O Vale do Taquari deu mais um importante passo rumo ao desenvolvimento de sua cadeia produtiva de leite. Uma comitiva de lideranças obteve em Brasília, com o ministro Wagner Rossi, a garantia de agilidade no processo de credenciamento do laboratório de leite da Univates pelo Ministério da Agricultura (Mapa). Agora, é preciso que uma equipe do ministério realize uma auditoria técnica no local, para só então acatar o pedido da instituição. A credencial garantirá à região uma nova ferramenta para controlar a qualidade do produto, servindo principalmente como fiscalizador e apoiador do trabalho realizado pelo produtor. Será um importante aparato para o projeto em parceria com a Galícia, que tem como principal objetivo transformar o leite da região em matéria- prima de exportação e aceitável pelo mercado nacional e mundial. No estado, essas análises são realizadas apenas em Passo Fundo.
Segundo o presidente da Câmara de Indústria e Comércio (CIC-VT), Oreno Ardêmio Heineck, o local proporcionará a certificação de produtores, agroindústrias e cooperativas, dentro das exigências oficiais da Instrução Normativa 51 – que estabelece critérios para produção de leite. “Hoje essas exigências são feitas apenas a produtores que vendem para indústrias fiscalizadas pelo Sistema de Inspeção Federal. Mas, logo será exigido para todos, por isso a importância de nos adiantarmos”, diz. Heineck assegura que as análises são importantes para apontar possíveis deficiências no produto, no rebanho, ou nas instalações da propriedade. “Ele apontará os parâmetros e mostrará onde o produtor deve agir para melhorar a qualidade do produto”, explica. Ele frisa que o laboratório será uma
Benefícios do laboratório
Com o credenciamento, o laboratório atenderá 183 municípios, beneficiando cerca de 14 mil famílias de pequenos produtores rurais e 50 laticínios ativos de todos os portes. As ações decorrentes das análises laboratoriais do leite permitirão ajudar na inclusão social de produtores no processo qualificado de produção que o mercado nacional e internacional exige. “Será um importante instrumento para auxiliar no fomento do produtor rural”, diz. Igualmente, explica Heineck, será beneficiada a profissionalização da produção do leite em todos os seus estágios; o ganho no rendimento em todos os segmentos que atuam na cadeia produtiva; o aumento das divisas com a exportação de lácteos mais qualificados; e a sustentabilidade da pequena propriedade rural, com a redução do êxodo rural e a fixação do homem no campo.
Estrutura do local
Localizado no prédio 5 da Univates, o local está adequado para analisar amostras de leite cru, oriundo de propriedades rurais de laticínios (são analisados ainda leite em pó, pasteurizado, entre outros). Com 125 metros quadrados de área, terá capacidade para realizar até 30 mil amostras por mês, atendendo mais de 13 mil produtores. Hoje, explica o gerente-administrativo da Unianálises, Jéferson Bottoni, o laboratório realiza 16 mil ao mês, número que só será duplicado quando ocorrer a aprovação do credenciamento com o Mapa, e na Rede Brasileira da Qualidade do Leite. Segundo Bottoni, o local conta com equipamentos de última geração que possibilitam precisão e aumento na qualidade dos resultados, rapidez, custo baixo e capacidade de terceirizar laboratórios de indústrias.
De acordo com o gerente, há dois aparelhos de última geração, sendo que um realiza 200 amostras por hora, enquanto o outro dispõe cem. São oferecidas análises de proteína, gordura, sólidos totais, sólidos não gordurosos e lactose, Contagem de Células Somáticas (CCS), Contagem Total de Bactérias (CBT) e análises de ureia, sendo que o resultado pode ser enviado via internet, ou mensagem de celular, para facilitar o serviço ao cliente. Segundo Bottoni, hoje trabalham quatro pessoas no laboratório (dois químicos industriais e dois auxiliares), mas a expectativa é que esse número cresça para 15 com o credenciamento. Bottoni explica que enquanto não estiver credenciado o laboratório trabalhará apenas como uma ferramenta de apoio aos agricultores que podem utilizar as análises para averiguar a qualidade individual dos animais. Esses exames podem indicar o estado nutricional do rebanho e deficiências como mastite e excesso ou baixa concentração de ureia no leite.
Projeto-piloto é reconhecido nacionalmente
Pioneiro em âmbito nacional, o Plano Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Bovina (PNCEBT) está sendo reconhecido por secretarias de Agricultura de todo o Brasil. Segundo Heineck, a intenção de transformar a microrregião da comarca de Arroio do Meio (Arroio do Meio, Capitão, Coqueiro Baixo, Nova Bréscia, Pouso Novo e Travesseiro) em território livre de brucelose e tuberculose bovinas está servindo de modelo para outros projetos dentro do país. “Hoje, apenas cem propriedades têm o certificado de zona livre das doenças. Aqui, pretendemos certificar 2,7 mil”, afirma. Heineck informa que dos 35 mil animais avaliados, a doença foi verificada em 0,7% desse montante, e em apenas três propriedades a incidência foi alta, variando de 80% a 90%. “Esses números nos animam e demonstram que apesar de algumas carências, nosso produtor é de muito boa qualidade”, diz, acrescentando que dos 36 municípios do Vale do Taquari, 26 têm mais de 50% de sua população vivendo na área rural.
Heineck cita a projeção apresentada pelo Sindilate para explicar a importância do projeto. “Em 2013, a perspectiva é de uma capacidade instalada adequada para produção de até 18,5 milhões de litros por dia. Mas é preciso ter para onde vender”, diz. Ele comenta que o plano está adiantado, e que a previsão para seu término baixou de 28 para 18 meses. Segundo ele, são 18 veterinários trabalhando no processo, diversas agroindústrias, e grandes cooperativas, como Cosuel e Languiru, estão engajadas no programa. “É o mercado que está movimentando isso, pois ele não importará mais sem certificado”, salienta. Heineck explica que os 35 mil bovinos serão identificados com série numérica do SISBOV, o que, em relação ao gado leiteiro, lança as bases para uma produção com rastreabilidade que somada à pureza sanitária a ser alcançada oportunizará o acesso a mercados compradores internacionais de primeira grandeza, promovendo o alargamento do consumo no mercado nacional. “Haverá ainda o controle efetivo sobre o trânsito de bovinos e o abate clandestino de animais”, finaliza.
Mapa ainda deve sua parte
Aloisio Graff, 59 anos, e o filho Person, 31 anos, produzem mais de 400 litros de leite diários. O produtor perdeu duas vacas, mas ainda não recebeu a indenização do Mapa. Eles reclamam da falta de acompanhamento dos coordenadores do projeto. “O projeto é bom, mas deveria ser explicado com mais detalhes para os produtores”, diz. Da mesma forma o produtor Blasio Graf, 51 anos, tem 29 vacas e produz uma média de 460 litros de leite diários. Ele reclama da falta de atendimento dos responsáveis pelo projeto e indignado diz que se arrependeu de participar. “Se eu soubesse que seria assim nunca participaria”, comenta. Graf conta que calcula um prejuízo de R$ 18 mil nos últimos três meses. Ele perdeu sete vacas e acredita que a maioria não estava doente. “Estou desconfiado, os veterinários mal examinam os animais e querem o sacrificar, acho isso injusto. E ainda assim não recebemos a indenização”, reclama.
O produtor Darci Kuhn, 62 anos, tinha sete vacas, mas perdeu cinco. Desanimado, ele não quer mais produzir leite. “Fiquei só com duas vacas. Sou aposentado não quero mais me incomodar com essas pessoas que querem tirar tudo dos pequenos produtores”, lamenta. Questionado sobre o assunto, Heineck diz que como o processo nunca havia sido implantado pelo governo federal, algumas questões burocráticas atrasam o envio das verbas, mas adianta que o recurso foi liberado e encontra-se no governo do estado. “Esse problema será resolvido, não há motivos para desconfiança junto ao projeto”, garante. Sobre a propriedade de Darci Kuhn, Heineck comenta que o proprietário teve sorte de não ter sido contagiado pelas doenças e que com a ajuda do plano ele agora não corre mais risco. “A doença pode ser transmitida no trato com o animal e no momento de ingerir algum produto oriundo do leite. Esse é um problema de saúde pública”, diz.