A briga por um cachimbo de fumar crack ocasionou a morte de Douglas Corbellini dos Santos, de 23 anos, no início da manhã de ontem. O crime ocorreu na praça próxima da ciclovia, no centro da cidade. A cena foi testemunhada por moradores, pedestres que utilizam a pista de caminhada e por amigos dos envolvidos. Santos tinha passagem pelo presídio local e o assassino voltou recentemente da Fundação de Atendimento Sócio-educativo (Fase).
Após ficar meia hora agonizando, o rapaz foi levado por uma viatura da Brigada Militar (BM), mas morreu a caminho do hospital. Ainda em choque, dois usuários que conheciam os envolvidos voltaram ao local do crime uma hora depois do ocorrido, após deporem na delegacia. Ao mesmo tempo em que clamavam por ajuda e justiça, preparavam outra tragada da droga.
Com 38 anos, J., que é usuária de crack há sete anos e está grávida de quatro meses. Ela diz que estava com os dois envolvidos minutos antes da briga e conta que tudo começou com uma discussão envolvendo um cachimbo. “Eles eram amigos, de repente, na loucura, começaram a brigar e um foi morto com uma facada no peito”, afirma.
Um menor, que também presenciou o crime, reclama da demora no atendimento. Ele diz que ficou conversando meia hora com o amigo, após ele ser esfaqueado. O menor, após fumar mais uma pedra da droga, se queixou do desprezo de parte da comunidade e das equipes de assistência. “Se fosse um filho de gente rica, a ajuda seria imediata. Mas, quando é para vir bater, eles vem correndo”, desabafa.
Falta de oportunidades
J. diz que tentou várias vezes procurar emprego, mas sempre sem sucesso. Para ela, o preconceito e a falta de oportunidades colaboram para aumentar o número de usuários de crack. “Quero uma chance para sair dessa vida. Não aguento mais viver nesta situação”, expressa, enquanto prepara outra tragada da droga.
O menor afirma que se sente abandonado pela comunidade, e que poucos lhe oferecem ajuda. Ele diz que nunca foi procurado para receber algum tratamento por parte da administração municipal e confessa ser incapaz de enfrentar o próprio vício sozinho.
Recuperação veio tarde
Responsável pela “ONG Drogas Tô Fora”, Dailor Gerhardt, lamenta a falta de apoio financeiro da administração municipal no combate às drogas.
Ele conhecia os envolvidos na briga e diz que a vítima tentou se internar em sua clínica no mês passado, mas faltou vaga. “Ele queria se internar, mas por inexistir apoio à nossa instituição, fomos obrigados a negar”, lamenta.
Ex-viciado, Gerhardt critica a atuação da administração municipal no combate às drogas, principalmente a atuação do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que segundo ele, não funciona na prática. “Está na hora de acabar com a demagogia e sair na rua para ver o que está acontecendo. Estes tipos de crimes acontecem há tempo, porém sem divulgação”, reclama.
Para ele, seria necessária a criação de uma secretaria especializada no assunto.
A secretária de Assistência Social, Nara Worm, diz que sua equipe realiza abordagens nas ruas, mas só presta ajuda aos desabrigados. “Os usuários de drogas são encaminhados ao Caps, pois são de responsabilidade da equipe de Saúde”, diz. O secretário de Saúde, Renato Specht, não foi encontrado até o fechamento da edição.
Outro homicídio ligado à droga
Marcelo Silva de Castro foi encontrado morto às 6h50min de segunda-feira ao lado do novo campo do Lajeadense. No corpo havia marcas de seis balas de pistola 380. O segurança noturno do local relata que ouviu às 4h disparos de arma de fogo e um veículo saindo em alta velocidade do local.
O corpo foi encontrado quando iniciou o turno dos trabalhadores da construção civil. No bolso da bermuda do rapaz tinha um cachimbo de crack.
Um homem que estava no local relatou conhecer o jovem e o acusou de ter participado na noite anterior de um assalto no bairro Olarias. Na ocasião três homens armados invadiram uma residência na rua Oscar Pedro Scherer, na divisa dos bairros Olarias e Planalto. Eles renderam cinco pessoas que foram amarradas e trancadas em uma sala.
“Estas tragédias estavam previstas”
Para o promotor Sérgio Diefembach, coordenador do Fórum Municipal de Enfrentamento à Drogadição, Lajeado enfrenta uma realidade assistida em todo o país. Ele diz que, infelizmente, estas mortes estavam previstas e que outras acontecerão.
Ele reafirma que é preciso uma mobilização entre administração municipal, órgãos de segurança, Ministério Público e comunidade para encontrar maneiras de recuperar os principais pontos de uso de drogas. Isto evitaria uma concentração de usuários. “Há pontos, como a ciclovia, o campo do São José, e a própria praça, que se tornaram chamarizes para estes dependentes”, afirma.
Diefembach avisa que isto não acabará com o uso da droga, mas dificultaria o acesso a ela pelos usuários. Para ele, o combate deve ocorrer por meio de um processo permanente de tratamento e repressão ao tráfico, mas lamenta que os índices de recuperação ainda sejam baixos. “Há tratamento em Lajeado, e de bom nível. Mas, os índices de recuperados são os mesmos do resto do país e não passam de 30%”, diz.
Efeitos do crack:
– Sensação de estar mais forte, inteligente, enérgico, ativo
– falta de apetite
– ansiedade
– sensação de estar sendo perseguido/observado
– agressividade
– desejo sexual
– impotência sexual
– aceleração dos batimentos cardíacos
– pupilas dilatadas
Se o usuário utilizar o crack em altas doses, ele poderá ter:
– convulsões
– dor de cabeça
– perda de interesse por sexo
– ataques cardíacos
– overdose
– psicose (alucinações, ouvir vozes, etc)
– derrame cerebral (AVC), pode ocorrer em pequenas doses