Os cinco centros de atendimento para usuários de crack na cidade estão lotados e com dificuldades de manterem seus atendimentos devido ao rigor da vigilância sanitária. Mesmo com resistência de alguns integrantes do sistema de saúde pública, técnicos devem se reunir esta semana para discutir formas de adequar os locais de tratamento. A intenção é que as entidades recebam auxílio financeiro do estado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para atender mais pessoas, visto que na região nenhuma comunidade terapêutica recebe dinheiro do SUS, porque não possuem adequação dos ambientes. Mesmo que o estado tenha encerrado o processo de seleção para 2010, a 16ª Coordenadoria de Saúde pretende encontrar uma maneira de auxiliar os centros e enquadrá-los nas exigências do governo, que atualmente custeia R$ 1 mil por mês para cada paciente internado em comunidades terapêuticas filiadas ao SUS.
As discussões sobre tratamento para usuários de crack ocorreram na segunda-feira pela manhã em reunião do Fórum da Drogadição realizado no Ministério Público de Lajeado, onde foi formada uma equipe técnica que visitará as comunidades terapêuticas Central, São Francisco, Shalon e Drogas Tô Fora. Na oportunidade, indicarão mudanças que deverão ser feitas nos locais para adesão do SUS e verificarão o interesse das comunidades em receber o recurso.
Atualmente, o viciado que quiser fazer tratamento em Lajeado precisa pagar R$ 50 diários ou então uma taxa que pode chegar a R$ 900. No entanto, existem aproximadamente apenas 170 vagas, somando os leitos das cinco entidades que recuperam drogados, muito aquém da necessidade. Conforme o promotor criminal e coordenador do Fórum da Drogadição, Sérgio Diefenbach, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que Lajeado possui cerca de duas mil pessoas em contato com drogas ilícitas.
“Precisamos que todos os serviços de saúde estejam ativos e em condições de atender quando o drogado os procura”, relata. Segundo ele, o drogado não esperará 15 dias por uma vaga. “Neste período ele pode matar outras pessoas para sustentar o vício”, acrescenta.
Central nega filiar-se ao SUS
Lopes mostra resistência para filiar-se ao SUS. Segundo ele, a clínica funciona há 24 anos sem os recursos do estado e todas as entidades que se adaptaram ao sistema faliram em poucos meses. Lopes diz que o estado atrasa os pagamentos e não paga o valor correspondente aos gastos de um paciente. A central possui 34 leitos disponíveis para desintoxicação, em que a pessoa fica internada até 14 dias e 80 leitos para tratamento a drogados em que a pessoa fica 28 dias.
Na terça-feira, a central registrou 88 internos, com vaga para mais dez. No momento não recebem mais auxílios da Prefeitura de Lajeado devido a impasses com vigilância sanitária. Em nove anos de recuperação de usuários de crack trataram quatro mil pessoas de 16 a 80 anos.
Clínica São Francisco quer SUS
A Clínica São Francisco manifesta-se a favor das visitas técnicas. Conforme a psicóloga Márcia Raquel Ribeiro Azevedo, o centro de recuperação possui 51 leitos com 37 deles preenchidos. A profissional esclarece que do total, 15 vagas são custeadas pela Prefeitura de Lajeado e sempre estão lotadas. O município gasta por mês quase R$ 900 por paciente, totalizando R$ 12.375 mil, o que ainda é insuficiente pela demanda.
Raquel explica que a clínica quer muito se filiar ao SUS, mas nunca foi inscrita, porque técnicos internos avaliaram que até o prédio deveria ser modificado para haver a negociação com o estado. “Aguardamos a visita técnica do município para ver no que podem nos ajudar”, diz.
Rompimento entre Central e município
Enquanto que Secretaria de Saúde reclama que não tem local para encaminhar os atendimentos do Centro de Atendimento Psicossocial para Álcool e Drogas (Caps-AD), leis e picuinhas entre município e clínica central impedem o avanço dos resultados de recuperação.
Há alguns meses a Central sofre com problemas de estrutura apontados pela vigilância sanitária do município. Conforme o presidente da Central, Roque Lopes, para reduzir custos na entidade foi construído um poço artesiano para que os internos usem a água para banho e para fazer comida, mas a vigilância proibiu o uso dela e disse que é necessário que a clínica tenha água tratada. Lopes afirma que foram feitas coletas na água do poço e estavam em plenas condições de uso. “Tentamos reduzir custos para manter os internos, mas a prefeitura nos quebrará.” O fato acarreta rompimento de contrato entre município e comunidade terapêutica. A Secretaria de Saúde pagava R$ 40 por paciente/dia.
Shalon precisa de recursos
Fundada há dois anos pela pastora e superintendente regional da igreja, Nair Lopes Mayerle, a comunidade terapêutica Shalon atende jovens usuários de crack durante nove ou doze meses de tratamento. O imóvel onde ocorre a terapia diária é alugado, a igreja que fica ao lado paga R$ 1,2 mil por mês para que os jovens fiquem internados. A capacidade de atendimento é para 24 usuários, mas hoje isso não é possível devido à falta de recursos para mantê-los.
Presidente mantém ONG
Mantida por um ex-usuário de drogas em recuperação, Dailor Gerhardt, a ONG Drogas Tô Fora é a única comunidade terapêutica da região que atende presidiários usuários de crack. Contudo, apenas oito das 14 vagas disponíveis estão preenchidas devido à falta de recursos da ONG que não recebe auxílio financeiro regular.
HBB não tem como receber pacientes
O diretor técnico do Hospital Bruno Born (HBB), Cláudio Klein, considera a instituição incapacitada para atender usuário de drogas. Com cinco leitos quase sempre lotados ele diz que usuários de crack apresentam comportamento agressivo e deveriam ter um local adaptado para a internação. Ele afirma que há intenção de criar uma área específica com terapia ocupacional, mas há empecilhos como espaço físico saturado.
Foto Carine Krüger