Foi com a mesma serenidade com a qual comandou a Diocese de Santa Cruz do Sul por 24 anos que o bispo Dom Sinésio anunciou nesta terça-feira, que o seu substituto está definido. No entanto, o mistério que se arrasta desde setembro de 2009, quando o bispo renunciou por ter completado 75 anos, deverá prosseguir até o momento do anúncio, que ocorrerá neste ano.“Não posso afirmar quando ocorre a mudança, e quem será o meu substituto”, disse ele, com um tom de bom humor e sentimento de missão cumprida. São três nomes cotados para o cargo: Dom Gentil Delazeri, natural de Encantado, e hoje bispo da Diocese de Sinope; Dom Paulo Conte, também de Encantado; e Dom Gílio Felício, de Sério. Destes, o primeiro é o mais cotado para assumir a Diocese de Santa Cruz do Sul, fundada em 1959, e que hoje conta com 82 padres, atendendo 50 paróquias em 47 municípios.
Dom Sinésio prefere não falar em prazos para sua sucessão, e apenas insinua que ela ocorrerá numa quarta-feira, dia em que a cidade de Roma, na Itália, onde localiza-se o Vaticano, divulga os novos bispos. Ele garante que continuará trabalhando como bispo, mas que começará a exercer sua verdadeira vocação. “Minha vocação é operária, e não de comandar. Mas fiz todo meu trabalho com muita alegria”, afirma. Ele conta que já recebeu diversos convites para seguir trabalhando em outras dioceses, mas que ainda não decidiu seu futuro. Sobre as leis de sucessão da igreja católica, onde o bispo deve deixar a função ao completar 75 anos, Dom Sinésio considera justa e importante para a renovação da igreja. “Acho importante a aparição de novas idéias, novos pensamentos. Assim a igreja se recicla e cresce”, diz.
Pedofilia no mundo religioso
Sobre os escândalos envolvendo casos de padres com o crime de pedofilia, Dom Sinésio diz que o entendimento da igreja é que se trata de um pecado e de um crime. “Nossa visão é a mesma da justiça comum”, diz. Ele manifesta que esse não é um problema que atinge apenas a igreja católica, mas sim toda a humanidade, e que por se tratar de um padre, o respaldo e a divulgação tornam-se mais chocantes. Segundo o bispo, isso é resultado de uma nova realidade em que a sociedade está policiando mais as igrejas. “Isso pode ser bom para que aconteça uma purificação interna”, salienta, acrescentando que a diocese confia totalmente em seus padres.
Crise da igreja católica
Questionado sobre a recente crise mundial da igreja católica, que culmina na diminuição do número de padres, colaboradores e fiéis, Dom Sinésio se demonstra tranquilo em relação ao assunto, e crê numa possível conspiração armada contra a sua religião. Segundo ele, por se tratar de uma igreja com grande poder de convencimento e consistente, atrai a inimizade de ateus e intelectuais. “É o capitalismo e o materialismo que estão tentando sobressair à religião. Organizados, eles estão querendo desmistificar a imagem da igreja”, avalia. Ele diz que não acredita numa perda no número de fiéis, e para isso, cita um exemplo ocorrido nos Estados Unidos, onde após cinco anos de uma crise parecida, hoje a igreja católica aparece como a que mais cresce naquele país.
Sobre a diminuição no número de coroinhas, ele acredita que depende muito dos métodos utilizados pelos responsáveis das paróquias. Segundo Dom Sinésio, é preciso uma reformulação para que a igreja acompanhe o mundo moderno e faça da religião uma opção prazerosa para os jovens fiéis. Segundo ele, existem padres que são bons e maus instrutores, e isso reflete no contingente de fiéis. A respeito de padres que deixam a batina, ele afirma ser um processo normal, e fácil de ser resolvido. “Caso a pessoa perceba que não consegue mais seguir atuando, ele pede para sair. Segue padre, mas dispensado de realizar suas funções”, observa, acrescentando que estas mudanças servem para que haja uma purificação da igreja, e para que esta possa renovar sua confiança.
Foto Rodrigo Martini