Depois de frequentes atrasos no pagamento aos produtores integrados, a Doux Frangosul deixou de repassá-los a ração. O fato levou à morte de animais e alertou o mercado sobre a situação da indústria que sofre desde a crise internacional de 2008.
Apenas em uma propriedade, Fagundes Varela, sete mil aves morreram por falta de alimento. Para tentar resolver o impasse e a inconstância no pagamento pelas cargas entregues, reunião ocorreu na quarta-feira, dia 15, em Porto Alegre.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Elton Weber, diz que o problema atinge mil dos 2,7 mil integrados da empresa no estado e que recebeu reclamações sobre o fornecimento de ração e de novos atrasos no pagamento de lotes, que em alguns casos chega a 150 dias. “Como a empresa não cumpriu os últimos cinco acordos, alguns produtores ameaçam recorrer ao Ministério Público (MP) para garantir o acesso aos recursos”, diz.
O sindicalista Lauro Baum cobra uma solução urgente e conta que novos prazos e desculpas para regularizar a situação não servem mais. Ele alertou que a situação financeira da empresa é delicada e aponta que até os fornecedores de milho deixaram de entregar o produto por falta de pagamento.
De acordo com o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul, Valdecir Folador, alguns criadores chegaram a dar terra como alimento para os animais.
Angústia
Por volta das 15h de terça-feira, a angústia tomou conta de uma família no interior de Forquetinha. Sem ração há seis dias, os 57 mil frangos da propriedade começaram a comer uns aos outros. Abatidos pela fome, muitos morreram.
A família do avicultor Frederico Feil fornece frangos há dez anos. Diariamente, necessita de dez mil quilos de ração para garantir a alimentação dos animais. “Ligamos várias vezes para a empresa e nos disseram que não tinha ração. Foi um desespero”, comenta o criador que também registra atraso de mais de 90 dias nos pagamentos.
Desiludido, ele diz não esperar mais socorro da Doux. “Se tiver que pagar para trabalhar é melhor não trabalhar”, lamenta.
Entenda o caso
Final de 2008: crise internacional derruba as exportações, e a empresa começa a passar dificuldades em manter em dia os pagamentos e o fornecimento de ração.
Início de 2009: elaborado cronograma de pagamento aos produtores de suínos que fornecem animais para a empresa.
Setembro de 2009: devido a reclamações de produtores que não estariam recebendo pelos animais fornecidos, o cronograma de pagamentos é refeito.
Novembro e Dezembro de 2009: são quitadas as dívidas da empresa com os produtores.
Junho de 2010: produtores voltam a reclamar que não estão recebendo pelos animais vendidos à empresa.
Setembro de 2010: há mais de três meses sem receber, suinocultores acumulam contas e dívidas e alguns começam a pedir financiamentos e empréstimos para conseguir manter a propriedade. Produtores procuram a Acsurs e sindicatos locais para buscar informações, já que não obtêm respostas da Doux Frangosul. Fetag também começa a intermediar a situação.
Outubro de 2010: Doux Frangosul apresenta proposta à Fetag para que os produtores solicitem empréstimos bancários, tendo a empresa como avalista e responsável por quitar a dívida.
Dezembro de 2010: atrasos no repasse de ração causa a morte de milhares de aves. Produtores ameaçam acionar o MP para garantir o acesso aos recursos. A maioria quer desistir de criar animais para a empresa.