As mulheres cada vez mais ocupam cargos que antes eram exclusivamente masculinos. Apesar de ser minoria e em muitos casos receberem salários inferiores, elas adquirem o respeito e a confiança dentro das organizações e prestadoras de serviços.
De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), em um comparativo de 2008 e 2009, as mulheres tiveram um aumento de 5,34% na participação do mercado de trabalho, enquanto os homens 3,87%.
O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Vale do Taquari (Sinduscon), Paulo Portz, considera importante que mulheres migrem de setores e conquistem mais espaços no mercado de trabalho. Ele diz que elas são mais detalhistas em suas funções e em um canteiro de obras seriam válidas.
Portz afirma que o sindicato desconhece o número de mulheres que trabalham na construção civil na região, mas acredita que na prática há algumas ingressando no ramo.
A média salarial de um pedreiro é de R$ 1,2 mil para 220 horas/mês. “E é esse o valor pago para as mulheres que atuam na função”, garante.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Lajeado ofereceu há meses um curso feminino de mecânica de motos. Conforme a auxiliar administrativa da entidade, Sonia Beatriz Frey, ele foi criado face à procura de mulheres pela função. “E porque muitas meninas têm motos, assim podem consertá-las quando estragam”, diz.
Segundo Sônia, outras mulheres se formaram no Senai da cidade em mecânica automotiva, marcenaria, operador de empilhadeira e eletrônica, aulas que eram frequentadas apenas por homens. “Há muito preconceito dentro da própria família da mulher que quer seguir essa área”. Ela conta que algumas se inscreveram, mas desistiram em seguida porque os maridos sentiam ciúmes dos colegas homens.
No curso técnico de Edificações da Univates 45% dos alunos são mulheres. O arquiteto e urbanista, Rodrigo Luis Bald, é coordenador do curso e diz que a procura aumentou nos últimos anos devido ao crescimento da oferta de mão de obra na área e pela variedade de atividade que podem exercer depois de formadas.
O principal objetivo do curso é fazer a conexão entre o planejamento (escritório) e execução de obras (o canteiro de obras), qualificado nas áreas de desenho, orçamentos, ensaios tecnológicos, levantamentos topográficos, acompanhamento de cronogramas, fiscalização e controle de qualidade.
Bald diz que é importante ter homens e mulheres nas profissões e no caso da construção civil os homens fazem o trabalho braçal e as mulheres a parte da limpeza e serviços mais delicados que, segundo ele, requerem mais atenção e cuidado, como os acabamentos.
O arquiteto salienta que na região o envolvimento das mulheres nos canteiros de obras é baixo, mas em cidades, como Porto Alegre e Caxias do Sul, têm grande participação feminina.
Dedicação no trabalho de pedreira
Loira Maria Radke, 52 anos, é uma das poucas mulheres do Vale do Taquari que trabalha como pedreira, servente e mestre de obras. Há dois anos largou o trabalho no campo para ajudar o marido que virou construtor.
A pedreira ajudou a construir a cobertura do prédio onde mora. “Tenho orgulho e amor pelo que faço”, diz. Ela rebocou a parede externa de um prédio de cinco andares no centro da cidade e teve ajuda de apenas um servente.
Loira garante que é corajosa e tem energia para aguentar o trabalho pesado de um pedreiro. Durante dez horas diárias, ela faz de tudo no trabalho – senta tijolos, passa massa fina no reboco, etc.
A função de mestre de obras, ela assumiu quando seu marido quebrou a perna. Loira relata que toda a equipe sempre respeitou as suas decisões e cumpriu as ordens.
Há previsão de que Loira auxilie na construção de mais um prédio no bairro Florestal. “O novo será maior, terá oito andares”, diz. Ela pretende se esforçar mais no segundo.