Um novo quadro educacional constitui-se na região – professores em processo de formação dão aulas para alunos nas escolas. As redes de ensino buscam em graduações de universidades estudantes de licenciatura para suprirem a carência de professores formados no mercado. O despreparo desses educadores graduandos gera índices relacionados no teste do Ministério da Educação (MEC) – que avalia a qualidade do ensino básico – no qual em 2007 apresentou resultados piores em relação a 2005.
Em escolas municipais de cidades pequenas, a exemplo de Canudos do Vale, além da dificuldade de encontrar professores formados há o problema de aceitação em lecionar em uma cidade distante. A Secretaria Municipal de Educação do município contrata estudantes de licenciatura em caráter emergencial para solucionar parcialmente a necessidade da disciplina carente. A secretária de Educação de Marques de Souza, Sônia Scherer, diz que tem problemas de encontrar um professor de Informática formado. Como solução admitiu um professor com noções básicas na área e uma empresa especializada para assessorá-lo, aumentando o custo funcional da disciplina. Nesta localidade professores da Educação Infantil têm apenas o magistério para dar aulas.
A secretária de Educação de Lajeado, Rejane Maria Thomas Ewald, credita a redução do número de candidatos à complexidade da área e à diversidade de ofertas profissionais que hoje se apresenta aos jovens. Conforme ela, o campo das exatas (Matemática, Física e Química) é o que hoje apresenta queda acentuada de profissionais.
Em nível estadual sobram professores para as vagas nas escolas. O sistema de cadastro no banco de dados para contratos temporários permite que se tenha sempre acesso a pessoas interessadas em suprir as vagas existentes. A coordenadora regional de Educação, Maria Eunice da Rocha Werle, explica que em caso de extrema necessidade, o aluno do curso de licenciatura que estiver cursando o quarto semestre, ou seja, dois anos, pode inscrever-se para dar aulas. No entanto, esse trabalho é acompanhado nas escolas pela coordenação pedagógica e direção. Conforme Maria Eunice, o ensino de qualidade dependerá sempre do professor e quão motivado ele estiver.
Um estudo da consultoria McKinsey mostra que a Finlândia tem o ensino mais bem avaliado do mundo. Eles não premiam o professor pelo seu tratamento, mas atraem os melhores profissionais do mercado com altos salários e carreira promissora. As faculdades relacionadas à educação são as mais concorridas nesse país.
Avaliações do ensino na região
Hoje o sistema de avaliação para promoção do professor estadual é realizado por meio de uma ficha de avaliação cumulativa (Firesc), em que aparecem informações de atuação do profissional na escola, rendimento e qualidade do trabalho, cooperação, deveres e responsabilidades, assiduidade, pontualidade, conhecimento e/ou experiência e iniciativa de cada um.
Na rede municipal de ensino cada professor elabora um “dossiê” de si próprio a partir de atividades elaboradas com alunos em sala de aula. Após apresenta aos colegas que ao final de cada assembleia votam secretamente nos três melhores trabalhos. Só não receberá uma vaga para a promoção quem ficar sem voto.
É preciso vocação para ser professor
A coordenadora Maria Eunice da Rocha Werle relata que antigamente os professores eram considerados autoridades. Viajavam diversos quilômetros para ensinar alunos que na maioria das vezes só falavam a língua alemã. “Eram poucos alunos e poucos professores, mas os existentes cumpriam suas funções por amor e vocação”, diz.
Maria Eunice explica que o interesse pelos cursos de magistério e licenciatura diminuiu devido ao processo de desvalorização da profissão pela sociedade. Ela conta que o estado busca reverter essa situação por meio de cursos de capacitação e formação continuada, oferecendo meios para que o professor esteja mais confiante em sala de aula.
Incentivos
A falta de professores fez com o governo federal criasse um incentivo para estudantes ingressarem nessa profissão. Nos últimos meses interessados na área podem financiar uma graduação em até 100% o valor do curso e se quando formados trabalharem em escolas públicas terão abatido da dívida 1% ao mês, ou seja, em 8 anos e 4 meses de trabalho o financiamento estará quitado.
Poucos interessados na área
O curso de Letras da Univates que durante 12 anos manteve-se com nota máxima na Avaliação Nacional do MEC e há quatro anos ficou em primeiro lugar no país, hoje é pouco procurado por alunos. No primeiro semestre de 2009 teve cancelado o vestibular pela baixa demanda de inscritos. A coordenadora Renate Schreiner explica que neste ano aumentaram os inscritos e não houve cancelamentos. No entanto, alega que há falta de professores no mercado e em todos os inícios de semestre as secretarias municipais de cidades do Vale do Taquari e cursos de idiomas pedem indicações de professores em processo de formação ou graduados.
Salário deixou de ser maior problema
O salário é um antigo fator indicado pelos professores como problema na educação brasileira. No entanto, dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o Brasil gasta cerca de 70% do orçamento educacional com folha salarial – quase três vezes mais do que os 25% que a Constituição estipula que estados e municípios devam gastar.
Um professor municipal de Lajeado recebe vencimentos que alternam dependendo da posição de cada um deles no Quadro do Plano de Carreira do Magistério Público Municipal. A “Tabela de Vencimentos” prevê como menor salário R$ 975,56 com vale- refeição (para 20 horas e com formação em Curso Normal) e o maior salário de R$ 2.248,58, com vale refeição (para 40 horas e com Pós Graduação).
Professor tem emprego garantido
Os 143 alunos de Letras do Centro Universitário Univates, em sua maioria, dão aulas em escolas da região. Eles são contratados pelo município de forma emergencial, pois profissionais sem formação não podem ser contratados por concurso e ainda há possibilidades de emprego em cursos de idiomas oferecidos na cidade.
A coordenadora do curso de Letras da Univates, Renate Schreiner, explica que o centro de formação oferece habilitações em língua e literatura – português/inglês e português/espanhol – para facilitar a atuação e ampliar as possibilidades de emprego dos profissionais formados. “Com duas habilitações no mesmo curso o professor poderá atuar em duas disciplinas na mesma escola”, cita.
Na visão da secretária Rejane Ewald, a garantia de emprego com sucesso está relacionado com competências desenvolvidas. “É preciso fortalecer a forma de ensinar com estudo continuado”, conta.