Na região, cerimônias diferentes, como a do casal arroio-meiense Silvério e Naya de Souza Fleck, ocorrem só na união civil para garantir que tudo saia do jeito e no local que os noivos desejam. Religiosos do Vale contestam a opção de modificar a liturgia sem a aprovação de instâncias superiores.
Um casamento realizado em Garibaldi, inspirado nos personagens da animação Shrek, recebeu a atenção da imprensa e críticas de dom Paulo Moretto, bispo da diocese de Caxias do Sul.
A reclamação de moradores motivou a declaração de Moretto, repreendendo o padre que celebrou a união. “Nós, católicos, temos ritos e linguagem adequados. Os trajes devem ser fundamentados na fé e não na fantasia.”
O matrimônio desse casal, Denise Flores e Marcelo Basso, foi validado. Na ocasião, eles receberam cerca de 600 convidados, a maioria com roupas inspiradas na série que mostra um ogro que se apaixona por uma princesa.
Há três semanas, os empresários Silvério e Naya de Souza Fleck, moradores de Arroio do Meio, registraram sua união civil na presença de 180 convidados. A cerimônia ocorreu ao ar livre, na Lagoa da Harmonia, em Teutônia.
O casal chegou ao altar de uma maneira incomum. Ela foi conduzida de charrete e ele galopando em seu cavalo de estimação. Segundo a noiva, o tema escolhido reflete o modo de vida da dupla que cria animais e aprecia a vida no campo.
Naya diz que desde o pedido de casamento eles planejavam realizar algo diferente. Com a negativa da Igreja Católica em permitir o transporte escolhido e o chapéu que há anos faz parte do visual de Fleck, a ideia do casal prevaleceu.
O pastor da Paróquia de Conventos, Oscar Lehmann, diz que a tradição evangélica possibilita que não se obedeça aos padrões. Mas, o diálogo com a comunidade e autoridades religiosas é importante para definir limites. “Não é algo que se decide sozinho.”
Ele conta que celebrou uma união à beira-mar e lembra que um companheiro de sacerdócio teve problemas para dizer não a um casal de motoqueiros. “Elas queriam realizar a cerimônia com rock e roupas pretas”, ri.
Segundo o pastor, hoje quase 10% dos casais que batizam os filhos se motivam a casar no religioso. Os demais optam pelo documento de união estável.
De acordo com o padre Antônio Puhl, da Igreja Santo Inácio de Loyola, o Código de Direito Canônico orienta sobre o ritual e a forma de celebrar, mas não define os trajes que devem ser usados.
O casal de Garibaldi não seria autorizado a usar fantasias em Lajeado. “Os noivos podem usar chinelos e roupas comuns. O que a igreja não permite são extravagâncias e esbanjamento”, diz.
Nos cursos obrigatórios para noivos a orientação é evitar decotes ousados e apresentar situações constrangedoras. Segundo Puhl, quem casa deve honrar à tradição católica, caso contrário o matrimônio perde o sentido.
Casamento não pode ser descaracterizado
O frei Albano Bohn, da paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, de Progresso, acredita que os noivos em Garibaldi queriam chamar a atenção e conseguiram uma cobertura exagerada da imprensa.
Segundo ele, o padre errou ao acatar a insistência do casal e ao decidir sozinho pelo casamento incomum. “O procedimento correto era buscar a autorização do bispo”, diz.
O religioso lembra que certa feita realizou um matrimônio, no qual os noivos insistiram para escolher a trilha sonora. “Chegando lá, ouvi música gauchesca. Nada contra, mas neste caso não é permitido”, diz.
Segundo ele, os noivos devem guardar as ideias inusitadas para a festa, após a celebração religiosa, momento para ousar as vestimentas, decoração e trilha sonora.
“O sentido litúrgico do casamento não pode ser descaracterizado”, afirma Bohn. O religioso acredita que a igreja deve manter suas características fundamentais e não se influenciar por modas passageiras.