As pessoas devem ter mais cuidado ao contratar serviços de guarda para suas empresas ou suas casas. Esse trabalho, que na maioria das ocasiões é feito por acordos verbal, tornou-se problema na cidade. Chamados popularmente de vigilantes, os zeladores criam empresas prestadoras de serviços e procuram clientes em bairros que têm mais índices de assaltos. Entretanto, alguns em vez de auxiliarem na segurança do patrimônio, fornecem informações privilegiadas aos bandidos. Uma empresária de lajeandense foi lesada duas vezes pelo mesmo vigia. Em fevereiro sua loja no centro da cidade foi furtada por bandidos que entraram durante a noite e levaram roupas e dinheiro, ocasionando um prejuízo de R$ 14 mil para a vítima. Na polícia a versão dos guardas-noturnos foi de defesa – o crime teria ocorrido durante o dia. No entanto, testemunhas declaram que os seguranças facilitaram a entrada dos bandidos em um sábado à noite, utilizando suas próprias lanternas para auxiliar no crime. Dias depois a vítima cancelou o contrato de serviço e equipou seu empreendimento com um novo sistema de segurança que lhe custou R$ 7 mil. A empresa desvinculada ficou insatisfeita com a decisão da vítima e entrou com um processo judicial indenizatório, justificando relações trabalhistas – a ação será decidida em outubro e caso a vítima perca terá que pagar R$ 21 mil para o zelador. Crimes como esse são cada vez mais frequentes na cidade. Seguranças noturnos envolvem-se em delitos, são dispensados e entram com ações judiciais, reiterando valores. No ano passado, alguns vigias foram indiciados por participação em assaltos, inclusive em indústrias, pela Polícia Civil de Lajeado. Conforme o chefe do Setor de Investigações (SI), Paulinho Cavalheiro, a maioria das empresas que trabalha cuidando de imóveis na cidade contrata terceiros para realizarem o serviço. Esses, devido ao seu baixo custo funcional, normalmente têm antecedentes criminais e não são qualificados para atuarem na atividade. Segundo o policial, a responsabilidade está ligada às próprias vítimas que contratam empresas prestadoras do serviço sem solicitar informações cadastrais e levando em conta os menores preços. “O serviço de um bom profissional, com cursos de capacitação pela Polícia Federal, custa em média R$ 1 mil por mês”, diz. Cavalheiro explica que as pessoas querem ter o serviço e acreditam que possam estar seguros com ele, mas querem pagar apenas R$ 20 por mês. Em alguns casos o cliente compra o serviço, pois se sente intimidada. O policial civil alega que o vigia vai até a pessoa para oferecer o serviço, anunciando que se caso não houver contratação poderá haver crimes na localidade. “Indiretamente ele ameaça e a pessoa sente-se obrigada a pagar uma mensalidade”, conta. Ele descreve que inicialmente o zelador passa com a motocicleta três vezes em frente à residência, assobia ou apita para anunciar que passou pelo local. Depois de dois meses quando possui uma clientela formada passa apenas uma vez ou então, dependendo das condições meteorológicas nem passa. Para ele o serviço sem qualidade dos zeladores atrapalha o trabalho da polícia, ao invés de ajudar.
A contratação deve ser formalizada
O chefe da SI explica que quando a pessoa contratar um vigia particular para cuidar de seu bem material deve se certificar de quem será, buscando dados e verificando sua idoneidade. O mesmo é indicado para empresas que fornecem o serviço, cuja verificação da legalidade pode ser feita na prefeitura. Paulinho afirma que dados como o número do telefone e o endereço devem estar em fácil acesso para quando for preciso entrar em contato com o vigia. Acordos verbais devem ser evitados mesmo com pessoas conhecidas. O indicado na visão do policial é sempre elaborar um contrato definindo deveres e obrigações de cada um. Em caso de empresas deve-se solicitar dados pessoais dos funcionários dos rodízios para conhecer a pessoa que está observando sua casa.
“Empresas” trabalham sem fiscalização
Para trabalhar com zeladoria em Lajeado é preciso que a pessoa interessada cadastre sua empresa na Secretaria Municipal da Fazenda como prestadora de serviços, em que são solicitados alvará da Brigada Militar, documentos pessoais e empresariais. O alvará é concedido pelo Grupo de Supervisão e Vigilância de Porto Alegre, para o qual a pessoa pagará uma taxa de R$ 2.018,40 pela autorização e mais R$ 24,22 para cada funcionário que prestar o serviço de zelador ter sua credencial. A autorização é renovada anualmente e as credenciais a cada dois anos. Não é solicitado curso de capacitação da empresa e dos funcionários para atuarem na área. Todo esse processo é ignorado tanto pelas pessoas que contratam como por aqueles que fiscalizam os serviços cobrados nas ruas da cidade. A justificativa do setor de fiscalização municipal é que as vistorias são feitas quando a comunidade traz a informação.
Trabalham armados e organizados
Guardas de empresas de vigilância quando têm autorização da Polícia Federal e BM podem trabalhar armados. É o caso de uma empresa de Santa Cruz do Sul que possui filial em Lajeado, na qual os profissionais passam por uma classificação psicológica, cursos e avaliação mensal para atuarem na área. Conforme o gerente Fernando Luis Engler, as empresas clandestinas não têm a mesma organização e suporte de uma empresa avalizada. Conforme ele, há diversas formas tecnológicas de prevenção, e de contratação de uma pessoa. Ele explica que a empresa tem um sistema de segurança com câmeras que são instaladas nas lojas e podem ser monitoradas em casa ou no próprio celular com a internet, a partir de um código fornecido apenas para o cliente.