Passados 24 dias do início oficial do inverno, os gaúchos começam a sentir os efeitos da estação. Conforme informações do Centro de Informações Hidrometeorológicas (CIH) da Univates, a temperatura mais baixa do ano registrada em Lajeado foi de 2,3°C na manhã de quinta-feira, dia 15. No fim de semana, uma área de instabilidade espalha-se sobre o estado, aumentando a chance de chuva. As temperaturas mínimas nas cidades do Vale ficam em torno dos 10°C e as máximas podem alcançar 15°C. “O tempo começa a melhorar por volta da metade da próxima semana, depois é provável uma nova queda das temperaturas”, afirma Juliana Tomasini, do CIH.
No comércio a queda da temperatura significa aumento das vendas. “Não em quantidade, mas no valor dos produtos, o que pode representar um acréscimo de 20% a 30% no faturamento de julho”, afirma João Paulo Bicca, gerente de uma loja de vestuário e calçados no centro de Lajeado. Segundo o lojista, é esperado que mais de 400 pessoas circulem pelo estabelecimento, no sábado, em busca de casacos, blusas, calças, entre outros produtos que podem alcançar preços médios de cerca de R$ 150.
Mesmo assim, os principais meses de faturamento para os produtos de inverno são abril, maio e junho, quando uma média de mil pessoas circulou no local em alguns sábados. “Em comparação com junho do ano passado esperamos um bom acréscimo nas vendas dessa linha de produtos”, estima.
Para mãe e filha, Lucita Scherner e Cláudia Novacosquy, a média investida em roupas nessa quinta-feira ficou em torno de R$ 250. O motivo não era o inverno, e sim a formatura da neta/filha que ocorre neste fim de semana. Lucita veio de Farroupilha para a comemoração e as compras, local conhecido pelas ofertas em vestimentas de inverno. Segundo ela, em Lajeado, as opções de compra para o casaco e a blusa escolhidos são mais variadas e a qualidade superior. Cláudia conta que a mãe está comprando em Lajeado e pagará na filial de sua cidade aproveitando a interligação entre as lojas.
Alternativa de renda
A produção de artigos em lã é uma opção para quem deseja incrementar a renda no inverno. Com um retorno de cerca de 50% do investimento é possível transformar o hobby do crochê, tricô e da tecelagem em dinheiro. “Quem se programou para ter os produtos prontos em maio e fez a divulgação entre amigos e familiares pôde ganhar dinheiro com a produção em casa”, afirma Maria Salete Arend, funcionária de uma loja de artigos de costura em Lajeado. Segundo ela, os fios de grandes espessuras, pompons e rendas têm ampla procura nesse período.
Auxílio aos desabrigados
Quem depende e do poder público para enfrentar a estação mais fria do ano, dispõe do Abrigo São Chico, em Lajeado. Há dez anos, a instituição realiza o acolhimento de moradores de rua. Desde o dia 22, atendendo no bairro Florestal, o local proporciona cuidados básicos como moradia, alimentação, higiene, vestuário e atendimento médico. Hoje, o Abrigo São Chico acolhe 15 abrigados fixos, além de pessoas que passam algumas noites na entidade até serem encaminhados às suas cidades. Todas as terças-feiras os abrigados participam de oficinas de artesanato.
Paulo Ricardo da Silva, 44 anos, está há três anos na rua e na quinta-feira buscou ajuda pela primeira vez no São Chico, depois que seus pertences foram queimados. Agora ele pretende conseguir seus remédios para o tratamento do problema de pulmão por meio dos órgãos municipais. Silva alegrou-se com a acolhida.
João Batista Alvez, 45 anos, frequenta o abrigo desde que estava instalado na Igreja do São Cristóvão. O São Chico foi sua alternativa, da qual não reclama, pois ali tem o que precisa. Durante o dia, Alvez faz seus “biscates”.
Outra forma de auxílio oferecida às famílias carentes do município no inverno são as Campanhas do Agasalho, realizadas pelo poder público municipal com o auxílio da comunidade, escolas e empresas. Em 2009 a iniciativa coordenada pela Secretaria Municipal do Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas) registrou o recebimento de mais de 11 mil donativos.
A campanha faz parte do atendimento oferecido pelo Centro de Referência em Assistência Social (Cras), que atende 825 famílias carentes de Lajeado. O órgão oferece auxílio profissional, trabalhos em grupo, oficinas de artesanato, saúde e beleza e opções de renda como é o caso da futura participação de artesãos no brique da Ciclovia. A sede da entidade fica na rua Júlio May, 496, no centro. Os profissionais são responsáveis pela entrega de agasalhos e cestas básicas para famílias lajeadenses em condições de vulnerabilidade.
Geadas preocupam
A geada traz prejuízos para vários setores da agricultura. Parte da produção de hortaliças foi perdida em algumas lavouras com o gelo. Com dois dias consecutivos de frio intenso, 90% das hortaliças foram danificadas na região, principalmente nos canteiros não protegidos por estufas, onde as plantas ficam expostas às baixas temperaturas.
Paulo Ulsenheimer, de Santa Clara do Sul, que há 15 anos cultiva hortaliças, diz que o frio deverá trazer prejuízos se persistir pelos próximos dias. “Até agora não tivemos perdas, mas as fortes geadas que estão previstas deverão afetar a produção. Com isso os preços de certas variedades deverão ser reajustados”, projeta. No ano passado, as perdas chegaram a 50% com as constantes chuvas e a forte geada que caiu nos meses de julho e agosto.
Flavio Eckert, do bairro Conventos, comprou sombrite (cortina) para proteger as plantas do frio. “Assim evito perdas e mantenho a minha renda estável nesses meses’’, explica. Outra cultura afetada é a de cana-de-açúcar que está entrando no período de corte e a quantidade de açúcar está abaixo do esperado, em decorrência de muitos dias sem sol. Está faltando cana para as agroindústrias de melado, cachaça e demais derivados. Os produtores temem a geada nesta época do ano. A cana tem o valor entre R$ 80 e R$ 110 por tonelada.