Para Guilherme e Silvia Uhrig adotar crianças vai além de dar sobrenomes em uma certidão de nascimento. É criar, educar e amar acima de tudo. No Dia Nacional da Adoção – 25 de maio – eles comemoram 30 anos ao lado dos filhos adotivos. O casal adotou-os quando ainda eram bebês, porque foram abandonados pelas mães biológicas – dois são deficientes físicos. Fato que impulsionou ainda mais o acolhimento da família.
A decisão partiu de um acordo feito entre o casal após Silvia ter o quarto aborto equase morrer. Em depressão a mulher queria ser mãe e a única forma seria pela adoção. A primeira filha acolhida pelo casal foi Simone, hoje com 36 anos. A mãe biológica, com seisfilhos, não podia cuidar de mais uma criança e acompanhada de um amigo de Guilherme levou o bebê com apenas 3 meses até a casa do casal. De forma inesperada decidiram ficar com a criança. Após cinco anos criando Simone com um termo de guarda concedido porum juiz, obtiveram a adoção legalizada.
O segundo filho, Anderson Guilherme, 30 anos, foi adotado no Hospital BrunoBorn (HBB). Silvia visitou uma amiga no hospital e a companheira de quarto era uma menina gestante de 15 anos. Segundo a mulher, a jovem estava desesperada e dizia que abandonaria o bebê logo após o parto. “Perguntaram-me se queria ficar com a criança. Lembrei do que a jovem disse e aceitei.” Silvia viu seu segundo filho nascer da mãe biológica e conta que sentiu todo momento do parto como se fosse ela mesma. Anderson nasceu prematuro de 6 meses e com problemas de coordenação motora. Os médicos lhe deram poucas perspectivas de continuar a viver, mas o casal não desistiu e o acompanhou em todas as semanas de internação.
Daniel Márcio, 28 anos, foi o terceiro filho adotado pelo casal. Chamado carinhosamente pela família de “Negão”, foi retirado por ordem judicial dos pais biológicos após o nascimento. Exposto na maternidade do HBB para adoção Daniel também tem problemas de coordenação motora, mas o fato novamente não foi empecilho para Guilherme e Silvia que o levassem para casa. “Olhei para cada um deles e foi amor a primeira vista”, relembra a mãe.
Desde pequenos os três filhos sempre souberam que foram adotados e a forma que aconteceram os processos legais. Os pais biológicos foram desvinculados de suas vidas ehoje apenas Guilherme e Silvia são o topo da cadeia familiar dos filhos. O fato de dois deles terem deficiências não foi critério de negação para os pais. “Estou realizada com meus filhos. É como se eu fosse a mãe biológica”, relata. Para Guilherme ter três filhos é um orgulho porque continuará na média da família. Ele explica que teve nove irmãos e cada um deles teve pelo menos três filhos.Guilherme acrescenta que a cada filho que adotou sua vida melhorou profissional e financeiramente. “Cada um deles quando veio me deu mais força para continuar trabalhando motivado”, cita. A neta Emily Cornélios, filha de Simone, mora com os avós desde pequena, conforme Silvia, foi quase uma quarta adoção.
Faltam crianças do “perfil” desejado
As pessoas quando procuram crianças para adoção podem optar por um perfil. É possível escolher o sexo, raça, idade e até a cor dos olhos do pretendido. Dados do Conselho Nacional de Justiça indicam que há 22 mil pessoas cadastradas para adotarem crianças no Brasil. No entanto, apenas quatro mil crianças estão dentro das especificidades dos interessados, que normalmente exigem menores de 3 anos de idade.Em Lajeado, há cerca de 40 casais, esperando na fila de espera nacional, dispostos e habilitados a acolher uma criança em seus lares. Neste ano três adoções foram legalizadas, mas ainda há em torno de 20 adolescentes nos dois abrigos da cidade esperando uma família. São jovens maiores de 10 anos que foram desvinculados por meio judicial dos pais biológicos e não se enquadraram nas preferências dos que aguardam.Conforme a integrante do Grupo de Apoio à Adoção de Lajeado, Naide Heemann – que também adotou uma criança – casais que adotaram ou que aguardam na fila realizam mensalmente cursos e trabalhos de orientação com profissionais especializados como psicólogos e outros.
Dificuldade de adotar crianças conhecidas
Apaixonada por crianças, uma mulher de Estrela, aos 50 anos busca a adoção de uma menina de 3 anos que não foi destituída da família. Segundo ela a mãe biológica da criança é usuária de crack e deixou a menina aos cuidados de uma senhora que mora nas proximidades de sua casa. Essa senhora não teria mais condições de cuidar da criança, mas a assistência social da cidade estaria evitando o caso.Há dez anos a mulher desistiu de ter filhos por problemas de saúde, mas agora viu na menina um desejo de ser mãe. Ela procurou o Ministério Público (MP) e a Assistência Social do município para conhecer os processos legais e foi avisada de que teria que se habilitar e entrar na fila de espera para conseguir adotar uma criança. “Uma atendente até me disse que eu só queria adotar aquela menina porque ela era bonitinha”, indaga. Ela questiona as dificuldades em adotar crianças e confessa que perdeu as esperanças de criar a menina. “Queria tanto participar da vida dela, levar para a escola e ver uma apresentação artística dela”, diz.
Adoção direta
Há possibilidade de uma adoção direta a intuitu personae que é aquela que ocorre quando os próprios pais biológicos escolhem a pessoa que adotará seu filho. No entanto, deverá ser comprovado que a pessoa tem algum vínculo com mãe para não caracterizar o crime da compra de bebês.
Como adotar uma criança
Interessados em adotar uma criança devem procurar o juizado da infância no Fórum de sua cidade. Inscrever-se com a apresentação de alguns documentos: qualificação completa do casal; dados familiares; cópia de certidão de casamento ou união estável; cópia registro geral e CPF; comprovante de renda; atestados físicos, mentais e de antecedentes criminais.Após será feita a análise da possibilidade de habilitação do casal para aguardar na fila de espera por uma criança que se enquadre nas especificações desejadas.