Fugir das tentações do mundo do tráfico e abandonar o vício da droga para se tornar um campeão no esporte parece utopia. Mas, é isto que ocorre dentro da pequena casa localizada no bairro Jardim do Trabalhador. É nela que funciona o projeto Raio de Luz que tem como objetivo resgatar a autoestima e a dignidade das crianças que vivem em comunidades carentes, onde são grandes os índices de violência, tráfico e uso de entorpecentes.
Fundado em 2003, e sem fins lucrativos, o projeto oferece, no horário oposto ao da escola, aulas de reforço escolar, grupos terapêuticos com psicólogos, biblioteca, sala de informática, aulas de capoeira, luta olímpica, jiu-jítsu, teatro e danças tradicionalistas. Cursos profissionalizantes de serigrafia, básico de computação e instrutor de artes marciais são oferecidos. Segundo a presidente Sheyla do Nascimento, o público-alvo do projeto são alunos de 3 a 17 anos. “Oferecemos meios práticos para que essas pessoas desenvolvem seus talentos e potencialidades”, diz.
Na última semana, foi confirmada a doação de uma área de três mil metros quadrados por parte da administração municipal, na qual futuramente será construída a nova sede. A atual, segundo Sheyla, é alugada e foi reformada por voluntários e pelos alunos. “Infelizmente, os donos do imóvel, agora, querem vendê-lo, então precisamos urgentemente de ajuda para construir a nova sede”, diz.
Celeiro de campeão mundial
Um dos professores voluntários é Rovel Rosendo, mestre em artes marciais. Com a equipe, ele é responsável por um título mundial e outro brasileiro de jiu-jítsu, conquistado por alunos do projeto. Além disto, há campeões gaúchos de jiu-jítsu e luta olímpica. “Temos muitos talentos aqui, inclusive para disputar olimpíadas. Mas, é preciso patrocínio e apoio”, afirma, acrescentando que muitas vezes realiza treinos leves, pois muitos alunos não têm uma alimentação balanceada. “Teve aluno que desmaiou por estar quase dois dias sem comer”, lamenta.
Roseando orgulha-se ao lembrar que o presidente da Federação Gaúcha de Luta Olímpica elogiou os atletas do projeto durante o último campeonato gaúcho da modalidade, no qual foram conquistadas 24 medalhas, sendo 14 de primeiro lugar. “A maioria não tinha sequer uniforme para lutar”, lembra. Um deles era Saivá da Silva, de 12 anos, que hoje percebe a diferença no seu comportamento. “Antes não tinha muita disciplina. Agora tenho uma meta que é seguir no esporte e conquistar novos títulos”, diz.
O professor lamenta apenas a falta de apoio, pois gostaria de levar todos para as competições. “É um trabalho de inclusão social, mas somos obrigados a excluir alguns dos torneios por falta de verbas. Isto desmotiva alguns.” Ele diz que empresas poderiam patrocinar as equipes, pois a grande maioria dos torneios nacional e internacional. “Além da solidariedade com essas crianças, um patrocínio seria interessante para divulgar a marca”, opina, acrescentando que o projeto tem autorização para utilizar as marcas da Unicef e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
Projeto necessita de doações
Idealizador do projeto, o ex-dependente de drogas, Vagner Rodrigues Galiano, lembra que todo patrimônio do projeto foi conquistado pelas doações. Ele diz que poderia fazer muito mais pelas crianças, se houvesse um apoio financeiro maior. “Infelizmente, não podemos oferecer refeições para nossos alunos”, lamenta. Outro problema citado por ele é a dificuldade de manter os professores, que realizam seus trabalhos de forma voluntária ou por pagamentos simbólicos. “Quando surge uma oportunidade de emprego, eles saem projeto”, afirma, acrescentando que isto acaba com vínculo entre professor e aluno, desmotivando-os.
Galiano afirma que são necessárias doações constantes de livros, computadores, móveis, material esportivo, alimentos. “Mas, o que precisamos urgentemente é apoio para cercar a nova área e iniciarmos a construção”, diz. Segundo ele, não há verbas para a obra, e o projeto corre o risco de ficar sem sede, caso a atual seja vendida antes de finalizadas as obras. “Quem quiser ajudar pode nos contatar pelo 3751-2582. Posso garantir que é compensador para o coração ajudar essas crianças”, afirma.