A cidade-polo do Vale do Taquari, que nos anos 70 tinha quase 40 mil pessoas vivendo em áreas rurais, está cada vez mais perto de se tornar totalmente urbana. O último censo do IBGE apontou que hoje há apenas 265 moradores nesta situação, para uma população de 71 mil habitantes, e que cresceu 10% nos últimos cinco anos. Hoje, Lajeado está atrás das cidades da Região Metropolitana, do litoral e dos municípios de Chuí e Esteio.
Para o secretário de Planejamento, João Alberto Fluck, esta questão está ligada às recentes emancipações ocorridas em Lajeado, principalmente de distritos rurais que hoje se tornaram municípios voltados ao setor agropecuário, como Sério, Canudos do Vale, Forquetinha, Marques de Souza e Santa Clara do Sul. Em 1980, por exemplo, a área total da cidade era de 643 quilômetros quadrados, número que baixou para 90 neste ano.
Fluck diz que há apenas uma zona rural no município, na localidade de Alto Conventos. Outros pontos são classificados como unidades rurais e encontram-se dentro do perímetro urbano, como nos bairros Centenário, Conventos e São Bento. Ele afirma que estas unidades existem por manterem características rurais, mas que no próximo plano diretor elas podem perder esta classificação, passando a ser área urbana. “A criação de animais ameaça o ambiente em perímetros urbanos. Mas, este é um assunto delicado e deverá ser discutido em audiências públicas”, diz.
Menos tarifas na zona rural
Quem vive no perímetro urbano e tem residência fixa necessita pagar, anualmente, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), responsável por alimentar os cofres públicos em quase R$ 5 milhões por ano. Quem mora na zona rural ou nas unidades rurais paga o Imposto Territorial Rural (ITR).
Segundo o secretário da Fazenda, Juraci Rodrigues, estes agricultores pagam taxas que muitas vezes não chegam a R$ 20 por ano e com isso o município arrecada menos de R$ 1 mil por ano com estas cobranças.
Novas demandas e arrecadações
Rodrigues diz que a migração para o centro urbano abastece o orçamento com impostos, investimentos e negócios realizados no município. Mas, ao mesmo tempo, alerta o secretário, abre novas demandas, como serviços básicos de saúde, infraestrutura e educação. Só nos últimos dez anos, 11 creches foram instaladas no município. Hoje, são 23 escolas infantis, 18 municipais de Ensino Médio e 15 postos de saúde.
De acordo com o secretário de Indústria e Comércio, Carlos Alberto Martini, o crescimento urbano está ligado às oportunidades de emprego e ao aumento no número de empresas. Na média, são 250 instaladas por ano em Lajeado. Segundo Martini, em 2005, eram 4,1 mil, número que subiu para 5,4 mil em 2010. “Neste mesmo período, o nosso orçamento dobrou, passando de R$ 55 milhões para R$ 110 milhões”, observa.
Eles não abandonam as raízes
Na propriedade de 4,5 hectares, comprada logo depois do casamento, o casal de agricultores Dari e Noeli Selge, de Alto Conventos, cultiva milho, soja, amendoim para o sustento. Ao longo dos anos, eles são uma das famílias de sua geração que ainda permanece na lida do campo. Dari lembra que tinha 20 colegas de aula, todos seguiram a profissão de agricultor na época. “Hoje, sobraram três. O resto mora na cidade e transformou a lavoura em loteamento”, comenta.
A mudança ao longo dos anos afastou os dois filhos do casal da vida na roça. “Não sei se terá alguém para trabalhar na roça no meu lugar. Acho que também terei que transformar a roça em terrenos e chácara”, diz.