A 30ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), realizada de 28 de janeiro até quarta-feira, na Fundação Bienal São Paulo, traz as criações de 30 marcas nacionais de destaque para a próxima temporada outono-inverno.
Entre a ousadia das criações e o uso de materiais inusitados, chamou a atenção dos profissionais o uso de peças feitas em alfaiataria produzidas para os modelos.
No sábado, rapazes desfilaram com blazers, sobretudos, camisas, coletes e ternos com as criações do estilista Marcelo Sommer, surpreendendo a muitas pessoas, pois na região são poucos que continuam realizando este tipo de trabalho.
Um dos que recentemente se aposentou foi Mário Aloísio Schnorrenberger. Ele tem 80 anos e desde menino conviveu com os tecidos, fitas métricas, tesouras e máquinas de costura. Ele considera-se um vencedor por ter trabalhado com o que mais gosta e ter sustentado a família com o ofício aprendido com o pai.
Schnorrenberger considera a alfaiataria e o contato com os clientes grandes prazeres. Talvez seja por isso que, embora aposentado, dá os toques finais em um lote de calças que será enviado à Bahia para um amigo natural do Vale.
Ele diz que, no início de sua trajetória, a alfaiataria vivia o começo do declínio de sua fase de ouro. As grandes confecções e a produção em série de roupas com tecidos de qualidade inferior tornaram-se adversárias poderosas para os profissionais da área e muitos migraram para outras profissões. “Havia mais de 50 pelo Vale. Hoje sei de apenas duas pessoas que continuam realizando o trabalho”, afirma.
Schnorrenberger refere-se à Gosmar Lenhardt e Adelar Folz. O primeiro é natural de Cruzeiro do Sul e trabalha há 45 anos com a profissão. Lenhardt conta que acompanhou os tempos de auge da profissão e reclama da perda de interesse pelo ofício que atribui ao comodismo das pessoas.
“Trabalhei de graça por dois anos para aprender”
Ele lembra que no início de sua trajetória, os alfaiates eram confidentes que acompanhavam as famílias ao longo dos anos.
Hoje, com as grandes confecções e a variedade de modelos, esse trabalho, muitas vezes, fica resumido ao de ajustador de roupas e para atender clientes com medidas fora dos padrões das lojas.
“Quando havia casamentos o profissional, assim como o padre, acompanhava de perto todas as reuniões
de família. Uma média de sete ternos eram encomendados para cada ocasião”, diz. Segundo ele, há 30 anos a região contava com profissionais em quase todas as localidades.
O profissional reclama da dificuldade de se treinar aprendizes por conta dos encargos e exigências do poder público. “Precisei trabalhar de graça por dois anos para ganhar meu dinheiro. Hoje, ninguém mais dá valor para o ensino do ofício.”
O valor do trabalho de um alfaiate fica entre R$ 200 e R$ 300 pela mão de obra em um terno completo, sendo que o tecido custa em média R$ 450. No fim o custo é cerca de 20% menor do que nas lojas especializadas.
Lenhart comemora a recente valorização das roupas sob medida proposta pela alta costura. “Lembra como os marceneiros estavam desvalorizados e há pouco tempo os móveis sob medida voltaram com tudo?”, questiona. O profissional torce para que a alfaiataria tenha esta valorização nos próximos anos.
Roupas terão nova padronização
Poucas pessoas sabem o perímetro de seu quadril, tórax ou cintura. Mas, a partir dos próximos meses, estes indicadores serão essenciais para quem deseja renovar o guarda-roupa.
As medidas do corpo estarão impressas na etiqueta da roupa, ao lado dos números (36, 38, 40 etc.) e das letras (P, M e G) que conhecemos.
O novo padrão tem potencial para mudar radicalmente o comportamento de quem busca uma peça nas araras. Em vez de pedir uma calça pelo tamanho, basta informar as medidas do corpo.
O vestuário masculino deverá ganhar uma regra parecida em fevereiro. A ABNT ainda não definiu as medidas corporais de cada tamanho, mas se sabe que haverá roupas para três tipos físicos: atlético, normal e especial. A tarefa de comprar roupas pela internet poderá ficar mais fácil.