Após a morte do primeiro filho adotivo, há quatro anos, Guerta e Décio Klein, ambos 64 anos, de Picada Felipe Essig, em Travesseiro, iniciarão uma nova experiência com a adoção. Neste domingo, eles viajarão para Guarapuava, no Paraná, para encontrar um adolescente entre 14 a 16 anos.
O primeiro filho se chama Éder. Ele tinha 19 dias quando foi adotado pelo casal. Durante a convivência com sua nova família recebeu estudo e incentivo para suceder a propriedade rural. Com 19 anos ele foi atropelado e morreu. Guerta e Décio se sentiram perdidos. “Pensei que não conseguiria mais viver sem meu Éder”, emociona-se a mãe.
O casal não pode ter filhos e logo depois da perda se mobilizaram para ajudar outras famílias. Durante esses quatro anos, duas adolescentes moraram com eles. “Sempre temos lugar para mais um aqui em casa”, diz. As duas moram hoje em outra casa. Uma delas está casada e a outra trabalha em uma padaria no centro de Marques de Souza.
O quarto de Éder permanece intacto. As frases ficaram coladas na porta, os CDs seguem sobre a cama e o computador ainda tem os mesmos arquivos salvos. “Mesmo adotando outro filho, o Éder sempre ficará conosco em nosso coração”, diz o pai.
O processo para a adoção foi encaminhado ao Fórum de Arroio do Meio, em novembro de 2010. Décio diz que neste teve mais facilidade que no primeiro. Antes o casal teve que comprovar inclusive que tinha uma religião e apresentar depoimentos de três testemunhas. Hoje, apenas a renda e estabilidade familiar serviram como suporte para a aprovação.
No domingo, o casal conhecerá diversos jovens na faixa etária solicitada. De forma sigilosa poderão selecionar um deles. Conforme Klein, se houver afinidade com um adolescente de qualquer sexo e tiver um irmão no mesmo abrigo, os dois serão adotados. “Pretendemos voltar no domingo com pelo um filho”, contam.
A família Klein exige apenas: faixa etária, saúde plena e que não use drogas. A opção da idade parte da ideia de dependência do jovem. “Daqui a dez anos teremos 74 anos e o filho terá mais de 24. Ele conseguirá traçar sua própria caminhada”, conta.
O casal trabalha com produção de suínos e leite e diz que poderá expandir a produção de melado com ajuda do novo filho. “Queremos incentivá-lo a ficar na agricultura, pois herdará tudo”, diz.
Guerta e Décio são lideres comunitários. Isso facilitou o processo de adoção. Casados há 40 anos consideram importante que o casal tenha uma estrutura forte e fé nas pessoas.
Faltam crianças do “perfil” desejado
As pessoas quando procuram crianças para adoção podem optar por um perfil. É possível escolher o sexo, raça, idade e até a cor dos olhos. Dados do Conselho Nacional de Justiça indicam que estão cadastradas 22 mil pessoas para adotarem crianças no Brasil. No entanto, apenas quatro mil crianças estão dentro das especificidades dos interessados, que normalmente exigem aquelas de até 3 anos de idade.
Em Lajeado, há cerca de 40 casais esperando. Em 2010, quatro adoções foram legalizadas e há em torno de 20 adolescentes nos dois abrigos da cidade esperando uma família. São jovens maiores de 10 anos que foram desvinculados por meio judicial dos pais biológicos e não se enquadraram nas preferências dos que aguardam.
Adoção direta
Há a possibilidade de uma adoção direta, a intuitu personae, que é aquela que ocorre quando os pais biológicos escolhem a pessoa que adotará seu filho. No entanto, deverá ser comprovado que ela tenha algum vínculo com a mãe para não caracterizar o crime da compra de bebês.
Como adotar uma criança
Interessados em adotar uma criança devem procurar o juizado da infância no Fórum de sua cidade. Inscrever-se com a apresentação de alguns documentos: qualificação completa do casal; dados familiares; cópia de certidão de casamento ou união estável; cópia registro geral e CPF; comprovante de renda; atestados físicos, mentais e de antecedentes criminais.
Após será feita a análise da habilitação do casal. Se aceitos, aguardarão na fila por uma criança que se enquadre nas especificações desejadas.
Casal mais feliz após adoção
Uma família de Forquetinha, de origem alemã, adotou dois irmãos negros. O casal afirma que suas vidas mudaram após a adoção. “Somos muito unidos”, conta o pai.
O casal adotou um menino com 6 meses de idade e uma menina, com 3. “No início foi difícil”, lembra a mãe. Hoje, passados 12 anos da adoção a família enfrenta e supera as dificuldades unidas.
O garoto gosta de games, futebol, andar de moto e dançar no CTG local. Ele recorda do preconceito vivido na escola, mas tudo foi superado.
A garota não estuda mais na cidade e diz que hoje tem muitas amigas. Para a mãe, no início foi mais difícil porque o menino era muito doente. O casal faz a refeição da noite ser sagrada, porque é o momento de reunir a família e conversar sobre o que aconteceu durante o dia.
Documentos paraingressar na fila
– Qualificação completa do casal;
– Dados familiares;
– Cópia de certidão de casamento ou união estável;
– Cópias do RG e CPF;
– Comprovante de renda;
– Atestado físico e mental;
– Atestado de antecedentes criminais.