O levantamento feito pela reportagem, nos 37 municípios da região, mostra 1.670 empresas a mais em relação a 2009. No ano passado, o total somou pelo menos 17.756. Elas são divididas nos segmentos indústria, construção civil, comércio, serviços e agropecuária.
Lajeado e Estrela estão no topo da lista com os melhores resultados. A primeira, considerada a cidade-polo da região, emitiu 695 alvarás de abertura de empresas em 2010 e no mesmo ano 355 empresários fecharam seus empreendimentos.
Os casais Ricardo e Sabrina Mafaciolli e Diego Berteli e Marília Müller abriram no dia 17 uma franquia da Croasonho, em Lajeado. A empresa é um café que fabrica croissant recheado e tem mais de 18 lojas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e nos próximos meses abrirá lojas no Rio de Janeiro.
Sabrina diz que a empresa ofereceu uma franquia para os casais porque Lajeado está dentro dos critérios de avaliação deles, como o número de habitantes e o público-alvo. A expectativa dos proprietários é atingir os jovens e o comércio. O café funciona das 10h às 22h, diariamente.
Para o economista, Adriano Strassburguer, o crescimento rápido poderá causar um colapso na região, pois as administrações municipais não conseguem acompanhar com incentivos e infraestrutura toda a demanda.
Ele diz que nos municípios maiores, onde há mais interesse por parte das empresas em se instalarem, não há mais áreas disponíveis. “Em Lajeado, se uma empresa grande quiser vir, onde ela construirá?”
Por outro lado, Strassburguer diz que ter um bom número de empresas favorece o crescimento da cidade. Ele diz que migrantes procuram o município para trabalhar e há uma maior geração de renda para as administrações municipais.
Incentivos fiscais para atrair empresas
Estrela é a segunda cidade do Vale com melhor saldo de empresas – 332 – comparando 2009 a 2010. Para o prefeito, Celso Brönstrup significa transparência nos investimentos feitos.
Ele diz que o município está aberto para receber novas empresas, mas adianta que o crescimento precisa ser racional e equilibrado. Brönstrup salienta que são feitas avaliações prévias quanto ao retorno econômico e à qualidade de vida que a empresa gerará.
A política desenvolvida pela administração engloba concessão de auxílios financeiros para a aquisição de áreas de terras, ampliação da planta industrial da empresa, compra de equipamentos, construção de poços artesianos, melhoramento de energia elétrica, terraplenagem e outros.
Em contrapartida, a empresa beneficiada assina contrato se comprometendo em gerar emprego e conceder retorno fiscal ao município, num período mínimo de dez anos. Se a empresa fechar neste tempo ela deve devolver aos cofres públicos o valor concedido do auxílio. A Brasilata, fabricante de latas de aço, é a empresa que gera maior retorno ao município.
Nesta cidade, há mais de 2,4 mil empresas e como nos demais municípios da região falta mão de obra. O prefeito diz que foram criadas escolas profissionalizantes dirigidas a uma mão de obra escassa de qualificação. “Reconhecemos que ainda estamos acanhados com iniciativas nestas situações”, relata.
Dificuldade em computar dados
Dos 37 municípios, dois não tinham dados referente às empresas no município. Em Bom Retiro do Sul, o setor de tributação começou o processo de computação de dados em 2011 e, em Forquetinha, os dados são atualizados a cada dez anos.
Conforme o economista Adriano Strassburguer, o fato preocupa. Ele diz que é importante a administração municipal ter um banco de dados. “Com números de cada setor do município é possível criar projetos mais precisos para conseguir recursos”, diz.
Strassburguer criou o banco de dados da Univates e da prefeitura de Lajeado. Segundo ele, o trabalho foi implantado em 2000 com recurso federal para modernização administrativa.
Empresas fecham no primeiro ano
Pesquisas realizadas pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que 30% das empresas fecham no primeiro ano de funcionamento. No levantamento foram os empresários que deram a resposta.
A falta de capacidade de comportamento e de planejamento de atitudes inibe a abertura de negócios. O outro é o erro em saber olhar para o mercado e dizer: “É por aqui”. O erro do dia a dia do negócio e o mau gerenciamento também foram apontados.
Há também problemas entre sócios e de créditos tributários. A falta de planejamento é o maior índice: cerca de 60%.
O levantamento mostra que no país 98% dos negócios são micro e pequenos e 60% deles responsáveis pela geração de empregos. A pequena empresa contribui entre 25% a 30% do Produto Interno Brasileiro (PIB).
Outra pesquisa em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) revela o nível de empreendedorismo nos países. E o Brasil é um dos países que está no topo, devido aos jovens da faixa entre 18 e 24 anos que desenvolvem o próprio negócio.
Nova empresa no segundo semestre
Travesseiro terá uma nova empresa no segundo semestre deste ano. Segundo o prefeito Ricardo Rockembach ela deverá industrializar dez mil litros de leite por dia, suprindo mais da metade da demanda municipal.
Em 2010, abriram seis empresas e fecharam três. O saldo não afetou a economia da cidade e auxiliou na recuperação do índice de empregabilidade, afetado pela crise do setor calçadista em 2009. As seis que surgiram geraram mais de 400 empregos.
Vagas permanecerão abertas por um ano no mínimo
O secretário da Indústria e Comércio, Carlos Alberto Martini, diz que as vagas permanecerão pelo menos 12 meses. A afirmação é baseada na pesquisa encomendada pela administração municipal à Univates, que será apresentada na terça-feira aos empresários do município.
De acordo com Martini, 80% dos 204 empresários ouvidos pelos pesquisadores informaram ter dificuldades para contratar pessoas com qualificação. Ele ressalta que os empresários querem manter o número de funcionários, devido ao crescimento econômico da cidade.
Para Martini, o excesso de vagas é considerado um “bom problema”. Segundo ele, os empresários deverão oferecer mais aos funcionários, como maiores salários, mais benefícios e diminuição de carga horária.
O número de vagas disponíveis pode ser verificado nas agências de empregos do município. O Sistema Nacional de Emprego (Sine) de Lajeado tem 50 vagas abertas – em frigoríficos e em empresas de balas, por exemplo. Nenhuma delas foi preenchida porque os empresários não encontraram profissionais qualificados.
A pesquisa feita pela Univates custou R$ 3,5 mil e durou três meses. O estudo não abrange as expectativas dos trabalhadores.