Número de transplantes reduz 6%

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Número de transplantes reduz 6%

Muito mais do que doar ór­gãos e fa­zer parte de uma estatística, quem consente a cirurgia doa espe­rança. Em apenas uma cap­tação de múltiplos órgãos, pelo menos seis pessoas são beneficiadas e têm a chance de mudar a vida. Embora o número de transplantes de órgãos no país tenha crescido 16,4% no primeiro semestre do ano em comparação ao mesmo período em 2009, conforme da­dos do Ministério da Saúde, no estado foi registrada uma queda de 6%. No Brasil de janeiro a junho, foram realizados 2.367 transplantes de órgãos, enquan­to nos seis primeiros meses do ano passado foram 2.033.

O secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, atribui os bons resultados aos investimentos do governo no Sistema Nacional de Trans­plantes (SNT), tanto em capacitação de profissionais quanto em recursos financei­ros. Entre 2003 e 2009, os investimentos no SNT tripli­caram de R$ 327,8 milhões para R$ 990,5 milhões.

No caso do Rio Grande do Sul e do Vale do Taquari, conforme o coordenador da Central de Transplantes, Eduardo Elsade, os núme­ros não são tão expressivos. “Foram realizados apenas 34 transplantes nos primei­ros três meses do ano – o que representa 14,5% das operações realizadas no país. Essa queda preocupa, pois temos mais de quatro mil pessoas na fila por al­gum órgão”, explica.

Filas aumentam e falta informação

Hoje, em Lajeado, são realizados transplantes de rins e córneas. A Central de Transplantes de Porto Alegre informa que, no município, há uma fila com 18 pessoas em busca de córneas e 17 de um rim. A coordenadora de trans­plantes do Hospital Bruno Born (HBB), Rosane Wagner, explica que a instituição tem duas equipes, uma responsável pelo acompanhamento do processo de transplante e outra para organizar campanhas e orientar as doações. De janeiro a julho foram registrados apenas sete transplantes.

Rosane acredita que o prin­cipal desafio é a falta de infor­mação da população sobre o procedimento. “As famílias têm receio de permitir a do­ação, se sentem inseguras, pois falta esclarecimento”, aponta.

A coordenadora afirma que nada é feito sem a cer­teza da morte encefálica e o consentimento familiar. Ela explica que, com o aval, a partir da notificação da morte encefálica, o hospital abre um protocolo na Central de Transplantes de Porto Alegre. A família do falecido assina documentos que provam o consentimento da doação.

HBB cria rede de doações

Monitorar melhor eventuais doadores e garantir as condições ideais para que os ór­gãos desses pacientes possam ser aproveitados é o objetivo da criação de seis Organizações de Procura de Órgãos e de Tecidos (OPOS) no estado, nos municípios de Canoas, Passo Fundo, Rio Grande, Porto Alegre e Lajeado.

O diretor técnico do HBB, Cláudio Klein, res­salta que o grupo estará à disposição 24 horas por dia, sete dias na semana. “Hoje, não há integração, nem trabalho regular de acompanhamento e atu­alização do trabalho das equipes das UTIs, por isso a busca por órgãos muitas vezes começa tardiamente”, resume.

Na legislação, a lei 10.211, de 23 de março de 2001, substituiu a doação presumida – que constava nas carteiras de identida­de e habilitação – para a manifestação da vontade. Assim, a retirada de ór­gãos para a realização de transplantes depende da autorização familiar.

Hoje, há mais de 70 mil brasileiros que esperam por um órgão, enquanto quatro mil aguardam no estado. Hoje, para cada um milhão de ha­bitantes há apenas sete doadores.

hemodialise

“Tentamos levar uma vida normal”

Adão da Costa, 65 anos, e Inês Brentano, 51 anos, de Arroio do Meio, precisam rece­ber um rim. Ele está na fila do transplante há quatro anos. “Tento levar uma vida normal, mas me cuido para evitar problemas”, diz. Três vezes por semana, os dois precisam se deslocar até o HBB para realizar hemodiáli­se. O procedimento é uma preparação para receber o órgão que no momento é substi­tuído pela máquina que realiza a filtragem de sangue de ambos. Eles se conheceram em uma das sessões, tornaram-se amigos e hoje dividem despesas com gasolina e estacionamento para economizar nas vindas a Lajeado.

A rotina de quem passa por essa experi­ência muitas vezes inclui mal-estar e tontu­ras e nunca foge à necessidade de agulhas para a retirada do sangue e cuidados com a alimentação para manter o peso e evitar o acúmulo de líquido no corpo. Na quarta-feira durante a sessão de hemodiálise, Inês sentia-se fraca e Costa reclamava dos riscos do procedimento. “Se a agulha escapa por um minuto a gente morre. É preciso cuidar sempre”, relata.

Segundas, quartas e sextas-feiras, Costa chega no HBB por volta das 17h e o procedimento termina às 21h30min. “Se contarmos o que passamos durante as sessões pensarão que é mentira, pois é horrível”, diz Costa, mostrando as marcas das agulhas nos braços. Ele reclama da fal­ta de doadores. “Morre tanta gente, mas os órgãos não são oferecidos, com isso nosso drama na fila só aumenta”, protesta.

“Eu nasci de novo”

Graças a um transplante o agri­cultor Pedro Darci Schmitz, 46 anos, de Sampaio, em Santa Clara do Sul mudou sua vida. Até hoje, ele enche os olhos de lágrimas, lembrando do dia 15 de outubro de 2003, quando realizou o transplante de medula óssea, depois de sete anos de espera. “Eu nunca acreditei que con­seguiria. É uma data que nunca vou esquecer, meu segundo aniversário. Naquele momento, nascia de novo”, emociona-se.

Depois da cirurgia, sua vida mudou. As intermináveis viagens, exames, internações no hospital eram desne­cessárias. “Doar é um gesto solidário e que pode mudar a vida das pesso­as. Só quem passa por esse drama sabe o quanto é importante receber esta ajuda”, comenta.

Mesmo com a dificuldade superada, Darci cuida da saúde. Os exames de prevenção são rotineiros. Apesar do sucesso do transplante e da recupe­ração, ele ainda não está totalmente livre do câncer, tanto que precisa cuidar da alimentação e fazer o uso contínuo de remédios. Desde 2003, foram 225 viagens a Porto Alegre.

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