como o hospital ficava distante de casa elas precisaram pernoitar no local dividindo um quarto com uma criança que sofria de meningite.
Por erro, a medicação dessa foi aplicada em Melissa que sofreu convulsões e teve sequelas para o resto da vida. Hoje, a mãe permanece incansável nos cuidados. “Tenho a sensação que meu caminhar não tem fim e peço forças a cada novo dia para continuar”, diz. “Faço da vida dela uma extensão da minha.”
Influência da figura paterna
A psicóloga americana Peggy Drexler, publicou o livro Raising Boys Without Men (Criando Meninos Sem Homens), defendendo que as mulheres são capazes de passar valores como moralidade e masculinidade a um menino, sem a obrigatória convivência com os pais. Peggy escreve que um pai ausente não apaga a importância da sua função. Ela será assumida pela figura masculina mais próxima, alguém da família, um amigo, um professor. Quando o processo é saudável, essa figura masculina sempre existirá.