Em 23 de maio de 1999, o Clube Esportivo Lajeadense se despedia da elite do futebol gaúcho. O rebaixamento à Segundona seria sacramentado no jogo contra o Ypiranga, em Erechim, com as equipes entrando em campo apenas para cumprir tabela.
Passados 11 anos, chegou o momento do Alviazul retornar à disputa da 1ª Divisão. Desafiando dificuldades financeiras, o clube retomou as atividades profissionais e neste sábado voltará a figurar entre os grandes do futebol gaúcho.
A seguir, personagens contam a experiência vivida na época e falam sobre suas expectativas para 2011, ano em que o clube festeja o centenário e se mudará para o novo estádio, no bairro Floresta.
De atacante a treinador
Ele comandava os juniores. Depois foi convocado pela direção para ser o centroavante do time profissional. E mais tarde se tornaria o treinador interino do grupo. Tudo na mesma temporada.
Renato Teixeira, o Carão, 51 anos, é um dos protagonistas da campanha do Lajeadense no Gauchão de 1999, último ano em que o clube disputou a 1ª Divisão.
“Matador” em todas as equipes por onde passou, inclusive no Alviazul, Teixeira aceitou o convite do então presidente Antônio Carlos Ruaro de voltar a vestir a camiseta azul celeste.
“Eu estava treinando o time de juniores do clube”, lembra Teixeira, que resolveu encarar o desafio. Na época, aos 40 anos, ele atuava no campeonato amador de Arroio do Meio.
A tarefa do “veterano” era solucionar um dos principais problemas da equipe naquela temporada: a falta de gols.
Porém, Teixeira não conseguiu marcar na sua estreia, dia 6 de maio, diante do São José, em Porto Alegre, e também encontraria dificuldades nas partidas seguintes.
Até que o atacante foi surpreendido novamente. O baixo rendimento do time levou a direção a mudar o comando técnico pela terceira vez. Era a chance de Teixeira assumir o cargo de forma interina no lugar de José Henrique Veiga. O primeiro dispensado havia sido Luis Carlos Winck, que na época estava iniciando a carreira de treinador.
Otimismo com a equipe
Você enfrentaria uma viagem de Chevette até Passo Fundo, à noite, com chuva, para assistir ao Lajeadense com um amigo? E pior. Voltar sem arrependimento depois de levar uma sonora goleada de 8 a 1 para o Gaúcho? Era esse tipo de “loucura” que Roberto Ferreira, hoje com 55 anos, fazia na década de 80 pelo Alviazul.
Após enfrentar jogadores como Falcão no tempo em que jogava no time juvenil e assistir a craques como Renato Portaluppi e Ronaldinho Gaúcho, Ferreira lamenta o grande período em que o Lajeadense disputou a 2ª Divisão gaúcha. “A cidade gosta do time e teve de se acostumar com as derrotas”, recorda.
Sobre a nova fase, Ferreira demonstra otimismo. Ele acredita que o Alviazul irá surpreender e aposta em uma semifinal com um dos grandes clubes de Porto Alegre. “Seria fantástico para o clube e a torcida”, imagina ele, que não esquece de grandes momentos do time, como a vitória sobre o Internacional na despedida de Falcão e a memorável vitória sobre o Grêmio em 1993, com gol de Denílson aos 44 minutos do segundo tempo.
Faixa no peito e bolso vazio
Presente na melhor campanha do Alviazul em campeonatos gaúchos, um quarto lugar conquistado em 1991, o meia Vandeco é um dos mais conhecidos jogadores da história do clube.
Ele era o camisa 10 também em 1998, quando a equipe conquistou seu último título: Copa Abílio dos Reis. Com a taça na mão, veio também a oportunidade de outra vez disputar a elite do futebol gaúcho, um ano depois. “Treinávamos todos os dias em dois turnos, queríamos muito levar o Lajeadense para o seu lugar”, lembra.
No entanto, o esforço dos atletas não foi recompensado pela direção na época. Segundo o meia, os jogadores entraram em campo na grande final com três meses de salários atrasados. O prêmio prometido também não foi pago. Os fatos fizeram com que muitos deixassem o clube após a conquista, como o centroavante Jorjão e o próprio Vandeco.
O amor pelo clube do coração, porém, falou mais alto. Após conversar com a diretoria e ouvir promessas de que tudo seria pago em dia, Vandeco voltou ao Florestal para disputar a 1ª Divisão, em 1999.
Mas o dinheiro não veio e, por falta de recursos, o clube deixou de fazer contratações. O meia acabou deixando o clube dois meses depois de assinar contrato.
Sem os seus principais atletas, o time realizou uma das piores campanhas de sua história. O ano que era de redenção, do retorno à elite, acabou de forma trágica. Antes mesmo do fim do campeonato, o Lajeadense estava novamente rebaixado.
Para Vandeco, não existe um só culpado pelo fracasso da equipe. Ele cita a desorganização de toda a diretoria como o fator fundamental para o rebaixamento.
Sobre o novo momento do Alviazul, ele diz ser “completamente o oposto do vivido em 1999.” Para Vandeco, o fato da direção ter mantido boa parte dos jogadores do ano passado e reforçado o elenco com atletas experientes é um sinal de boas notícias no futuro. “Acredito que este grupo irá trazer bons resultados para nossa cidade”, aposta.
Ghidini, o eterno preparador físico
Florindo Ghidini, 50 anos, é figura conhecida no Estádio Florestal. Dos 23 anos de profissão, 14 são dedicados ao Lajeadense.
Um dos personagens na campanha realizada há 11 anos, o preparador físico lembra de um fato curioso que marcou a participação do clube na série A.
“Nosso time estava com dificuldade de furar a defesa adversária. Até que o técnico Renato (Teixeira) olhou para mim e pediu para que o aquecesse. Ele usou uma camiseta por cima do jaleco e entrou na partida. E, de cabeça, marcou o gol do empate”, recorda Ghidini.
Passado o período turbulento de 1999, quando a falta de dinheiro e de estrutura atrapalhou a permanência do time na 1ª Divisão, o preparador físico espera garra e inteligência do elenco atual para seguir entre os grandes do futebol gaúcho.
“Desde o rebaixamento, em 1999, o clube passou por muitas dificuldades, como falta de apoio do poder público e de renovação do quadro social. Agora, o grupo precisa ter atitude suficiente para ficar na série A”, destaca Ghidini, ciente da importância do grupo estar na vitrine do futebol e se valer dos benefícios de jogar a 1ª Divisão.
Ficha de 1999
A estreia do Lajeadense no Gauchão Série A de 2009 foi contra o Internacional, de Santa Maria. O jogo ocorreu no Estádio Florestal, dia 14 de março.
A equipe titular escalada pelo técnico Luis Carlos Winck teve Adriano no gol, Fábio Lima (Leandro), Edinho (Adriano Silva), Marquinhos e Alexandre; Zeca, Paulinho, Vandeco e Rondinha; Kuki e Alê Menezes.
O preparador físico era o Florindo Ghidini e o presidente, Antônio Carlos Ruaro. Durante o campeonato, a direção trocou duas vezes de treinador.
José Henrique Veiga e Renato Teixeira também chegaram a comandar o time, que foi desclassificado na repescagem depois de ficar na terceira posição do grupo 4, atrás de Brasil de Farroupilha e São José de Porto Alegre.
Saiba mais
Fundado em 23 de abril de 1911, o Lajeadense hoje está na série A do Gauchão. Os principais títulos da história do clube são os da Segundona, em 1959 e 1979, e da Copa Abílio dos Reis, em 1998.
O Alviazul foi presença constante nos torneios da 1ª Divisão do estado no final da década de 80 e início da década de 90. A melhor campanha do time celeste do Vale do Taquari ocorreu em 1991, quando conquistou o quarto lugar no campeonato gaúcho. No ataque estava o centroavante Gelson Conte, artilheiro do Gauchão de 1991 com 15 gols.