Rivalidade divide a comunidade

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Rivalidade divide a comunidade

O município completa 15 anos de emancipação no dia 16. As brigas partidárias enraizadas na sociedade local ofuscam os motivos de comemoração.

A polarização entre o Partido Progressista (PP) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) é extrema, ao ponto dos moradores evitarem manifestar-se à imprensa, com medo de perseguição. Ao serem questionados, desconversam e pedem para que outro responda.

paradaOs poucos que aceitam conversar preferem manter o anonimato. Um empresário conta que tem medo de perder clientes caso toque no assunto. “Se eu falar muito sobre isso, posso ser mal interpretado e perder clientes.”

Outra moradora se diz envergonhada quando alguém lhe pergunta seu município de origem. “Somos conhecidos pelos escandâlos e brigas políticas de meia dúzia de pessoas que não querem deixar o poder.”

Uma das poucas pessoas que se diz neutra, a cabeleireira Joice Schuh teme pelo futuro do município. Ela conta que pensou em se mudar diversas vezes com o marido e o filho para outra cidade. “O que estraga (sic) Forquetinha é a política.”

A repulsa pelo assunto a fez proibir que os clientes conversassem a respeito em seu salão de beleza. “Uma vez chegaram duas mulheres que começaram a falar de política, e a gente teve que pedir para que parassem.”

Joice admite que pretende instalar uma placa no estabelecimento, indicando “Proibido falar de política”. Segundo ela, é comum uma festa ser dividida entre os partidários de Waldemar Richter (atual prefeito, pelo PP) e de Lauri Gisch (ex-prefeito, pelo PMDB), evitando conversas.

Ela acredita que a rixa se deve ao fato de boa parte dos moradores dependerem dos cargos políticos para sobreviver. Joice opina que, se os cargos na administração municipal fossem preenchidos por concursados, a história seria diferente.

Para ela, essa briga atrapalha o desenvolvimento do município, como a instalação de novas empresas e o asfaltamento de ruas. “Por que só fazer crítica? Por que um não ajuda o outro?”

O ex-vereador pelo PP, Ido Hübner, concorda. Ele informa que, quando estava na câmara, foi criticado pelos colegas de partido por defender a união dos vereadores. “Eu sempre dizia ‘não ataquem a oposição porque eles foram eleitos representantes do povo igual a nós’, e eles comentavam que eu estava contra o partido.”

Para Hübner, se a divisão política persistir, Forquetinha parará no tempo. “Uma andorinha sozinha não faz verão.”

Rancor é alimentado pelos líderes

Até hoje, o município teve dois prefeitos – Waldemar Richter (2001 a 2004 e 2009 a 2012) e Lauri Gisch (2005 a 2008). Mesmo negando a disputa pelo poder, ela fica evidenente pela troca de acusações. Waldemar Richter afirma que o “ódio político” começou quando Lauri Gisch foi eleito. “Ele era militar e criou uma rivalidade muito grande, porque, para o militar, o adversário é inimigo e inimigos precisam ser destruídos.”

Richter diz que o prefeito anterior era contrário ao desenvolvimento do município. Ele afirma que todos os prédios foram construídos em sua gestão, enquanto que o adversário dirigia o seu trabalho para os agricultores.

Gisch rebate as acusações. Segundo ele, todos os que dizem que sua gestão foi marcada por perseguições são partidários do atual prefeito. “Havendo (perseguição), é de um lado só.”

Ele afirma que Richter é vingativo e que isso o fez perder aliados. “Se for analisada a trajetória do prefeito atual, verá que muitos dos que administravam o município com ele hoje são seus inimigos.”

“Quero que apontem quem que esteve comigo e que hoje é meu inimigo político.”

Incentivo aos jovens

Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) apontam que 24,7% da população de Forquetinha é aposentada. O medo de Joice é de que o município não se desenvolva por não incentivar os jovens. “Na minha época, era comum juntarmos bastante gente para ir às festas. Hoje, se juntam dois ou três, é muito.”

Ela diz que os mais novos trabalham em outros municípios, como Lajeado e Estrela, por acreditarem ter mais chances de prosperidade.

Hübner afirma que o futuro do município depende dos jovens. “É preciso valorizá-los”, diz. “Hoje eu olho para o meu passado e preciso descansar e deixar isso (o desenvolvimento do município) para os mais novos.”

Para ele, a melhor forma de ajudar o município a se desenvolver é por meio da política. Segundo Hübner, deveria existir uma lei que proibisse a reeleição do prefeito e dos vereadores. “É preciso dar espaço aos outros. Se eles não forem bem, os antigos voltam.”

Ele diz que os líderes deveriam se preocupar em elaborar projetos para o bem de todos e não em benefício próprio.

Histórico da discórdia

Em apenas 15 anos de emancipação, o município tem um histórico grande de polêmicas e divergências. A cada ano, vários processos e inquéritos são registrados para apurar ilegalidades de ambos os partidos.

– CPI da venda do mato de eucalipto

– Furto do talão de cheques

– Descarte de remédios vencidos no posto de saúde

– Remodelação de ambulância

– Superfaturamento na construção de ginásios e sedes esportivas

– Fotos íntimas de secretária da Saúde vazam na internet

– Professora e vereadora é acusada de levar merenda escolar e livros para casa

– Repasse ilegal de recursos para associação de agricultores

– Irregularidades na construção de estiva sobre o Arroio Forquetinha

– Exoneração de agentes comunitárias de Saúde

– Troca de nomes na realização de feiras (Exagric e Expofest)

– Queima de caminhão no parque de máquinas

– Prefeito arromba porta para entrar em prefeitura no dia da posse

– Construção de prédio de uma escola de Educação Infantil, em Arroio Abelha

– Falhas na construção de abrigos de ônibus, na compra de material elétrico sem licitação e na compra de material de informática

– Capotagem de carro pelo vice-prefeito

– Transferência do parque de máquinas

– Cassação de prefeito por compra de votos

– Superfaturamento na compra de peças e consertos de máquinas em oficina terceirizada

– Prefeito é acusado de manter no isolamento a comunidade de moradores da Picada Atlético, proximidades de Arroio Alegre

– Restauração de prédios antigos localizados no parque de exposições em Bauereck

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