Depois de mobilizações para a construção dos acessos asfálticos e da luta para evitar o êxodo rural, administrações de pequenas cidades precisam encontrar soluções para atrair novos médicos para atuarem na Estratégia de Saúde da Família (ESF).
O caso mais delicado ocorre em Sério que tem cerca de dois mil habitantes. Sem clínico geral desde dezembro no Posto de Saúde, os pacientes são tratados por um médico voluntário que exerce a função de vereador no município.
Segundo a prefeita Dolores Kunzler, esta foi a única alternativa para não deixar os moradores sem atendimento. Para ela, o maior problema desta rotatividade de médicos é a falta de familiarização com os pacientes.
Dolores informa que uma modificação na lei permite que, hoje, o município ofereça um salário de R$ 7,5 mil para o próximo profissional com mais uma gratificação de R$ 2,5 mil pela coordenação do programa. O total ultrapassa os subsídios recebidos pela prefeita.
O salário anterior era os mesmos R$ 7,5 mil, porém sem bonificação. Ela argumenta que o aumento busca suprir as carências oferecidas pelo município, como a dificuldade de acesso e a distância dos grandes centros.
No entanto, Dolores lembra das facilidades e benefícios para quem optar por trabalhar no municipio. Para ela, a qualidade de vida, aliada à tranquilidade do dia a dia e a pouca demanda de pacientes são facilitadores para os futuros profissionais. “Lógico que a demanda existe, mas nada comparada a cidades maiores”, ressalva. Ela acrescenta que na última semana apareceram profissionais interessados no emprego.
ESF podem ser fechados
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), caso um posto da ESF permaneça, por até 90 dias, sem um médico trabalhando 40 horas por semana, o programa será cancelado e os recursos federais não serão mais repassados ao município.
Foi o que ocorreu em Forquetinha. Em dezembro passado, o posto da ESF foi fechado por falta de profissionais.
Segundo Regiane Mallmann, coordenadora de Saúde no município, a administração estuda a possibilidade de abrir concurso público para contratar um novo profissional, o que segundo ela, seria suficiente para que o programa ESF voltasse a funcionar.
Enquanto isto, informa ela, foi criado um novo programa municipal, semelhante ao federal, por qual um médico trabalha 20 horas por semana, realizando atendimentos e visitas domiciliares.
Canudos do Vale enfrenta o mesmo problema. O último médico que trabalhava 40 horas por semana saiu para realizar cursos de especialização, e o município corre o risco de perder os benefícios do programa.
De acordo com o secretário de Saúde, Roberto Feil, dois médicos se revezam trabalhando dez horas por semana cada um para atender a demanda. “Mas, estamos atrás de um clínico geral para trabalhar as 40 horas”, salienta, acrescentando que o salário é de R$ 8,6 mil.
Dificuldade aos pacientes
Gertrudes Fontana Daniele, 64 anos, moradora de Sério, precisa sair de ônibus a hospitais em Lajeado e Estrela para receber o acompanhamento médico. Ela fez cirurgia de ponte safena há oito anos e precisa tomar medicamento para controle de pressão arterial e outros relacionados ao sangue. Gertrudes destaca que seria importante receber um acompanhamento em que o médico conhecesse a família. Outra vantagem apontada por ela seria a redução de despesas. “As consultas feitas em outros hospitais são particulares. Isto torna-se caro demais”, diz.
Detalhes e importância do programa
A ESF quer reorganizar a prática da atenção à saúde, aproximando os ensinamentos da família. O programa atua na prevenção, promoção e recuperação dos pacientes, de forma integral e contínua. Segundo dados do MS, o médico da ESF deve estar preparado para solucionar 85% dos problemas de saúde mais comuns, como hipertensão e diabetes. Ele faz o exame e encaminhamento dos casos graves e complexos a outros profissionais e estruturas de saúde.
Cada equipe de Saúde da Família é composta por um médico, um enfermeiro, dois técnicos de enfermagem, um biologista, um dentista, dois técnicos de saúde bucal e até doze agentes comunitários de saúde. As equipes recebem do Ministério da Saúde, por mês, entre R$ 6,4 mil e R$ 9,6mil, dependendo da população do município, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e da região onde está localizada. O estudo Primary Health Care and Hospitalization for Chronic Disease in Brazil mostrou que, entre 1999 e 2007, as ações do ESF reduziram em 30% as internações de mulheres e 24% de homens, quando as causas estavam relacionadas a doenças crônicas.