Aflitos e desamparados, pais procuram ajuda para internar o filho que há um ano é viciado em crack. Moradores do bairro Santo Antônio, Danir Antunes da Silva, 56 anos, e Carmen Terezinha Franco, 43 anos, trabalham em empresas da cidade. A mãe acorda às 2h para trabalhar às 3h, e o pai começa às 8h.
Juntos sustentam a família de cinco membros – a mãe, o pai, o menino de 15 anos, o irmão de 19 anos e a irmã de 3 anos. O mais velho é doente, por isso fica durante o dia em casa e precisa de acompanhamento médico.
Danir conta que sempre foi muito rígido com os filhos. Dois mais velhos, do primeiro casamento, foram criados no bairro e nunca se envolveram com drogas. “Estamos cansados. Não dormimos e nem comemos mais direito preocupados com nosso guri”, diz o pai.
Ele acredita que o filho começou a usar entorpecentes no ano passado. O garoto estudava em uma escola municipal do bairro e na metade da manhã saía alegando que estava passando mal. “Um dia a diretora me ligou pedindo se meu filho estava com problemas de saúde. Era tudo mentira. Ele saía para comprar drogas”, relata.
Danir conta que levava o filho cedo para escola e o esperava entrar na sala de aula, em vão. “As más companhias levam meu filho de mim”, lamenta.
O menino abandonou os estudos. Às vezes, passa dois a três dias na rua sem dar notícias aos pais e só volta para casa quando tem fome. “Nossa vida virou um inferno. Quando ele está na rua tememos os riscos. Mas quando está dentro de casa, estamos ameaçados”, angustia-se.
Para Danir, o filho não é mais o mesmo. “Ele mente, rouba e ameaça pela droga [sic]”, conta. O pai acredita que ele ainda não comete crimes na rua, mas sabe que isso não tardará.
O último furto cometido pelo garoto em casa, até a entrevista na manhã de segunda-feira, foi nessa madrugada. Ele chegou por volta de 2h30min, desligou o interruptor de luz, invadiu o banheiro e retirou o chuveiro e as lâmpadas da casa para vender ou trocar por drogas.
Os pais perceberam que era o menino, foram verificar, mas ele tinha saído. No outro dia pela manhã, ele apareceu em casa para tomar café e negou o furto. “Ele chegou como sempre, sujo e com muita fome”, relata.
O menino, segundo o pai, sempre sai de casa vestindo três calças e várias camisetas e volta quase nu. “Troca as roupas dele, dos membros da família, e toda a comida que tem em casa por crack”, entristece-se.
Os tratamentos que não deram certo
Com o auxílio do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) infantil de Lajeado a família internou duas vezes o menino em leitos de tratamento do Hospital Bruno Born (HBB). Na primeira, ele ficou 13 dias, voltou para casa e depois de uma semana retornou ao vício. Na segunda vez, ficou internado por 14 dias e quando voltou para casa rendeu-se novamente às drogas.
As internações foram acompanhadas pelos pais no hospital porque o menino é menor de 18 anos. A mãe teve que pedir licença no trabalho. “Eles foram compreensíveis, mas estão esgotados com nossos problemas particulares”, contam os pais.
Eles afirmam que não podem parar de trabalhar porque precisam do salário para a sobrevivência da família. “Temos contas para pagar. Remédios e comida para comprar”, desabafa.
O que procuram
A família busca um local que aceite internar um adolescente, sem que eles precisem acompanhá-lo diariamente. “Precisamos continuar trabalhando, para quando nosso filho estiver sóbrio ter um lar adequado para morar”, diz.
Danir conta que procurou ajuda com um vereador de Estrela que lhe indicou uma clínica de tratamento em Canoas. Ela é particular e vinculada a uma igreja. Para internar o menino a família terá que pagar R$ 250 por mês, e o Caps fornecer um encaminhamento. “Não temos todo mês esse dinheiro. Mas pelo nosso filho daremos um jeito”, relata.
O que o sistema pensa sobre o caso
O promotor da infância e juventude, Neidemar Fachinetto, é responsável juridicamente pelo caso da família Silva. O pai conversou três vezes com o promotor pedindo ajuda. Contudo, Fachinetto acredita que o problema do tratamento do menino envolve o problema socioeconômico da família.
A solução na visão do promotor é a família tratar-se com o adolescente. “A família me pediu para eu internar o garoto. Parece que querem ver ele longe”, conta. O promotor esclarece que para internar o jovem deve haver um diagnóstico médico de absoluta resistência do garoto ao tratamento, o que não ocorre.
“Mesmo que seja difícil para a família, um deles terá que parar de trabalhar para cuidar do adolescente. Em tudo na vida temos que fazer escolhas”, opina. Fachinetto relata que por medidas jurídicas poderia obrigar os pais a tratarem-se com o filho, mas cita que é preciso ter cautela nesses casos e fazer com que entendam que é preciso ter uma boa relação entre serviços e família.
O coordenador do Fórum da Drogadição, promotor Sérgio Diefenbach, disse que não pode fazer mais nada já que o caso dessa família está sendo atendido pelo Caps e pelo promotor Neidemar Fachinetto.
O trajeto do tratamento
Para prestar atendimento ao menino o Caps infantil busca-o todas as manhãs em casa e leva-o até a sua sede. O pai precisa acompanhar o garoto até um trajeto para que ele não fuja no caminho. Lá, ele fica durante todo o dia.
Até o momento, segundo Danir, esse tipo de tratamento não está funcionando. Ele acredita que uma internação mais severa que restrinja o filho do convívio com amigos será mais eficaz.