No mesmo local onde antigamente as pessoas se banhavam, hoje, poucos animais aquáticos sobrevivem. Com aproximadamente 3,8 quilômetros de extensão, o Arroio do Engenho recebe diariamente milhares de litros de efluentes domésticos e industriais sem tratamento adequado, principalmente dos bairros Olarias, Montanha, São Cristóvão, Americano e Centro.
Em diversos pontos do arroio é possível sentir o mau cheiro, ver lixo, entulhos, dejetos e coliformes fecais boiando na superfície. Em trechos de água mais profunda, como a foz do Engenho, localizada junto ao Rio Taquari, é comum avistar peixes e outros animais mortos.
De acordo com Everaldo Ferreira, coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Univates, o arroio perdeu sua função de recurso hídrico e hoje seu leito é composto de efluentes e matérias orgânicas. Para ele, a reversão desse quadro é uma tarefa praticamente impossível. “Infelizmente, o descaso foi de tamanha proporção que hoje é difícil imaginar que a água volte a ser potável”, analisa.
Ferreira comenta que para recuperar a qualidade da água é preciso uma nova política de conscientização com a comunidade e fiscalização mais rígida por parte da administração municipal. “Deveria ser feita uma vistoria em todas as residências, terrenos e empresas localizadas na bacia do arroio para cobrar o tratamento adequado dos efluentes, mas duvido que isto seja feito”, diz.
Sobre a canalização do arroio, Ferreira afirma que se trata de uma medida paliativa e insuficiente para acabar com os problemas de mau cheiro e doenças. “Canalizar é como assinar uma sentença, afirmando que o arroio agora é esgoto. E com a certeza que após nada mais será feito para recuperar a qualidade da água”, opina. Ele lembra que o arroio é afluente do Rio Taquari e colabora para a degradação do principal recurso hídrico do Vale.
“É triste ver que estamos perdendo o arroio”
Morando há 26 anos em frente ao Arroio do Engenho, Walmy Eckhardt, lembra que as águas eram limpas e com uma variedade de peixes. Ela lembra que era comum ver pessoas pescando e tomando banho no arroio. Hoje, o trecho do Engenho que passa próximo de sua residência está canalizado. “Para mim isto significa o fim do arroio. Se estão canalizando é porque não tratarão, virou esgoto mesmo”, lamenta. Ela conta que o mau cheiro continua mesmo após a canalização.
O mesmo sentimento é demonstrado pelo aposentado Rudolfo Herembring. Ele é proprietário da área onde se localiza a nascente do arroio, no bairro Olarias, próximo da BR-386. Ele orgulha-se ao lembrar que o Arroio do Engenho está diretamente ligado à história de Lajeado, mas não disfarça a decepção quando questionado sobre as condições da água.
Administraçãonão prevê ações
A recuperação do Arroio do Engenho não será discutido em reuniões e nem fará parte dos projetos da atual administração municipal. De acordo com a secretária do Meio Ambiente, Simone Schneider, a intenção é canalizar todos os trechos ainda não canalizados. “Isto ocorre em praticamente todos os arroios urbanos de outras cidades”, comenta.
Simone diz que o pouco volume de água no leito do arroio é uma das principais razões do seu estado. “Por ser um arroio pequeno, ele tem mais dificuldades de eliminar as matérias orgânicas despejadas irregularmente em seu leito”, analisa. Ela acrescenta que o problema é antigo e surgiu, principalmente, em decorrência do crescimento desordenado do bairro São Cristóvão.
Ela lembra que, embora não haja um planejamento para recuperar a qualidade da água, a secretaria fiscaliza constantemente as empresas e residências para evitar o despejo irregular de poluentes no arroio. Para Simone, a única forma de amenizar a poluição seria realizar tratamento de esgoto e efluentes em toda bacia hidrográfica do arroio.
Histórico
Antigamente, as águas do Rio Taquari e do Arroio Engenho formavam cascatas sobre lajeiros. Foi daí que surgiu o nome Lajeado. Em virtude da barragem de Bom Retiro do Sul, os lajeados, bem como as cascatas, estão submersas. O Engenho foi responsável pelo início do desenvolvimento na cidade, já que partia dele a energia para que os primeiros moinhos instalados funcionassem. O mais famoso deles encontrava-se no Parque do Engenho e pertencia a Antônio Fialho de Vargas.