A falta de representatividade política da região no governo de Tarso Genro deixa lideranças apreensivas. Até o momento, ninguém foi chamado para assumir uma pasta ou uma cadeira na Assembleia Legislativa. Amanhã, o governador eleito define a equipe de governo e viaja de férias para Buenos Aires por dez dias com a esposa.
O segundo suplente a deputado estadual, Luis Fernando Schmidt, (PT) está otimista com a possibilidade de assumir uma vaga na Assembleia Legislativa. Aurio Scherer (PT), entretanto, diz que as chances diminuíram, após a vinda de mais partidos na base de governo, enxugando as vagas dos partidos da coligação.
O futuro governo aponta para uma ampla aliança em busca de maior governabilidade, pretendendo maioria na assembleia. Para isso, partidos que antes eram adversários passam a fazer parte do governo como o PTB e o PDT que devem assumir três secretarias cada.
Conforme Schmidt, as negociações persistem em prol de um representante do Vale em nível estadual. No entanto, diminuíram os espaços devido ao chamado governo de coalizão. Há a possibilidade de Luis Fernando Mainardi (PT) assumir a Secretaria da Agricultura, assim Schimidt passaria a primeiro suplente, mais perto da cadeira na Assembleia.
O ex-candidato admite que reduziram os espaços com a entrada do PTB e do PDT no plano de governo. No entanto, os partidos chamados para compor o governo deverão assumir secretarias sob a lógica da transversalidade, ou seja, não manipularão todos os cargos dentro da pasta. “Há a pressão e articulação política para que a região tenha seu representante, mas até um governo de coalizão tem seus interesses próprios”, observa. Se assumir como deputado, Schmidt salienta que não haverá cor partidária em relação aos municípios. “Quando fui deputado por oito anos interagi com todos os prefeitos e vereadores. Não trato política com adversidade”, afirma. Para ele, é preciso estimular a agricultura familiar, principalmente as agroindústrias.
O acesso asfáltico a todos os municípios será possível, segundo ele, mediante verbas internacionais. “Não podemos esperar que o estado tenha todos os recursos e pague à vista. O Rio Grande do Sul não seguiu o crescimento do país por falta de ousadia e foco”, opina.
“Caimos na escravidão política”
Segundo o ex-candidato a deputado estadual pelo PT e vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Arroio do Meio, Aurio Scherer, a busca pela governabilidade está limitando os caminhos para quem fez parte da coligação. Articulações políticas apontam que há a possibilidade dele contribuir na formação do governo, inclusive para atuar na possível nova Secretaria da Agricultura Familiar. Essas articulações, contudo, são tímidas e frágeis diante do potencial da região. “Agora teremos problemas nas questões estratégicas das duplicações de rodovias e acessos asfálticos aos municípios. Fragilizaram o Vale e não teremos ninguém no centro das decisões. Estamos no fundo do poço”, afirma.
Conforme Scherer, é inconcebível a região não ter capacidade e consciência para eleger um representante, independentemente de partido. “A região tem um belo discurso, mas tem uma prática distante, pois cada um puxa para um lado. Caímos na escravidão política.”
Ele considera legítimas as especulações, mas por uma questão de coerência e princípios não correrá atrás de cargo. “Não estou procurando emprego, tenho minha profissão, sou agricultor, não sou um profissional da política.”
Scherer reassumiu as funções no Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) um dia após as eleições e adianta que se for chamado para um diálogo irá, mas não aceitará qualquer cargo. “Tem que ser uma tarefa para trabalhar pelo Vale como a agricultura familiar”. Para Scherer, uma semente foi plantada. “Haverá o dia em que teremos independência política e sairemos dessa escravidão a que chegamos.”