O feriado prolongado de Finados, celebrado na terça-feira, trará à tona os reflexos da ação criminosa de pessoas que furtam nos cemitérios flores e o ferro cromado de cruzes, letreiros e molduras. Em muitos casos é impossível saber quem está enterrado nos túmulos de Lajeado.
Conforme o chefe de investigação da Polícia Civil de Lajeado, Paulinho Cavalheiro, o que motiva a maioria das ações é a possibilidade de trocar o metal por drogas com o traficante que os vendem em ferros-velhos. O número de Boletins de Ocorrências registrados é pequeno pela dificuldade de identificação dos criminosos. “Só com a proximidade do dia de Finados muitos se dão conta de que houve a ação dos vândalos e fica difícil encontrar responsáveis”, diz.
A lajeadense Mari Janete Batista Vieira expressou no próprio jazigo a indignação com a ação dos ladrões e vândalos. Há cerca de dois anos ela perdeu seu único filho, Weslen Daniel Becker, de 6 anos. Em sua homenagem, a família construiu um jazigo amplo que abriga brinquedos, flores e fotos.
Após sucessivos furtos e depredações, o espaço ganhou um vidro para proteger os itens e para estampar a revolta da família nos dizeres: “Pare e pense! Respeite meu único filho, você gostaria que fizessem o mesmo com o seu? Roubar, quebrar e sujar o que não lhe pertence? Obrigado”.
Mari considera os ataques uma falta de respeito e decência e acredita que os locais deveriam ser melhor fiscalizados, tanto pelo poder público quanto por seguranças privados.
Segundo ela, a inscrição no vidro diminui a ação dos criminosos, mas só isso não garante por muito tempo a integridade das flores e objetos periodicamente repostos. Ela reclama de que não há como identificar os responsáveis e que isso lhe aumenta a frustração.
Waldemar Baldasso há seis anos administra os cemitérios católicos dos bairros Florestal, Hidráulica e Jardim do Cedro. Segundo ele, os furtos são frequentes e difíceis de serem evitados. “O que leva a cada vez menos pessoas investirem nesse tipo de objetos na hora de prestar as homenagens”, afirma. Nesse ano, uma empresa de Lajeado especializada em jazigos, realizou uma média de 30 reparos em letreiros de ferro cromado. O serviço custa em torno de R$ 100.
Roubo de flores é comum
Em Santa Clara do Sul, as aposentadas Iria e Catarina Nitsche aproveitaram a semana de sol para adiantar o serviço de limpeza e ornamentação dos túmulos de seus parentes no cemitério católico. Elas querem deixar tudo em ordem para a homenagem do dia 2, mas temem pela ação de vândalos. A maior preocupação delas é que alguém suje os túmulos ou roube as flores.
Segundo o major César Augusto Silva, comandante do 22° batalhão da Brigada Militar, o patrulhamento dos cemitérios não está entre as tarefas realizadas durante a ronda da polícia. Para tanto, são necessárias denúncias dos moradores das imediações ou de vigias desses locais. Conforme Silva, com a exceção dos pequenos furtos, os cemitérios de Lajeado não costumam ser palco de ações criminosas.
Registros de túmulos devem ser atualizados
O administrador de cemitérios, Waldemar Baldasso, avisa que as secretarias dos cemitérios funcionam durante o dia 1° de novembro para atender aos visitantes interessados na localização dos sepulcros, realizar recadastramento dos dados e receber o pagamento das taxas de manutenção dos túmulos.
Ele diz que muitos deixam de pagar após se mudar para outras cidades e não conseguem ser encontrados pelo correio. O procedimento padrão é aguardar 30 dias após a correspondência ser enviada, publicar um editorial em veículo de comunicação e caso não haja resposta em até 30 dias é realizada a retirada e armazenamento dos restos mortais.
A taxa anual de manutenção é de R$ 52 para as sepulturas horizontais duplas, R$ 37 para a simples, R$ 28 as gavetas e R$ 22 as infantis.
Velas e flores são os mais vendidos
As homenagens este ano estarão mais caras. Dados da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) revelam que o aumento do preço é de 12% em relação ao ano passado. Conforme Giovana Rossol, atendente de uma floricultura em Lajeado, há anos esse feriado não altera a venda do produto na região. Segundo ela, o hábito de levar os arranjos, principalmente, os de crisântemos, foi abandonado pela geração mais jovem e nas áreas urbanas do Vale.
Giovana exemplifica que há alguns anos a venda dos crisântemos alcançava em torno de 200 pacotes e uma média de 500 vasos de flores eram adquiridos. Hoje esses números caíram para dez e cem, respectivamente. “Isso se reflete no fato de que pelo menos três dos principais empreendimentos do gênero aderem ao feriado este ano”, diz a lojista.
Anatércia Ravásile, vendedora de uma floricultura em Lajeado, acredita que o período permanece lucrativo para o setor. Ela informa que onde trabalha o valor de um vaso grande de crisântemos é R$ 12 e o pequeno sai por R$ 6.
Em um supermercado de Lajeado, cinco mil unidades de crisântemos foram compradas para suprir a demanda do período. O valor do produto varia entre R$ 3 e R$ 9 de acordo com o arranjo escolhido.
Segundo ela, o empreendimento tem em estoque dois mil pacotes de oito unidades de velas brancas simples, as mais procuradas na região. Da variedade mais cara foram encomendados 500 pacotes com preço unitário de R$ 2,50. As de sete dias custam R$ 3, a expectativa é de que a demanda duplique no período.
Efeitos do feriado
O feriado prolongado de Finados se refletirá na economia, transportes, eleições e no funcionamento de órgãos públicos. No dia 1° de novembro, não haverá expediente nas repartições públicas brasileiras em função do feriado do Dia do Funcionário Público. As escolas do Vale seguirão calendário próprio.
Em Lajeado, apenas o posto de saúde do bairro Montanha presta atendimento das 7h30min às 21h45min, sem fechar ao meio-dia. A coleta de lixo não será realizada na terça-feira. Todos os serviços funcionam normalmente a partir do dia 3 de novembro.
Conforme Nelson Noll, administrador da rodoviária de Lajeado, cerca de dez mil pessoas deixarão a cidade nos cinco dias do feriadão. A demanda diária de 1,4 mil passageiros terá um acréscimo de 10% no período. “As regiões mais visitadas são a capital do estado e as cidades do G8, de onde muitos migraram e voltam para homenagear parentes nos cemitérios”, diz.
A dica do empresário é comprar com antecedência as passagens em veículos com poltronas numeradas. Para os ônibus comuns a demanda será suprida normalmente. “Nosso maior movimento acontece no Natal, Páscoa e Dia das Mães. O dia de Finados é uma época relativamente tranquila para o transporte coletivo”, afirma.
Conforme dados da Universidade de Brasília (UnB), as pessoas que se deslocam representam em torno de 10% do eleitorado nacional. Os brasileiros tiveram até o dia 15 de agosto para se cadastrar para votar fora de seu domicílio eleitoral.